Na década de 70, Salvador fora contemplada com a agência mais luxuosa do Banco do Brasil. Construída na artéria principal do Comércio, Avenida Estados Unidos, defronte ao porto, é um prédio monumental, todo revestido de mármore branco, de nove andares, que, em 1977, abrigava em torno de 500 funcionários. No andar superior, situava-se o auditório e o restaurante, este palco do que irei agora narrar:
Escolhido para assistir o inspetor Mário Jofre, mineiro de quatro costados que inspecionava a CACEX da agência, lá um dia almoçávamos no restaurante, o que costumávamos fazer durante sua estada na Bahia.
Ele havia pedido um bife mal passado, mas um único bife, que ocuparia o prato inteiro, acostumado a comer toda vez em que presenciei.
E enquanto esperávamos as refeições, aproximou-se um colega com quem desenvolvi rápida conversação a propósito de astrologia, horóscopo, essas coisas que, houve um tempo, me interessaram.
O inspetor prestou alguma atenção ao assunto. Quando o colega se afastou, quis ele saber se eu possuía conhecimento de signos. Respondi que sim, apenas qualquer. Então veio perguntando à queima-roupa:
- Pois dia a qual signo eu pertenço? – isto na mesma ocasião chegava o garçom trazendo o prato repleto da carne que ele pedira.
- Bom, inspetor, pelo prazer que o senhor tem de comer carne quase viva, deve ser Leão – respondi no chute, sem muita demora.
Com a resposta, o homem quase esquece o alimento à sua frente, alardeando em voz alta as minhas qualidades de conhecedor de signos, etc., na maior das alegrias.
Nisso, bem naquele movimento, vem chegando Brito, o gerente adjunto responsável pelo pessoal da agência, dotado da fama de austero, executivo competente, típico das empresas grandes. Mediante a cena, o inspetor se dirigiu a ele já contando da minha capacidade em adivinhar o signo das pessoas, propagando uma fama recém adquirida.
Brito chegou calado e sentou à mesa conosco, sério, cara dura, sua característica, para, mantendo a pose, deflagrar:
- Sendo assim, diga qual o meu signo. - Imaginem a tal situação em que me vi, naquele momento, metido até o pescoço numa sinuca de bico.
Dentro de período curto, sem tergiversar, reuni os elementos que o juízo ofereceu e fui respondendo:
- Bom, deve ser Gêmeos ou Balança.
Quase no susto, vi a surpresa tomar de conta da fisionomia grave do gerente e escutei outra pergunta, agora admirada: - Por que Balança, por que Balança?
- Pelo seu jeito ponderado, equilibrado, de fazer o que faz – revidei, liberando a apreensão do imprevisto.
Nessa hora, terminava a refeição e, temendo novas indagações, cuidei de saltar fora, alegando compromissos de urgência. Vejam só, nem eu sabia dessas minhas qualidades de adivinho, demonstradas ao acaso da situação.
Um comentário:
emerson, você pode até ter poderes advinhatórios não desenvolvidos.
às vezes me acontece de antecipar pequenos acontecimentos cotidianos, só percebidos depois.
temos muitos PODERES que desconhecemos ou que não percebemos (acredito).
abraços.
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