Uma das fontes mais frequente de revoltas populares nas
cidades se constitui no transporte coletivo. Ou chamado transporte público por
ser uma concessão pública.
As opções feitas no país privilegiando ônibus em detrimento
de trens e metrôs estão na raiz destas revoltas. Ruas engarrafadas, ônibus
precários, apinhados de passageiros no mais alto grau das temperaturas
tropicais e deslocamentos a poucos quilômetros por hora, um trabalhador pode
passar até seis horas do seu dia neste sistema.
Aí vem as tarifas. Quem mais longe vive, mas caro paga. São
tarifas controladas por organizações de donos de empresas, com tendência a
cartelizar, que financiam campanhas políticas e depois são beneficiados por
quem faz e quem cumpre as leis.
A revolta da vacina, contra a vacinação antivariólica aqui
no Rio de Janeiro, no ano de 1904, lá se vão 110 anos, teve como centro o
ataque aos bondes de então. Na época das eleições do Plano Cruzado, quando o
PMDB foi contemplado pelo maior calote eleitoral, aqui no Rio de Janeiro
elegeu-se Moreira Franco em disputa com o professor Darcy Ribeiro que pertencia
ao partido de Brizola.
Dias após a vitória, um juiz aloprado ajuizou o aumento das
passagens. No dia seguinte houve uma revolta popular incendiando ônibus no
centro da cidade, passeatas e tudo foi espontâneo. Na época a própria polícia
procurava as organizações sociais e políticas para que esta tentassem organizar
a revolta.
Portanto o que aconteceu aqui na quinta feira não foi mais
um ato de black blocs e nem uma revolta provocativa. O que aconteceu foi uma
revolta contra uma política de transporte de massa que só piora com a
especulação imobiliária e com a realocação espacial no emprego, levando as
oportunidades para longe de onde vivem os trabalhadores.
O assunto é grave e o prefeito do Rio de Janeiro acaba de
contribuir ao dar um aumento não dado em outras capitais, como, por exemplo,
São Paulo. E na quinta foi isso que ocorreu. Mais uma vez a intervenção da
Polícia Militar do Rio de Janeiro foi desastrosa.
Jogou a torto e direito bombas de efeito moral,
lacrimogênio, entre outros artefatos que levam ao desespero aos transeuntes que
apinham as ruas da cidade no horário de rush. Estamos falando num dos
territórios do Rio mais conhecidos da sua história como local das lutas
políticas (a Proclamação da República, o último comício de Jango etc.) e um dos
principais centros de distribuição de passageiros que é a Central do Brasil.
E com a morte cerebral do cinegrafista da Bandeirantes, o
resultado trágico desse procedimento de segurança pública fecha a conta em duas
mortes. Um trabalhador de rua, desesperado pelas bombas da polícia militar, em
correria pelas ruas foi atropelado por um ônibus e faleceu em consequência.
Hoje o país de cima a baixo vai pensar com dó sobre o
cinegrafistas e seus familiares, cumprindo seu trabalho e não vai falar do
trabalhador fazendo exatamente a mesma coisa. Aponta os dedos para as
manifestações, mas vai deixar de comentar a única ação mais relevante por ser
de escala maior e que deveria ter propósitos melhor que é aquela das forças de segurança.
Neste calor, more numa periferia urbana, sinta o desrespeito
dos transporte urbanos, com motorista e trocadores desempenhando os interesses
privados e não os coletivos, passando marcha, acelerando e freando como se
tivessem ódio do que fazem. Sinta na pele o que jamais sentirá no ar
condicionado do seu veículo que ocupa um espaço na rua muitas vezes maior que
você enquanto apenas é o único que ele transporta.
E para adoçar a piada dos revoltadas que são criminalizados
ofereço esta velha música do compositor baiano Gordurinha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário