Quando o Brasil se prepara para sediar a Copa do Mundo
em 2016, bate-nos aquela memória
nostálgica dos anos dourados do futebol cratense. Terá sido, com certeza, o
histórico vitorioso da nossa Seleção nas Copas das décadas 50 e 60 que estimulou a juventude da época a se ligar mais
umbilicalmente à bola, aqui na cidade de Frei Carlos. O advento deste esporte
tão querido dos brasileiros, por aqui, no entanto, remonta quase aos primeiros vagidos desta modalidade esportiva
em Pindorama.
Reza
a tradição que o futebol chegou ao
Brasil pelos pés de Charles Miller, um brasileiro que indo estudar em Londres,
aí por volta de 1894, trouxe ao Brasil
duas bolas na bagagem e aqui fundou o primeiro Clube : O São Paulo Athletic
Club. No ano subseqüente, realizou-se o
primeiro jogo oficial em São Paulo . Na primeira década do Século XX, o esporte
se disseminou em muitos estados da
federação : Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Minas, Rio Grande do Sul,
Paraná.
O
Crato, uma pulsante vila no Cariri cearense, demonstrou, mais uma vez seu
pioneirismo, quando, em 1919, foi fundada a nossa primeira agremiação esportiva—Crato Football Club--
com seu jogo inaugural acontecido na Praça da Sé, em 19 de Junho daquele ano. O primeiro
presidente do Clube , Jorge Dmitri Dummar , dirigia as “Casas Pernambucanas” na cidade e
seu irmão , José Dummar, foi o árbitro da peleja. Há uma foto histórica do
time, guardada pelo nosso Florisval Matos, com a escalação histórica, naqueles
idos de 1919: José Carvalho,Gerson
Zabulon,Zezé Esmeraldo ( Pai de Dr Egberto Esmeraldo e avô da nossa atual
Secretária De Cultura),Duclerc Colares, Heli Norões, João Dummar, Waldemar
Garcia ( O Maior Nome Do Teatro Cearense No Século XX ), Mario Melo ( Instrutor Do Tiro De Guerra 118),
Francisco Teixeira (Pirrinto), Antonio Lima, Joaquim Alves De Matos .
Passaram-se
os anos, a voracidade do tempo triturou a memória de um período com poucos
registros imagéticos, mas permanece bem
presente ,em muitas gerações , o apogeu do futebol aqui em Crato. O Esporte, o
Satélite, o Votoran, a Volkswagen, o
Rebelde, a AABB...Craques inesquecíveis como Gledson, Reginaldo, Enoque,
Santana, Netinho, Luciano, Freyre, Paulo Cézar, Chico Curto, Dote, Gilton preenchem as mais doces memórias de um
tempo em que o futebol ia pouco a pouco se firmando como nosso mais
querido e reverenciado esporte .
Hoje,
com a disseminação absurda dos meios de comunicação, deixamos um pouco de olhar
para nosso umbigo. Voltamo-nos para a Aldeia Global. Interessa-nos, muito mais
, os conflitos externos que as nossas pobres e comezinhas atribulações. Há uma
câmara em cada canto, um olho mágico em cada parede, uma filmadora em cada
esquina. Há um arquivo infinito de imagens à disposição na Internet, tão
extenso quanto difícil de ser acessado e filtrado.
Perdemos
o glamour das jogadas sensacionais que ficaram gravadas apenas na memória e nos
corações de cada um de nós. Uma defesa sensacional de Gilton, num chute de
esquerda do Luciano; a placidez de gelo do Netinho, defendendo a bola na
pequena área, frente a sanha feroz do centroavante; a elegância real de Anduiá,
nosso Backenbauer, em pleno meio de campo, dominando a bola de cabeça erguida,
preparando o lançamento cirúrgico e certeiro para um Chico Curto que, como um
bólido ,picava louco para a área. Sem
TV, sem fotos, estas jogadas mágicas , como um vídeotape, saltam da minha
cabeça como se agora mesmo estivessem acontecendo no Campo do Esporte ou na
Quadra Bicentenário.
J. Flávio Vieira
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