As revistas semanais, os jornais e o noticiário televisivo, além das mesas de debate tentam traduzir o que ocorre no cerne do Oriente Médio. Aliás, o que ocorre no coração das sociedades de cultura islâmica, inclusive no norte da África. Tentam, mas por vezes apenas traduzem o próprio discurso que possuíam antes das revoltas populares e das quedas, qual um dominó, de velhos regimes autoritários na região.
O mais comum é a lembrança do fundamentalismo religioso iraniano. Um regime político baseado sobre a religião islâmica. E tocam a repetir chavões sem darem conta, simplesmente, que o Irã é a velha Pérsia, que não são Árabes e que o projeto de cultura de seu povo é muito mais firme do que meros fundamentalismos.
Por vezes repetem a questão islâmica sem perceberem que o Ocidente não teria o vigor do renascimento e da revolução da ciência, técnica e capital sem a emergência daquela cultura no Oriente Médio. Este norte um tanto helênico do Ocidente não existiria sem a preservação das bibliotecas e pela força dos pensadores do Islã.
Como de hábito repetimos os conceitos de outros, ouvidos e absorvidos nos noticiários como se nossos fossem, sem percebermos que, por vezes, apenas fazemos a lengalenga das tensões entre os EUA com o Sionismo por um lado e o mundo islâmico pelo outro. Vejam o atoleiro do Afeganistão, ali onde os ocidentais encalharam, sem perceberem que aquelas sociedades tribais não são superáveis apenas por estradas, tanques e helicópteros, que elas vão tão longe, em aprendizado, como a rota da seda.
Olham para as revoltas populares nas ditaduras do oriente médio e norte da África esquecendo-se que há muito é prática naquela região as revoltas populares. Esqueceram-se dos movimentos populares durante o colonialismo europeu da região, dos movimentos de libertação e das revoltas deste o Iêmen, Arábia, esquecem de Nasser no Egito, de tantas lutas populares que permearam a região entre a década de 50 e 70.
Precisamos acompanhar estas revoltas, pois terão grandes repercussões sobre a história contemporânea. Talvez sejam mais importantes do que aquilo que nos anos 90 aconteceu nas ex-repúblicas soviéticas e em várias áreas do leste europeu. Estamos novamente nas calhas de dois mares fundamentais: o mediterrâneo e o vermelho. Novamente as tensões pelo petróleo, o jogo das grandes potências, a angústia do amanhã sem as reservas energéticas a mover a grande máquina produtiva do presente.
O calor das revoltas no mundo islâmico ainda bem que acontece, para os europeus, no fim do seu inverno quase glacial. Mas isso é sazonal: depois virá o frio e a necessidade de mais energia a aquecer os lares do hemisfério norte tão assolado pela crise do capitalismo financeiro.
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