Ai pelos anos 80 surgiu no panorama da fonografia nacional
um tipo de voz masculina que invertia o padrão prevalente na referida mídia. Na
verdade o disco é uma fonte maravilhosa para se observar como a história e o
papel social das pessoas se modificam através das mudanças na música e, claro,
dos intérpretes, seja pelos arranjos musicais, pelo instrumental ou pela voz
humana.
A mudança tem dois sentidos básicos: um geográfico e outro
cronológico. O geográfico é decorrência das migrações, das viagens
internacionais, da universalização do cinema, da indústria fonográfica junto
com o rádio e a televisão. Se fosse fazer uma imagem essa seria uma mudança
horizontal, que ocorre no território, tal qual foi a influência do Jazz, da
música brasileira, do tango Argentino, dos ritmos caribenhos e assim por diante
a influenciar povos à distância.
A outra mudança é cronológica e, como imagem, seria
vertical. Não no sentido hierárquico, mas no sentido de superação de intervalos
prevalentes no tempo tanto em estilos, como temas, ritmos e arranjos entre
outros. É a esta mudança que me refiro quando apontei a mudança na voz
masculina dos anos 80.
O vozeirão empostado fora superado ali pelos finais dos anos
60. Com a emergência das revoltas estudantis, das revoluções na América Latina
(e dos golpes políticos), o fim do colonialismo na África e Ásia, veio outro tipo
de voz de natureza libertária, iconoclasta, discursiva e convocatória. Era uma
voz mais coloquial, na aparência, própria para o palco e os eventos de massa. É
preciso considerar que numa sociedade ampla como a humana, os estilos
cronológicos se sobrepõem em simultaneidade, enquanto se tinham as vozes
masculinas especialmente em conjuntos na Jovem Guarda, igualmente havia a voz
da música brega popular com os “bolerões” ainda a recordar os anos 50 e 60.
Mas nos fixando nas vozes masculinas da canção brasileira
dos anos 80. Eram vozes de tino abrandado, na fronteira do padrão feminino, com
fraseado melódico de um menino bem educado e protegido pela família. Mesmo
quando tocavam assuntos críticos, o faziam como um bom menino diante da avó, a
servi-la com um copo de água para descolar um ingresso para o cinema.
Não era, portanto, o menino santo: havia um interesse
subjacente em seu “devotamento” familiar. E certamente não eram interesses
retardados, eram desejos a serem satisfeitos logo a seguir. Isso também não é uma
ilha brasileira, se buscarmos a melodia internacional, mesmo não romântica,
vamos encontrar tal padrão.
No caso brasileiro lembro alguns nomes: Biafra, Dalto,
Cassiano, Marquinhos Moura, Gilson, Hyldon, Marcos Sabino entre outros.
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