Contando a bacia do Rio
da Prata, dos Pampas, do Chaco, parte da bacia do Amazonas e a bacia do Orinoco
pela costa do Atlântico, os Espanhóis na América do Sul herdaram toda a costa
do Pacífico ou seja a metade do continente. Na verdade os portugueses levaram
uma vantagem relativa quando 8,5 milhões de quilômetros quadrados dos 17,8
quilômetros quadrados da América do Sul lhes pertenceu. Isso considerando os
aproximados 200 mil quilômetros quadrados ocupados pela Inglaterra, Holanda e
França no que se chamou Guianas.
A conquista espanhola
dos territórios do Pacífico, incluindo o vasto interior pela Cordilheira dos
Andes e até grandes trechos do território do Amazonas e toda a bacia do Orinoco
tem um centro galvanizador. Foi, como no México, a conquista dos Incas, do ouro
e da prata do Peru. Uma conquista tão poderoso que causou uma enorme inflação
na Europa de então e estando na raiz de grandes fomes e de uma crise camponesa
sem igual.
A expressão
institucional do domínio do Pacífico é o Vice-Reinado do Peru. Alías, a cidade
de Lima tem umas das mais belas Praças de Armas das Américas no estilo antigo
dos espanhóis. No botim das riquezas do Incas entre Pizarro e Diego de Almagro
este se rebela e, tomando conhecimento de que riquezas maiores existiriam ao
sul, atravessa os Andes desde Cuzco, perde grande parte de sua tropa por
hipotermia durante a travessia e chega ao vale do Capiapó onde acontece a
Guerra do Arauco com os nativos e, sendo Almagro perdedor, retorna ao Peru para
continuar a disputa com Pizarro. Isso aconteceu em 1536, mas a historiagrafia
chilena considera a sua descoberta como tendo ocorrido em 1520 pelo português
Fernão Dias de Magalhães na sua famosa circunavegação da terra.
Mas a história das
Américas não é a história da conquista do mercantilismo pura e simples. Ela é a
dinâmica que transforma os camponeses europeus e os nativos americanos num
caldo cultural do mercantilismo e sua empresa mercantil que se capitaliza
através da exportação de produtos minerais e agropecuário com seus derivados.
Nem os espanhóis eram este ser único como ainda não é hoje. O centro do reinado
era Castelha, mas a Galícia, a Catalunha e até os belicosos Bascos não são um
único cultural. Assim os nativos do Chile.
Como havia Castelha na
Península Ibérica a rivalizar com os Portugueses, no Chile os valorosos
Mapuches eram o núcleo de expressão frente à força cultural dos Incas ao norte.
Incas que dominaram os Aimaras, os Atacamenses (do Atacama) entre outros. Por
isso que a cultura de resistência chilena e peruana quando precisa avocar sua
alma americana fala num grande personagem chamado Túpac Yupanqui como símbolo
das lutas políticas de agora. Os Túpac eram os imperadores Incas.
Em 1540 Pedro de
Valdívia atravessa o Atacama, evita a rota da cordilheira feita por Almagro e
começa a guerrear com os nativos seguindo numa conquista rumo ao sul, fundando
cidades (na verdades pequenos fortes com agrupamento humano mínimo) e vai até
ao sul. Funda cidades como La Serena, Concepción, La Imperial, Valdívia entre
outras. Isso durou treze anos, quando em 1553 os Mapuches se rebelaram,
retomaram seu território e mataram Pedro de Valdívia. Fica na rebelião dos
povos oprimidos à força, a enaltação da memória de duas lideranças Mapuches:
Lautaro e Caupolicán.
Os espanhóis destacaram
para combater os Mapuches um fidalgo com nome florido: Garcia Hurtado de
Mendonza y Manriquez. Este tomou um tombo fenomenal dos Mapuches e resolveu-se
com a herança do vice-reinado do Peru. E foi aí que um espírito além das
amarras do conservadorismo a serviço da empresa mercantil enxergou depois do
pragmatismo da exploração e ouviu a humanidade nascida das franjas ricas da
costa chilena: a alma dos Mapuches.
Era um poeta-soldado,
que conseguia enxergar além da ponta ensanguentada de sua lança, que se chamava
Alonso de Ercilla y Zúniga e escreveu a primeira poesia épica americana chamada
La Araucana. No livro Dom Quixote de La Mancha, Cervantes escreve que La
Araucana era, então, uma das maiores poesias em verso heroico castelhano.
Identificado como um soldado,
Alonso Ercilla era na verdade de descendência fidalga, sendo seu pai um jurisconsulto
e o avô um senhor feudal. A mãe pertencia à nobreza e era dama de companhia da
rainha. Além de uma grande aprendizado formal, Ercilla viajou por toda a Europa
e pelas possessões espanholas. Acompanhou o príncipe Espanhol quando este foi a
Bruxelas tomar conta do ducado de Brabante. Estava em Londres acompanhante o
príncipe Felipe quando este foi casar-se com a herdeira inglesa e ali se tomou
conhecimento da resistência dos Mapuches em Arauco. Foi então que o poeta
embarcou para o Chile. Tinha, na ocasião, 21 anos de idade.
Alonso participou de
sete batalhas com os Mapuches e, inclusive, participou da conquista do estreito
de Magalhães. Junto a dez soldados atravessou o arquipélago de Aneudbox numa
pequena barcaça e entrou de terra adentro onde numa árvore escreveu esta
quadra:
Aqui
chegou, onde outro não há chegado,
Don
Alonso de Ercilla, que o primeiro
Em
um pequeno barco deslastrado,
Com
apenas dez, passou o desaguadeiro,
No
ano cinquenta e oito entrado,
Sobre
mil quinhentos por Fevereiro,
Às
duas da tarde, ao fim do dia,
Retornando
ao encontro da companhia.
E
eis um trecho do espírito Mapuche nos versos de Alonso:
Chile,
fértil província e assinalada
na
região Antártica famosa,
de
remotas nações respeitada
por
forte, principal e poderosa
a
gente que produz é tão granada,
tão
soberba, galharda e belicosa
que
não há sido por rei jamais regida,
nem
à estrangeiro domínio submetida.
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