Alguns anos passados havia um blog em que o blogueiro saia
de dedo em riste ou até mesmo com o martelo dos juízes a vaticinar a verdade.
Confesso que a performance parecia-me algo assim como aqueles apresentadores de
televisão: o Ratinho e o Datena.
As tais verdades eram tão gritadas e em tons de indignação
que lembravam os traços da face de moralistas como Demóstenes Torres. Essas
lembranças vieram-me em face da verdade jornalista.
Ontem li um dos textos jornalísticos dos mais
representativos dos cuidados com a verdade que ultimamente tenho lido:
tratava-se de um texto de Jânio de Freitas na Folha de São Paulo noticiando que
uma alta autoridade de Israel negava que o Irã tivesse a intenção de fazer a
bomba atômica. No final ao sentir-se bem a mudança de ventos no governo de
Israel, o jornalista ainda aventava a possibilidade que autoridade israelense
tivesse a possibilidade de inibir preparos secretos do Premier para atacar o
Irã. Enfim, o jornalista pintava a verdade com todas as cores e tentava expor a
face oculta que por ventura houvesse.
O assunto da verdade é fundamental, pois tem sido o cobertor
sistemático dos fariseus e a desculpa preferida dos canalhas. A grande imprensa
joga com os fatos no limiar entre a verdade e suas manipulações de um modo a
ter o passe livre para inventar a verdade que lhe convém. Mas a sociedade assim
mesmo quer saber onde tem o nariz e qual estrada tomar com a verdade por
bússola. Ninguém quer ser guiado, por exemplo, pelos desejos do bicheiro Carlinhos
Cachoeira.
Hoje apareceu um
texto escrito por H. Michael Sweeney intitulado Uma
Cartilha da Desinformação em 25 passos. A cartilha foi desenvolvida a partir
das Treze Técnicas para Suprimir a Verdade de David Martin. Ela é uma tática
usada na solução de crimes de grandes repercussões públicas, usadas tanto em
tribunais como nos veículos de comunicação. A ação pública das mídias no
contexto de suas contradições políticas, econômicas, sociais e culturais
adjetivou a verdade em variações decorrentes do original: verdades veladas,
meias verdades, mentiras e supressão da verdade.
Como a informação não é uma mera técnica de origem e
destino, um seu valor ético intrínseco é a consonância com a verdade. Todas
aquelas adjetivações para a verdade são técnicas na verdade de desinformação.
Ou em outros termos de propaganda de interesses específicos com a intenção de
conquistar a sociedade para a livre ação de suas práticas.
Por isso o texto enumera as 25
táticas e subterfúgios funcionam para o interesse e pessoas ou grupos. Uma
ressalva, quando um criminoso é interrogado e nega seus crimes, ele está
procurando não se incriminar, isso é um dado humano. Mas a mídia nas sociedades
após o iluminismo não pode se albergar nesta conduta que é individual, uma vez que
o compromisso da informação é exatamente ser o que é, ou seja, a verdade.
Eis algumas táticas e subterfúgios. 1. Se você é uma figura pública na
mídia não ouça, não veja e não fale sobre a verdade. Se você não for informado
é por que não aconteceu. E é o subterfúgio do nunca ouvi dizer. 2. Mostre-se
incrédulo e indignado. Não discuta o principal, saia pela lateral acusando Cuba
ou a Venezuela, xingue quem ousou lhe trazer o assunto, é a tática do “Como
você se atreve!”. 3. Crie boateiros.
Evite discutir os problemas dizendo que tudo não passa de rumores e acusações que
visam perseguir alguém. Ao espalhar boatos com variações frágeis do problema,
especialmente na internet, isso ajuda a neutralizar a verdade. 5. Use um “espantalho”.
Encontre o até mesmo invente algo nos argumentos do adversário que seja
facilmente desmentido. Ou desvie-se so assunto, encontrando algum defeito na
fonte para que se possa desqualificá-la. Amplifique o seu significado de forma
que pareça desmentir todas as acusações, reais e as fabricada, enquanto na
verdade evita a discussão das questões reais. 5. Desvie os adversário através
de xingamentos e ridicularização. Esta tática é bastante nossa conhecida. Até
meu pai já foi alvo desta prática numa ação que sei não nasceu do suposto
autor, mas de um grupo de arrivistas que se escondem na velha política da
cidade. Isso vem quando os “argumentos” são irrespondíveis e o debate se torna
em jogar pedras no adversário: comunistas, bicha, e etc. 6. Bata e Corra. O
sujeito ataca e se manda para não ouvir a resposta. Isso é comum em fóruns e na
internet. Não quer ouvir a resposta para não ter que confrontar a versão do
outro, apenas deseja que permaneça a sua. 7. Questione os motivos. Isso é uma
típica distorção do que diz o outro, tentando demonstrar que sua fala esconde
tendências ou tem motivos ocultos. Isso evita discutir a questão e força o
acusador a ficar na defensiva. 8. Invoque autoridade. Essa vou reproduzir na
íntegra: “Reivindique para si mesmo autoridade ou se associe com autoridade e
apresente seu argumento com o “jargão” ou “minúcias” o suficiente para ilustrar
que você é “quem sabe”, e simplesmente diga que não é assim, sem discutir as
questões ou demonstrar concretamente o porquê ou citar fontes.” 9. Banque o
Idiota. Negue as questões têm qualquer credibilidade, afirmem que não fazem
sentido, que existem provas, tenha lógica e assim por diante, sempre misturando
tudo a ponto de obter o máximo efeito 10. Associe as acusações do adversário
com notícias antigas com o objetivo de tornarem as acusações uma mera repetição de um assunto já resolvido.
11. Estabeleça posições em que você pode retroceder. Isso reque uma boa
preparação: primeiro levante uma questão menor e depois confesse com
sinceridade que esse erro inocente e que os adversários usaram para simplesmente
destruí-lo com a amplificação de uma coisa menor. Essa é a tática de ganhar a
simpatia do aparentar jogar limpo e de reconhecer seus erros. 12. Enigmas não
têm solução. Pegue a cadeia de eventos do fato e construa uma verdade bastante
complexa de modo que não se possa decifrá-lo. Isso leva as pessoas a perderem o
interesse pelo assunto. 13. Lógica da “Alice no País das Maravilhas”. Não
debata as questões, use um raciocínio de trás para frente como se utilizasse
uma lógica dedutiva de modo a não usar nenhum fato material real. 14. Exija
soluções completas. Isso é uma forma de dar um ponto final a determinados
assuntos. 15. Encaixe os fatos em conclusões alternativas. 16. Desapareça com
provas e testemunhas. Se elas não existirem, não existe fato, e você não terá
de resolver o problema. 17. Mude de Assunto. A tática é ainda melhor se a mudança
levar os oponentes a querer discutir o novo assunto. 18. Emotive, antagonize e
incite os oponentes. Se não pode fazer mais nada repreenda e insulte os seus
adversários e os leve a respostas emocionais que possam fazê-los parecer tolos
e emotivos, o que geralmente tornam o seu material um pouco menos coerente. 19.
Ignorar a prova apresentada e exija provas impossíveis. Esta é antiga. 20.
Falsas Provas. Isso significa introduzir novos fatos ou pistas para conflitar
as apresentadas com o adversário. 21. Chame um Grande Júri, Promotoria Especial
ou outro organismo habilitado para investigações. Subverta o processo para seu
próprio benefício e efetivamente neutralize todas as questões sensíveis, sem
uma discussão aberta. 22. Fabrique uma nova verdade. Crie seus próprios
peritos, grupos, autores, líderes ou influencie os existente para seguirem-no novos
caminhos. 23. Crie distrações maiores. Crie notícias mais importante (ou as
trate como tal) para distrair as multidões. 24. Silencie os críticos. Aí a
práticas são as piores, inclusive a morte, a chantagem, a destruição do seu
caráter e assim por diante. 25. Desapareça. “Se você é um portador de segredos
importantes relacionados a algum crime ou conspiração e você acha que o calor
está ficando muito quente, para evitar os problemas, desapareça.”
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