TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Dom Quixote

Padre, perdoa-me
pois pequei.

Ultimamente venho seduzindo e molestando
todas as formiguinhas do quarto
todas as borboletas da pracinha
e até as ingênuas andorinhas
que chegam à varanda
eu as papo.

Padre, embora essa vida de desfrutes
idílios e sarros pareça um paraíso,
tu te enganas

pois ando melancólico,
dormindo tarde

mais solitário que um pé de meia
perdido debaixo da cama.

Padre, talvez seja minha sina
minha fortuna e meu carma
essa onda de penúria

mesmo tendo ao lado
as mais tesudinhas formigas
as mais sensuais borboletas
as mais gatas andorinhas

e não há um dia
em que eu não acorde
com uma formiguinha
mordendo meus lábios

e logo que desço à calçada
surgem como por enquanto
mil safadinhas borboletas.

Padre, nem com a lua alta
vivo em paz com minha insônia -

penso em ler um livro
ou simplesmente
olhar os furos
do teto

mas eis que entram pela janela do banheiro
duas irmãs gêmeas duas sapecas andorinhas.

Não é loucura, padre
já tardão da noite
fria madrugada

duas irmãs gêmeas
duas sapecas andorinhas.

Padre, aconselha-me
dá-me um rumo
purifica-me.

Não é mais do desejo da minha alma
seduzir e molestar formiguinhas,
borboletas e andorinhas.

Juro, padre,
quero morrer seco sem escrever um verso
se eu voltar a flertar e bolinar minhas meninas.

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