Apesar de bastante desgastado em razão da aversão pela verdade (principalmente em anos de eleições), bem como da manifesta tendenciosidade (ou má vontade) para com a isenção (e em assuntos nem tão polêmicos assim), o Jornal Nacional, da Rede Globo, ainda é o “minuto mais caro” da televisão brasileira, em termos de patrocínios/faturamento (evidentemente que em razão do horário privilegiado, já que todos àquela hora se encontram em casa) embora a audiência já não seja a mesma de gloriosos tempos outros (presumivelmente, somente as transmissões futebolísticas alavanquem tanto o faturamento da empresa; no entanto, grandes eventos esportivos mundiais já não são privilégio da “Vênus Platinada”, já que as próximas Olimpíadas serão transmitidas com exclusividade pela Rede Record, embora a Copa do Mundo ainda permaneça com a Globo). Mas, não há de ser nada; devagar chegaremos lá...
Pois o Jornal Nacional, da segunda, 12.03.12, conseguiu a proeza de dedicar quase que todo um bloco do seu noticioso para anunciar, com pompa e circunstância, a “renúncia” do senhor Ricardo Teixeira, do comando da CBF. Só que com uma particularidade: de forma claramente tendenciosa, já que tomou por parâmetro o texto da carta-renúncia escrita pelo próprio, elevou-o aos píncaros da glória (mais de 100 títulos conquistados, sacrifício da própria saúde em prol da felicidade do povo e por aí vai) ao tempo em que o “pintou” como um sagaz e autêntico revolucionário das finanças (face o estratosférico crescimento das rendas da instituição, embora as federações a ela vinculadas vivam eternamente de pires na mão, à busca de alguma esmola da madrasta CBF).
Lamentavelmente, entretanto, a Globo omitiu ao distinto público a razão primeira do tal pedido de renúncia: as “cabeludérrimas” acusações de corrupção, de recebimento indevido de money, de tráfico de influência, de improbidade administrativa e por aí vai. Abaixo, um pequeno resumo:
“Voo da muamba” (1994): Na volta da seleção, após conquistar o tetra, Ricardo Teixeira pressionou a Receita Federal para que todos fossem autorizados a desembarcar do chamado “voo da muamba”, sem pagar imposto. É que, em meio às 17 toneladas de “muamba”, estariam “chopeiras”, que o presidente da CBF tentaria fazer entrar ilegalmente no país, a fim de instalar em um bar do qual era sócio, instalado no Jockey Clube, do Rio de Janeiro.
CPI do Futebol (2001): A CBF foi um dos alvos de CPI criada no Congresso Nacional para apurar desvios de recursos, evasão de divisas, sonegação e lavagem de dinheiro. Ricardo Teixeira foi um dos principais denunciados, sendo acusado de empréstimo irregular contraído de banco durante o Mundial de Clubes da Fifa de 2000, realizado no Brasil, além de operações supostamente fraudulentas envolvendo uma agência de turismo. A “bancada da bola” (vulgarmente conhecida por “deputados comprados”) barrou-a.
Ingressos para a Copa da Alemanha (2006): O Ministério Público denunciou Teixeira naquele ano, junto com o dono de uma empresa de turismo. A acusação era de crimes contra a ordem econômica. A empresa “Planeta Brasil” foi a única autorizada pela CBF a vender ingressos da Copa na Alemanha. A denúncia vinculava Teixeira e o dono da empresa à venda “casada” de ingressos e pacotes turísticos.
Amistoso Brasil x Portugal (2008): O jogo passou à história pelas denúncias de superfaturamento pelo governo do Distrito Federal para a organização do amistoso. A Polícia Civil do Distrito Federal apontou que Ricardo Teixeira recebia pagamentos mensais de R$ 10 mil (propina) de uma empresa até então desconhecida, criada e contratada unicamente para organizar o jogo.
Propina de empresa esportiva (2010): Em novembro daquele ano, Ricardo Teixeira foi acusado por um jornalista da rede britânica BBC de receber propina da empresa esportiva ISL. A denúncia sustenta que Teixeira e o ex-presidente da Fifa João Havelange (seu sogro) foram condenados na Suíca. A Fifa, por puro corporativismo (ou com receio da “coisa” feder muito e espraiar-se), optou por engavetar a denúncia.
Voto em eleição da Fifa (2011): Em maio do ano passado, Teixeira foi acusado de pedir propina para apoiar a candidatura da Inglaterra como sede da Copa do Mundo de 2018, eleição vencida pela Fifa. A acusação foi feita por David Triesman, ex-presidente da Federação Inglesa de Futebol.
Sabem como essa historia terminou ??? Como o distinto é reconhecidamente arrogante e prepotente, antes de divulgar sua carta-renúncia esnobou e gozou com a cara de todo mundo, ao convocar uma Assembléia Geral da CBF, onde os 27 “cordeirinhos” presidentes das federações estaduais o sufragaram por unanimidade como o dirigente apto a mais um mandato de quatro anos à frente da entidade. Só que, depois dali, temendo ter o passaporte retido e ser detido, Ricardão se “mandou” para o exterior, deixando para os áulicos a incumbência de comunicar sua saída.
Observa-se, pois, que no último ato de sua melancólica despedida, Teixeira não passou do que sempre foi no poder: um paspalhão covarde.
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