Já nos reportamos aqui sobre as “homenagens” aos ídolos do futebol, música e cinema, por parte de pais “torcedores-fanáticos”, através da tributação, preferencialmente ao primogênito, do nome de algum deles. No entanto, um outro tipo de homenagem é muito comum entre genitores normalmente humildes e de parca cultura, e que merece ser lembrada: batizar o rebento com um nome estrangeiro, uma sopinha de letras de difícil pronúncia, capaz de “enrolar a língua” de qualquer um “metido a besta”, simplesmente porque se lhe parecia um nome “bonito”. Não importa a origem do nome, quem o usava (se se tratava de algum marginal ou uma autoridade constituída); enfim, o que valia era a “boniteza” da grafia e, principalmente, a dificuldade que os “analfabetos” tinham de pronunciá-lo.
Pois foi estribado em tais “conceitos revolucionários” que o pai de um nosso colega de trabalho resolveu batizá-lo com o pomposo nome de Zwínglio (aos desavisados, a principal referencia sobre, é o suíço Ulrich Zwínglio, teólogo e principal líder da reforma protestante naquele país; portanto, um nome de peso e com história).
Fato é que, de tanta ouvir o pai se “gabar” com os amigos do nome estrambótico e difícil que tinha posto nele, nosso amigo assimilou “ipsis litteris” e “lato sensu” todo aquele arrazoado laudatório e, ele próprio, a partir de uma certa idade, passou a se vangloriar do nome e, tal qual o nosso rei Roberto Carlos, hoje, a se achar “o cara”; ria às escancaras quando, ao fornecer informações para um cadastro qualquer nas lojas comerciais, observava a extrema dificuldades e a cara de espanto dos seus entrevistadores: “Por favor, senhor, Zu o quê mesmo ???”, lhe inquiriam. E nessa oportunidade, como se fora um paciente professor catedrático, fazia questão de citar, uma a uma, aquelas letras famosas, caprichando na dicção: Z – W – I – N – G – L – I - O. E se punha a rir com a cara de espanto daqueles “pobres-analfabetos”.
A adoração pelo próprio nome virou mais que mania, tornou-se uma verdadeira obsessão, tanto que, 200 anos antes de casar, ele já decidira que o primeiro filho receberia na pia batismal o mesmo nome do pai (afinal, era uma rara oportunidade de homenagear o avô (seu pai), que mesmo pouco letrado, tivera a idéia brilhante de arranjar-lhe um nome tão “porreta”).
Assim, constituiu-se uma tremenda surpresa o nascimento de uma robusta criança do sexo feminino; e agora, o que fazer, se perguntava atarantado; mas eis que, como num passe de mágica, “fiat lux”: absorveu o choque rapidamente através da adoção de uma solução simplória - “feminilizar” o próprio nome, trocando o “O” final pelo “A”, daí que a filha chamar-se-ia Zwínglia. Pronto, com ele ninguém podia, era um gênio.
Anos após, evidentemente que quando começou a se entender por gente (ao adolescer), a filha criou verdadeira ojeriza pelo próprio nome, a ponto de ter vergonha de citá-lo, em conversas particulares e, principalmente, em público. Virava uma fera-ferida quando o pai, na ânsia de mostrar ao mundo o que era um nome bonito, a chamava a quatro pulmões pelo nome exótico. Para ela, seu pai “tava doido varrido ou bêbado” quando decidiu batizá-la com aquela “praga de nome”. Pra encurtar a conversa e já que não tinha mesmo jeito, Zwínglia resolveu que a partir de então seria simplesmente “Zu”. E não admitia tergiversações. Se o pai não gostasse que fosse à PQP. Se possível, sem passagem de retorno.
Enquanto isso, na solidão da sua última morada, Ulrich Zwínglio ainda hoje deve estar se contorcendo e se questionando se merecia tal tipo de homenagem.
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