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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A INDULGÊNCIA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Num ambiente em disputa a indulgência é seletiva e tende a ser rara. No limite mesmo do julgamento do chamado mensalão (AP 470) há uma questão de Caixa 2 inaceitável para a ordem tributária. Pela tecnicidade da justiça o Caixa 2 tem penas menos amargas para os réus do que aquelas da Ação Penal 470. Por isso o PT clama pelo Caixa 2, confessando fontes de financiamento não declaradas. Assim como todas as rendas por fora de impostos de profissionais da saúde, engenheiros, arquitetos, advogados e outras profissões liberais além de comerciantes, traficantes e segue numa lista infinita. Além das corrupções inconfessáveis e a indústria de lavar dinheiro que é o denominador comum de tudo isso.

As frequentes Notas de Esclarecimento se igualam em indignação contra a acusação ou suspeita, a defesa de suas ações expostas como suspeitas e a desqualificação da fonte e do meio de divulgação das mesmas. É tão frequente a igualdade entre elas que generalizam a suspeição em razão do discurso padronizado que as iguala. O suspeito termina por evidenciar-se como tal.

Mas estou falando da indulgência que do modo geral é um grande ato humano, esse ser terrestre que por reter o pensamento abstrato, a memória e ter a compulsão pela arte é tão especial e tão solitário em toda a biota planetária. Para nos compormos com indulgência: a matriz da palavra latina diz da entrega, da inclinação, propensão, do bom, benévolo, amoroso, terno, complacente, transigente. Como todas as palavras a indulgência vai de um extremo de aceitação ao da negação (dependente da história) entre seus significados. O bom é universalmente aceito, mas para moralistas e intolerantes a transigência e a complacência é um horror.

Então é que a indulgência como o atributo daquele com disposição para perdoar é inegavelmente inerente ao cristianismo. Especialmente ao Jesus humilhado, torturado e crucificado que se irradia como o perdão. “Mas num ambiente em disputa a indulgência e....” tudo o que já se disse. Não se espere para Genoíno, Dirceu ou Delúbio qualquer sentimento de indulgência natalina por parte de alguém que simpatiza com a direita ou com o PSDB e seus aliados.

Mas a indulgência não foi arrancada do dicionário deste referido alguém. Em seu universo afetivo, no seu patrimônio de aceitação, especialmente se membro de alguma denominação cristã, está lá de ponta a indulgência. O perdão. Aquele que nega ao inimigo ainda assim se encontra como uma reserva para sua sobrevivência diante de tantas suspeições e denúncias que o ambiente em disputa produz igual faz uma fábrica.


Mas precisamos encerrar esta nossa conversa: o Papa Francisco cogita, em princípio, acabar com a famigerada venda de indulgência da Igreja Católica que esteve na raiz da Reforma Luterana. E qual a indulgência que o Papa cogita abolir? Aquela que se tornou um comércio e fonte de renda para a Igreja: “no catolicismo, remissão total ou parcial das penas temporais cabíveis para pecados cometidos, que a igreja concede depois de os mesmo terem sido perdoados.”  

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