Pois é, amigos ! Todo cuidado é pouco! Está aberta a
temporada dos sorrisos epidêmicos, dos abraços compulsivos, da simpatia
desvairada, da solidariedade a todo preço! É assim, sempre, o período
eleitoral. Imaginem quatro candidatos a prefeito, quatro a vice, mais de
duzentos a vereador, todos eles acompanhados dos seus cabos eleitorais e mais os
respectivos babões e puxa-sacos a tiracolo. Nos próximos dois meses, é preciso se
precaver. Qualquer festinha de bairro, qualquer aniversárioou casamento é um verdadeiro perigo. De repente chegará a
avalanche de sorrisos de manequim, de conversa aveludada , de tapinha nas
costas. É preciso rezar para não se perder nenhum ente querido nestes próximos
sessenta dias. Velório é o habitat natural de político em vésperas de eleição.
Ciço de Munda, um mestre de tamanco do Cipó dos Tomaz, quase morre nestes dias.
Perdeu o pai de uma congestão e, humilde, providenciou o velório conforme suas
condições. O problema é que Ciço tem vinte e cinco votos, digo, irmãos. A
tragédia veio daí. Passou toda a noite recebendo abraço e tapas nas costas de
mais de duzentos candidatos e respectivos baba-ovos. Só de caixão de defunto
recebeu mais de uma dúzia. Depois do espancamento político, nem pode comparecer ao enterro pois teve que
se internar para tratar das machucaduras.
Daqui
a pouco começará o Programa Eleitoral: o melhor humorístico do Rádio e da
Televisão brasileiros. Os discursos serão hilários. Os programas de cada Partido
parece até que foram copiados um dos outros: todos extremamente avançados e com
profundo cunho socialista. E as promessas jorrarão como um tsunami. Ao que
parece, a campanha não terá muita lisura
, não. Basta ver o vandalismo na Praça da Sé recém inaugurada e o incêndio no
galpão de transportes da Prefeitura. Tudo levando a crer que a sabotagem tem
íntima ligação com algumas facções políticas
antagônicas neste período eleitoreiro. Por
que a disputa não pode ser mais interessante? O lado B reformou uma praça ? O
lado A constrói outra mais bonita num bairro. Que a guerra seja de realizações
e não de incêndio e demolições ! Isso é de uma baixaria que dá engulhos. Com a
visível decadência do Crato frente a outros municípios do Cariri, ficamos
perdidos perguntando : como despencamos neste desfiladeiro? Os juazeirenses já
brincam chamando nossa cidade de Latinha . Quando se pergunta o porquê, eles
didaticamente explicam : Lá tinha Sesi, Lá tinha DETRAN, Lá tinha Concessionárias,
Lá tinha SESEC. Como a hecatombe tem
muitas raízes na Política, vem a pergunta inevitável : Como escolher em meio a tantos candidatos sem qualquer
qualificação e, mais, provenientes de partidos que são meros ajuntados de interesses,
sem qualquer plataforma programática confiável? -- Deve está se perguntando o leitor. E quem
diabo é que sabe, amigos? Mais fácil entender a cabeça de mulher com TPM ou resolver a briga de
israelense e palestino. Mas aqui vão algumas dicas, a quem interessar possa,
para ajudar a separar o feijão dos escolhos.
A
primeira questão é lembrar que o voto é um ato político. Não se deve votar,
pois, porque o candidato é bonitinho, simpático, companheiro de trabalho, é meu familiar, meu
amigo pessoal. Não estamos escolhendo marido, esposa, misses, nem pariceiros.
Devemos votar em uma proposta capaz de melhorar o perfil da nossa cidade, de
aperfeiçoar os horizontes coletivos da nossa Vila. O candidato é apenas uma
pequena peça nesse quebra-cabeças. Se você privilegia esse ou aquele político pensando em resolver alguma pendência sua,
pessoal, depois não tem o direito de reclamar quando o eleito resolver também
solucionar só as dele e deixando você sozinho na Latinha.
A
segunda dica diz respeito ao uso do poder econômico no pleito. Diz-se sempre que sem dinheiro não se ganha
eleição. Pois bem, as absurdas verbas gastas neste período vêm de onde? A quem
interessa que o candidato A ou B, vença, investindo milhões e milhões nas Campanhas ? A derrama de grana neste
período como será depois recuperada? Ou será que todos os políticos ricos são
filantropos ? No final, o dinheiro será
descontado, com certeza, dos cofres públicos. Ou seja, os candidatos
tentarão comprar seu voto com o dinheiro que é seu. Eles darão com uma mão e
puxarão com a outra. Se você estiver na pendura, receba, mas vote segundo a sua
consciência. Se isso não é ético, lembre-se: esta palavra não existe em
Política brasileira. Quanto mais rica a campanha maior o risco, meu amigo.
Lembre-se
ainda que o cargo de vereador faz parte do Poder Legislativo. Ou seja, vereador
é para fazer leis e fiscalizar as ações do Executivo. Qualquer “Zé Mané”, pois,
que apareça prometendo construir estradas, melhorar a Educação, resolver os
problemas da Saúde, é um mero farsante. Ele não tem esse poder. Como Tiririca ,está
querendo ir para Câmara para descobrir o que é que um vereador faz.
Se
devemos votar em propostas, observemos bem o cardápio. Todos darão o
diagnóstico dos males municipais bem direitinho : a Saúde está um caos,
precisamos melhorar a educação, é necessário dar segurança à população, faz-se
mister recuperar a força do Crato no cenário estadual, a Cultura está
totalmente orfã. Tudo bem ! O
diagnóstico está dado. Mas: quais as propostas exeqüíveis para mudar esse
cenário? Como se faz o tratamento ?Candidato que não tem propostas claras a discutir com a população, deve ser
esquecido. Candidato que fugir do debate , deve ser imediatamente excluído da
perspectiva do nosso voto. Se ele não quer deixar claro para seus eleitores
suas intenções agora, imagine depois quando for eleito.
Os
partidos são tão parecidos nas suas deformidades que pode ser difícil optar por
este ou aquele. Pois bem, escolhamos aquele candidato que nos parece trazer a
melhor proposta para minimizar os problemas coletivos da cidade. E mais, que tenha uma folha corrida ao menos
suportável. Observemos também quem são seus acompanhantes, pois interesses
mútuos os unem. Por mais ojeriza que por acaso tenhamos com a Política, não tem
jeito, não tem como escapar dela. É com ela que poderemos transformar o caos em
que estamos metidos ou, com nossa franca participação, ativa ou passiva, aprofundar
o abismo em que fomos pouco a pouco mergulhando. Está em nossas mãos e na nossa
consciência o destino da nossa querida Latinha. Quem sabe não brotarão flores ?
J. Flávio Vieira
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