TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 5 de julho de 2011

O conflito das duas naturezas - Emerson Monteiro

Vezes outras e imaginava o que aconteceria no íntimo dos que escolhem trilhar a vida religiosa. Deixar de lado o glamour desse filão do corpo e da carne, e entrar nos universos do imponderável absoluto. Largar as paixões, as imprevisões saborosas dos sentidos, os devaneios da satisfação imediata, e mergulhar, sem retorno, sob o manto desconhecido das aspirações profundas, inescrutáveis, do mistério divino.

Poucos dias atrás, numa folhinha de calendário li citação do jornalista e político Artur da Távola de que opção não é escolha, é renúncia. Dada tal veracidade, repito a frase, pois noto quanta renúncia existirá nas opções que se fazem no decorrer das jornadas deste chão. Ninguém trocará de lugar que não tenha de largar o sonho dos lugares antigos, pois optar implica abandonar as outras possibilidades deixadas para trás.

Ao resolver seguir o percurso da renúncia, há méritos. A prática do casamento, por exemplo, define bem tais avaliações. Ali nubentes fecham as portas das histórias individuais do que poderiam ser e abrem as portas do que acontecerá, viagem só de ida, conquanto zerem o passado a fim de começar outro presente.

Nisso, as duas naturezas, de voltar os olhos para as virtudes, que significará desistir das ilusões e dos vícios, e decidir andar certo; adeus às torturas. Eis o motivo da afirmação bíblica que ninguém servirá a dois senhores.

A alegria da carne cumpre apetites físicos fugazes, charmes da juventude, nas altas voltagens dos fliperamas das festas. Ao passo que a alegria do religioso traz o pouso das luzes suaves nas afastadas capelas, longe do burburinho de multidões infebrecidas.

Parte-se do princípio de que a virtude cruzará portas estreitas, ao tempo em que largas são as portas da perdição... Perdição face ao panorama espiritual fervoroso do outro aspecto. Duas alegrias distintas, o preço da vida física e suas emoções fantasiosas e velozes, e o custo sacrificante da imaterialidade, nos propósitos ideais da perfeição, desistência de tudo o que alimentava as saudades vencidas, escolha em si dos termos físicos rejeitados. Assunto semelhante a depositar tesouro onde a traça e a ferrugem não possam destruir, das orientações de Jesus.

A fronteira destas duas alegrias estabelece de modo particular as leis dos dois países vizinhos no campo das batalhas individuais. Padrões diferentes de práticas exigem, pois, autenticidade nos momento da grave decisão de seguir. E após o passo definitivo, a sorte resta lançada. Ainda lembro, para concluir, destas palavras: O castigo do vício é o próprio vício; o mérito da virtude é a própria virtude. Adeus às ilusões, em nome da Luz superior.

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