Nas eleições de 1950 disputava a Presidência da República
Getúlio Vargas e a UDN reviveu o Brigadeiro Eduardo Gomes que já havia perdido
para Dutra na eleição passada. Num discurso no Paraná o Brigadeiro disse que
não precisava dos “votos dessa malta”. Foi o suficiente para os adversários
getulistas espalharam a frase “é bonito e é solteiro, mas não quer o voto do
marmiteiro”. Foi uma frase arrasadora para a campanha do brigadeiro. Quando o
Brigadeiro falou em malta queria dizer bando, grupo de pessoas de condições
inferior, mas também é dicionariza com o mesmo sentido que se deu aos
trabalhadores rurais chamando-os de “boia-fria”.
E por que é fui lembrar isso? Por causa da música Zé Marmita
de Brasinha e Luiz Antônio: quatro horas da manhã / sai de casa o Zé Marmita / Pendurado
na porta do trem / Zé Marmita vai e vem. Quando ouvi esta música pela primeira
vez, o cambiteiro, o cortador de cana da minha terra, a cidade de Crato no
Ceará, sofria tanto quanto Zé Marmita. Mas eu não tinha a noção da vida
sofrida, engarrafada, apertada, sacolejada dos operários das grandes cidades do
Brasil.
O Crato não tinha isso. Espere aí um pouquinho que vou
contar uma história a mim passada pelo Lúcio Damasceno em Paracuru. Tempo ruim,
seco, as plantações secando e povo sofrendo. O vigário numa missa no dia de São
José fez um sermão cheio de esperança num milagre e que a chuva viesse. Na
primeira fila, cambaleando, já naquelas horas da manhã tomara muitas, um bêbado
respondeu bem alto: mas não vem! Foi aquele clima na igreja. O padre repetiu
outra esperança e o bêbado: mas não vem! No terceiro “mas não vem!” o padre se
virou para o sacristão e pediu que ele fosse chamar o delegado que o bêbado
estava atrapalhando a liturgia. O sacristão se movendo e o olhar bêbado acompanhando
os passos dele até a porta da igreja. Quando o sacristão passou pela porta ele
disse bem alto: esse vem! E se mandou.
Quer dizer o Crato não tinha isso, mas hoje tem! E esse povo
vota. Tem noção do que é viver a dureza das poucas fábricas da cidade, mas elas
existem. É preciso conversar, dialogar, ouvir seus sentimentos, se eles
quiserem e tiverem entusiasmo pela voz que lhe ouve: a chuva vem! O tempo muda.
Muda a cidade. O Crato só tem salvação pelo Crato mesmo.
Sem voto de cabresto. Sem fisiologismo. Sem compra de votos.
Sem engano ao eleitor. Mas isso tem! Tem que haver uma Campanha para mudar a
cidade, tem que começar pelo orgulho do povo, fazendo sentir que a cidade só
tem saída pela vontade dele. E a vontade
do povo não apenas se ouve nas urnas das próximas eleições. A vontade tem que
ser durante toda a gestão: nos conselhos, nas audiências públicas, no
compromisso cotidiano, ouvindo, olhando o que ocorre e modificando o quê é
necessário modificar.
Hoje o dia seguiu ameno e parece que o povo da cidade não
tem vontade sobre o próprio destino. Mas isso tem!
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