As culturas das grandes civilizações expressam toda a
grandeza, no sentido matemático, do que seja uma civilização, isso para
contrastar com as culturais tribais de sociedades coletoras e caçadoras ou
apenas agrícolas. Uma grande civilização normalmente abriga muito mais
contradições, pois as classes dominantes e dominadas são mais claras, a
expansão territorial é uma marca, a face guerreira por consequência e principalmente
a grande rede de produção e comércio. Por certo entendemos que nessa
complexidade dialética se encontra os povos dominados pelas expansões
territoriais.
Se pegarmos qualquer manifestação de uma cultura da grande
civilização vamos encontrar não só os elementos em conflito como, também, o
evoluir desta relação ao longo do tempo. Peguemos o cinema americano como
exemplo. Ele expressa toda fricção das classes sociais americanas, sua
expansão, seus ciclos econômicos, as transformações urbanas e rurais ao mesmo
tempo em que acentua, ao longo do tempo, o papel de fonte de discurso e
propaganda do “sonho americano” que é afinal o domínio das elites com a
natureza já imperial.
Por isso Hollywood é visto essencialmente como máquina de propaganda
da política imperial, fazendo por vezes um discurso escapista em relação à
realidade e, por outra, fazendo uma pregação ideológica da elite imperial
(incluindo instituições como a indústria, bancos, bolsas de valores, impérios
midiáticos, universidades etc.). Não estranhemos esta enorme capacidade de “articular”
vontades traduzidas numa inteligência estratégica nem sempre baseada em pessoas
isoladamente, especialmente grandes lideranças.
A evolução empresarial globalizada
evoluiu de tal modo que apenas 147 empresas dominam 40% das riquezas
controladas pelas maiores empresas em todo o mundo. Isso numa escala
globalizada é uma dimensão nunca dantes vista na história: 1% das empresas
controla uma rede estratégica inteira. Neste sentido até mesmo instituições
como o cinema de Hollywood já não é parte do projeto apenas americano, mas de
toda a ideologia e cultura forjada pelo comando estratégico de poucos agentes.
Embora os EUA sejam a grande fonte do modelo imperial e concentrador, o espírito
privatista domina a cultura globalizada especialmente pelas estruturas
bancárias que são os representantes majoritários daquele comando de apenas 1%
das maiores empresas do mundo. A “austeridade” em prol dos bancos pode gerar a
força política contraditória a esse comando privado do mundo e essa é a
perspectiva política da atual crise. Os desdobramentos nos dirão.
Dois filmes de produção americana
expressam muito bem o evoluir da cultura americana ao longo do século XX e
início do atual século. O primeiro é um filme que retrata o breve casamento de
Ernest Hemingway e Martha Gellhorn considerada a maior correspondente de guerra
americana. A essência desse filme é de um país em expansão, mas vivendo ainda uma
crise interna de pobreza que por isso mesmo tinha enorme simpatia pelos povos
do mundo em crise. Hemingway como escritor do “Por quem o Sinos Dobram” e
Gellhorn como correspondente da revista Collier´s na Guerra Civil Espanhola ainda
tinham o espírito de solidariedade social pelos povos. O jornalismo aceitava que
correspondentes como Gellhorn fizesse matérias arrasadoras sobre violações
humanas mesmo que isso contrariasse e ideologia imperial ou os acordos
estratégicos do grande capitalismo americano. O livro da Martha a Face da
Guerra relatada toda esta questão.
O outro filme é “O Informante” que
aparentemente mostra o poder avassalador da indústria do cigarro americana
quando surgiram as evidências que ela manipulava o tabaco para ampliar o vício
e que o consumo de cigarro era uma nova forma de epidemia. A indústria como é
da natureza de todo cinismo privado reagiu dizendo que não reconhecia o vício e
jogava toda a responsabilidade do fumar aos fumantes como se não houvesse essa
manipulação física e a de psicologia social através da propaganda e marketing.
O filme trata não apenas do poder
desta indústria, mas essencialmente demonstra o quanto a imprensa no ambiente
imperial, globalizado e privatista tornou-se a função ideológica da hegemonia
estratégica do núcleo (elite) imperial avassalador. A observação da cultura é
uma fonte inesgotável do aprendizado histórico e da fricção dialética.
Nenhum comentário:
Postar um comentário