Se Madre Teresa de Calcutá usasse sua missão junto aos pobres da Guerra de Bangladesh para justificar atrocidades em nome do cristianismo ou para preservar o seu próprio poder, estaria derrubada a sua missão. Pois foi isso que uma recente entrevista da Revista Veja fez.
Trouxe à tona um torturador que se justifica e dar gargalhadas com as ameaças que fazia e a conseqüente confissão do torturado. O nome da “fera” Marcelo Paixão de Araujo e se sente, assim como por tabela a revista, plenamente justificado pela luta contra o comunismo. Finalmente a revista achou um torturador ideológico que acredita na tortura com instrumento eficaz.
O torturador, e a revista em seu papel de pregar uma “nova guerra fria”, até culpa a tibieza do general Geisel ao dizer que desconhecia a tortura ou que estivesse por trás de suas ordens. A tortura é matéria de ação, de estratégia de vitória e, portanto, estaria justificada.
Se no Brasil de fato tivesse havido um tribunal contra estes crimes, a justificativa não existiria. Até pode existir quem goste dos crimes nazistas, dos crimes de Stalin, de Mussolini, de Kadafi ou do seu bárbaro assassinato, mas não tem como não qualificar tais atos como crimes contra a humanidade.
É neste aspecto que se enreda a revista Veja ao imprimir em letras as gargalhadas do torturador. Se os EUA tivessem tido uma enorme crise social e política, todos os seus governos a partir dos anos 50 estariam sujeitos às mesmas condenações do Julgamento de Nuremberg, ou do julgamento de Adolf Eichmann em Israel ou do Tribunal Internacional agora com os genocidas da ex-iugoslávia.
A entrevista da Veja vem a comprovar o quanto a lei da Anistia prejudicou a recuperação democrática brasileira. Acontece que o Golpe Militar foi ilegítimo do ponto de vista político, uma ferida moral na sociedade brasileira e um assalto aos bens culturais do povo brasileiro.
Pessoas sem legitimidade alguma tomaram o poder, vilipendiaram a memória dos que prenderam, torturaram e exilaram. Usaram as mídias para destruir o patrimônio moral de inúmeros brasileiros, inclusive de líderes que apoiaram o golpe militar como Carlos Lacerda e Juscelino.
Fora alguns exemplos de jovens que pegaram em armas ou de alguns líderes desesperados da esquerda, o maior volume de torturas, de perseguições e desaparecimentos ocorreu sobre pessoas que eram oposicionistas ao regime, mas que jamais fizeram guerra armada contra as instituições armadas. Para esta grande maioria a saída do golpe era pela via política e não pela via armada.
Mas foram os políticos como Rubem Paiva que era um liberal ligado ao antigo partido socialista, nada tinha por ligação com qualquer articulação da guerra fria e que foi preso, torturado e morto por uma típica façanha de loucos em tática para sustentar suas ilegitimidades junto ao povo brasileiro.
As gargalhadas do torturador nos microfones da revista Veja nos deixa a certeza de que tem muita gente boa sendo envenenada por pequenas doses de um metal pesado que só mais tarde surgirá nas entranhas de suas almas como pesadelos terríveis sobre o futuro e sobre os outros brasileiros. Quem justificar seu ódio à esquerda por esta via há muito fugiu da via democrática. Assim como Madre Teresa fugiria se não fosse quem fosse.
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