Se o universo é um movimento de transformação contínua (embora os profetas do princípio e do fim sejam fortes até na física das partículas) a vida humana, do ponto de vista dela que é o trabalho, é um processo neste movimento. Existe um amplo campo de transformações, seja ela dialógica ou dialética, seja ela ao acaso ou por necessidade, qual uma modernidade consumista ou uma pós-modernidade que a deseja sem mais história, a transformação continua no horizonte dos projetos prontos.
A tônica do movimento, até que alguém prove ao contrário, é aquele em que tudo que é sólido se desmancha no ar. Isso vem a respeito das hegemonias. A natureza intrínseca do movimento do capitalismo é a concentração de poder primeiro em classes e depois em corporações. Quando em classes havia uma correspondência social, antropológica e cultural mais palpável, com a corporação isso se perde, pois introduz a tecnoburocracia e os fundos sociais a maior parte formado entre trabalhadores.
De qualquer modo o processo capitalista necessita essencialmente do Estado como moderador da guerra de todos contra todos e ao necessitar deste, passa a ser ampliado pelo processo mais geral de quem não tem fundo social e nem por vezes emprego (veja não falo em trabalho este continua a ser a essência da vida, mas do emprego que é a capacidade de alguém pagar pelo seu trabalho de modo regular). O Estado nas sociedades urbanas mesmo privilegiando classes e corporações, continua a ser a instituição onde a política interfere.
Por isso mesmo o Estado que é a necessidade moderadora, é para a tecnoburocracia e para os grandes detentores de capitais das corporações ao mesmo tempo uma solução e um enorme problema. Isso especialmente após a segunda guerra mundial com os Estados Socialistas e a Social Democracia. O Estado de algum modo ao redistribuir riquezas, reduz a ferocidade do animal acumulativo das corporações.
O que aconteceu nos últimos 30 a 40 anos? Junto com a emergência dos direitos sociais e humanos, as corporações sem possibilidades de continuar no ritmo acumulativo de suas naturezas passaram a fazer um trabalho ideológico sistemático em relação ao poder redistributivo do próprio Estado. O autoritarismo foi uma das mais bem urdidas campanhas a tomar espaço político na sociedade de modo em geral. Assistindo à corrupção dos agentes, ao observar a violência policial, a perda de empregos, os desmandos de autoridades do Estado, ficou fácil para a sociedade ser levada ao conceito do Estado Mínimo do neoliberalismo a partir dos anos 80.
O Estado Mínimo passou a ser a “flexibilização” desejada pelas corporações e com excelentes estratégias da tecnoburocracia a acumulação disparou até o limite em que levou à fragilidade não apenas alguma corporação, mas a todo o sistema capitalista. Recente estudo do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, usando modelos matemáticos fez um painel do quem é quem nas corporações atuais em todo o mundo.
O mundo possui hoje 43.060 corporações transnacionais, mas apenas 1.318 destas corporações formam o núcleo central desta rede transnacional. Estas empresas possuem em média 20 conexões com outras corporações. Aí o estudo revelou algo mais surpreendente, embora este núcleo represente apenas 20% das receitas, ele controla as principais ações do tipo “blue chips” nos mercados de ações do mundo todo. Então a realidade nua e crua: este núcleo controla 60% de todas as vendas realizadas no mundo.
Prosseguindo o estudo chegou-se ao supremo da concentração: 147 transnacionais controlam 40% daquele núcleo central. Ora isso é politicamente muito pior do que apenas dizer que 1% das pessoas controla mais riquezas do que 50% das demais pessoas. Isso significa que com a inteligência da tecnoburocracia as riquezas do mundo são controladas por alguns agendes que combinam ações entre si. Então adeus democracia, estamos diante da pior das ditaduras. E o pior uma ditadura levando a humanidade ao desastre como já se verifica.
As empresas controlando o poder político é que nos apresenta este quadro. Mas sigamos que isso seja uma hipótese, é difícil imaginar uma direção política única quando existem 147 transnacionais disputando posições. Mas aí teremos que considerar duas evidências: um sistema desses tende à instabilidade, pois a acumulação de riquezas não é infinita e os recursos naturais são o seu limite e em segundo lugar, este núcleo efetivamente mantém o interesse comum de não mudar a própria rede.
Como as riquezas reais do mundo são aquelas que fazem o modelo atual de civilização consumista é aí que se entendem todas as “primaveras” do norte da África e todas rebeliões nas ruas de cidades em diversos continentes. Mesmo a evidente ação política de Estados nacionais com interesse no Petróleo como no Iraque e na Líbia, fica claro que o “custo” Iraque e Líbia irá aumentar pelo desejo de maior consumo daquele povo. Aí residirá a segunda onda de contradições no território destes países.
Mas afinal serão ondas nacionais e continentais, pois o centro mesmo da contradição é modelo “concentracionista” a que chegou o capitalismo global.
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