TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Weak Leaks em Matozinho


Matozinho , amigos, é uma espécie de umbigo ou cloaca do mundo. Nada de novidade acontece no planeta que já não tenha sido experimentado por lá. No 11 de Setembro , alguém lembrou imediatamente um atentado similar acontecido em terras matozenses: um funcionário descontente havia incendiado a fábrica de fogos de artifício de Juca Rasga-Lata, num atentado bastante parecido ao das Torres Gêmeas. Na queda do Boing da Air France, alguém recordou, de pronto, um episódio igual acontecido por ali: Codercino Socó era um funileiro inventivo e resolveu pôr no ar sua invenção inovadora, o primeiro Jumentoplano. Havia providenciado asas para um jegue e as fixou na cangalha do bicho, junto com um funil de flandres que adaptou no focinho da alimária, em feitio de Concorde. Depois levou o bicho para o alto da serra da Jurumenha , vendou-o e, junto com um co-piloto, na garupa, saltou com artefato voador de um despenhadeiro. O acidente foi terrível : pereceram o jumento, os dois comandantes e um bode que , displicentemente , passava embaixo do campo de aviação improvisado. Na queda do Sky-Lab , já havia acontecido algo parecido com um foguete construído por Juvenal Fogueteiro e que saiu doido pelos ares, carregando seu tripulante que nunca mais foi visto : o mocó de estimação de D. Erotildes Candéia.

Semana passada, no entanto, Matozinho pareceu extrapolar todas as expectativas de pioneirismo mundial. No Centro de Convenções da cidade – o Bar do Giba – o professor Alderiano Braveza, com ares doutorais, falou sobre o escândalo do momento: um tal de Weaks Leaks. Segundo ele, esse bicho era uma página na internet, que estava entregando os podres dos governos do mundo todo.

--- Nem D. Filo, meu povo, a maior fofoqueira dessa cidade, desatarraxou tanto desmantelo, tanto desmazelo. É tanta fofoca cabeluda, tanto lavamento de roupa suja, que só vendo !

Na seqüência, Alderiano teve que destrinchar que diabos era internet e como foi que vazou tanto esgoto mundo afora. Ganhara o professor um imediato ar de autoridade e importância, principalmente pela novidade que trazia aos comensais e bebessais do Bar do Giba. O sucesso, no entanto, durou poucos minutos. De repente, Jojó Fubuia, já com a voz meio engrolada, como se tivesse tido um ramo, gritou da ponta do balcão:

--- Isso num é novidade não , fessô, já aconteceu desse mesmo jeitinho aqui em Matozinho !

Todos riram, imaginando que Jojó estivesse tresvariando. Como, se ninguém nem sabia ali o que era essa tal de Internet e esse tal de “xililique” ? Estrategicamente, Fubuia deixou que todos discutissem suas versões pessoais, gozassem dele, como se se tratasse de delírio de bêbado. Depois, com a satisfação de político do PR em obra do DNIT, demonstrou a descoberta da verdade histórica. Muitos lembravam ali de Parsifal Rocha que fora, por muitos e muitos anos, Chefe da Agência dos Correios e Telégrafos de Matozinho, ou seja, chefe dele mesmo. Pois bem, desenterrou Jojó, o homem era discretíssimo, um barnabé a toda prova, dava para fazer confissão no lugar de Padre Arcelino. Rochinha era versadíssimo no Código Morse e o responsável direto pelo envio de telegramas de todos os interessados da região. Nunca se soube de uma história sequer que tivesse vazado dos Correios, através da boca de siri do nosso telegrafista. Em 1960, no entanto, vocês lembram da enchente do Rio Paranaporã, não é, pessoal ? Um inverno de lascar , desses de jia morrer afogada e sapo cururu gritar por bóia. Pois bem, continuou Fubuia, a água entrou de Correios adentro e carregou toda correspondência para dentro do Rio, lembram ? Quando as chuvas pararam um pouco, as águas foram baixando e os meninos caíram dentro do Paranaporã para tomar banho. Junto com eles, saltou Dudeca Morais, aprendiz de marinheiro na Capital e que estava de férias da caserna aqui em Matozinho. Em meio ao banho, aos caldos e cangapés, os meninos deram com uma ruma de fitas dos Correios, todas com enigmáticas escritas em Código Morse : traço, ponto, ponto, traço. A escrita era intraduzível para toda a população, menos para uma pessoa: Dudeca Morais, grumete e que, por questões de ofício, fora obrigado a aprender aquela ingrizia. Pois amigos, vejam como Matozinho é precoce, foi nesse dia mesmo que aqui aconteceu esse tal de Weaks Leaks e Dudeca se transformou no primeiro Julian Assange do universo. Pouco a pouco, ele começou a ler as fitas e a traduzir segredos impensáveis da vila.

Algumas correspondências eram até pitorescas como a de Rochinha, dando notícias de chuva na propriedade, para um tio: “Chuva fina nas Lajinhas, assinado Rochinha “. Um telegrama de Sinderval Bandalheira, o prefeito da cidade, encaminhado para um deputado, era claro : “Mande comissão combinada,construção do Grupo Escolar, só aceito mínimo 50 %”. Um outro do Padre , para o bispo, era terrível: “Sua traidora, você me paga !Nunca mais apresento coroinha para você, mulher gulosa”. Um telegrama de D. Filó, a fofoqueira, para uma tal de Generosa era , igualmente, impublicável: “Volta, malvada ! Minha horta quer teu cenourão!” . Alguns eram um pouco enigmáticos como o da beata Maroquinha para o sacristão Fefeu : “ A chama tá apagando, Fefeu, cadê seu maçarico?”

Segundo, Fubuia, as revelações do Weak Leak matozense, poderiam até ter ido mais longe, não fosse por uma das fitas em que Dudeca, ao ler, empalideceu e empacou. Saiu da água e no outro dia , sem quaisquer explicações, retornou à Marinha e não deu mais notícias. Um dos meninos banhistas guardou a tirinha e, muitos anos depois, ainda encafifado, indo à capital, pediu a um parente do Correio para traduzi-la. Só então se compreendeu: era de D. Gertrudes, mãe de Dudeca, endereçada a um certo Bosco, em São Paulo e dizia:

“Chico é pomba-lesaPT

Não sabe que não é o pai de DudecaPT

Venha terminar o serviçoVG

Seu nojentoPT”

Gegé


J. Flávio Vieira

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