Os recentes
acontecimentos de violência nas ruas de São Paulo têm um mérito incontestável.
Aproximar o Brasil de todas as manifestações que acontecem nos países em crise
assim como aconteceu com o movimento estudantil de 1968 (falo da aproximação
pela mobilização). Além do mais mexe na envelhecida geração de 68 que já não
consegue enxergar o momento com tanta clareza quanto via aquele de sua
juventude.
A tônica da análise
mesmo entre pessoas mais liberais é que o movimento gera uma perplexidade pela
falta de bandeiras. Que a liderança não nasceu de organizações políticas, mas
das redes sociais e que são muito jovens e “têm aparência frágil”. Que ele é
apenas um movimento para expor a “energia da juventude’. Não tem alvo algum, só
a sede de “mostrar a cara e participar’. São “avatares das redes sociais sem
ideologia”, além de não terem “bandeiras claras” quando as tem não possuem as
informações mínimas sobre os determinantes destas bandeiras.
Enfim os liberais
esperam que os jovens aprendam com a violência nas ruas que saibam isolar os
vândalos (sempre eles) e que tudo isso seja um exercício para formar os donos do
futuro político do país. Acrescento por conta e risco: são os futuros líderes
paulistanos que carregarão o futuro de todo este país? Não os jovens do Prouni,
os egressos do bolsa família do nordeste, mas esta “gente fina é outra coisa”?
Já para os autoritários
das direita a visão também é de perplexidade e carregada “in extremis” com a
análise desqualificadora dos radicais de classe média. Um parêntese: do mesmo
modo que classificavam no passados todos os universitários e secundaristas que
fizeram a mobilização contra a ditadura que para este “direitões” eram merecedores
da tortura e do extermínio feroz porque defendiam o comunismo soviético.
O que dizem se
assemelha no núcleo das ideias aos liberais e se distancia na centrífuga das
palavras. Para eles os jovens por todas as ruas do Brasil não têm uma raiz sociológica
para chamar-se movimento social, são grupos esquerdistas sem importância
política, têm prática fascista porque não têm expressão eleitoral (estão fora
do mercado – acrescento por similaridade); encenam a revolução para suas bases
que igual aos cristãos estão na eterna espera da queda do capitalismo que nunca
vem (e nem virá até ao fim dos tempos).
A direita acrescenta
mais alguns retoques ao perfil do Movimento do Passe Livre: o preço da passagem
é apenas um mote para que as bases se mobilizem pois razão alguma há para se
fazer a revolução contra o capitalismo. Por isso a radicalização destes grupos
se retroalimenta com o vandalismo, saques, violência de destruição do
patrimônio público e privado. E tem mais: a inteligência deste argumento que
parece ter uma certa titularidade acadêmica é de modo tão burra que parece um
ato de má fé. Argumenta que hoje não existe razão para fazer qualquer movimento
igual a este pois vivemos em plena democracia e não existe semelhança com os
anos 60 e 70.
Se este é o tipo de
professor nas nossas universidades, estamos todos perdidos. E as democracias
americanas, francesas, alemãs e italiana dos anos 60 deram conta da luta pelos
direitos civis? Por mais justiça social ou por acesso às universidades? Mais
uma vez estamos tomados pela incapacidade de entender o nosso tempo? Talvez
não, eles querem a capacidade de atacar as vítimas deste tempo.
As manifestações de rua
pelo mundo todo, inclusive derrubando governos, simultaneamente acontecidas na
periferia de guerras civis e das guerras imperiais e neocoloniais, além da
permanente tensão com as armas nucleares são o espelho desta história. Os
avatares das redes sociais e os vândalos não explicam nada. Basta viver nas
grandes cidades para se entender que há um abismo entre periferias de baixo
emprego e o centro que emprega e que absorve o conforto do dinheiro coletivo.
Esta é a contradição que ninguém procura entender. E para entender realidades
complexas é preciso despir-se de seus confortos e de suas fés nos modelos
vigentes.
Sinceramente: jamais
tivera a consciência tão nítida do quanto o conforto material amolece a
consciência de classe (falo dos liberais, a direita de classe média continua
igual em todas as idades).
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