“Moro num país
tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Mas que beleza!”
Os espaços formam territórios quando abençoados pelos
humanos. E os territórios se compõem de gente que abraça o tempo e o espaço e de
gente que pretende parar o tempo e prender o espaço.
Nesta semana, aqui no Rio de Janeiro, um funcionário
público, que trabalha numa repartição da Prefeitura da cidade, sob os efeitos
do intenso calor que superlativa este verão. André Amaral de 41 anos de idade,
casado, dirigiu-se ao trabalho no traje adequado ao calor e ao gênero: bermudas
e camisa leve.
Há quatro anos sua sala de trabalho não tem ar condicionado,
os funcionários fizeram uma vaquinha, compraram ventiladores, mas os ditos
foram roubados. André, então, foi barrado pela portaria de sua repartição. De
bermuda não pode.
Bom. Ele foi em casa, vestiu uma saia da mulher e retornou
ao expediente. Na portaria foi aquela saia justa. Mas o que dizer? Se as saias
são aceitas, por que não em homens? Pronto.
André virou notícia. Se deixou fotografar de saias em sua
sala de trabalho. A rede social espalhou o fato. E que fato?
A imbecilidade de um país tropical que ainda guarda hábitos
públicos inadequados ao povo e ao tempo no sentido meteorológico. Ontem o
prefeito permitiu o trabalho usando bermudas.
Só agora o fórum da
cidade permitiu que os advogados pudessem participar das audiência frente ao
Juiz usando camisa social, sem o detestável paletó e gravata.
Ontem, por volta de 15 horas (horário de verão), 40ºC de
temperatura, a italiana Sanda Biondo foi visitar a Academia Brasileira de
Letras, mas foi barrada na porta da biblioteca. Motivo: ela usava uma
comportada bermuda. De tão constrangida, escreveu para a coluna do Ancelmo Góis
do Globo e o assunto veio a público.
Acontece simplesmente que Sandra Biondo é a tradutora de
Raquel de Queiroz para o Italiano. Raquel foi a primeira mulher a receber o
fardão da Academia. Hoje saiu que, um constrangido Presidente, fez uma carta
convidando a senhora e que poderia vir de bermudas.
Pelo menos os conservadores precisam passar na alfândega da
história e pousar na realidade do território que pretendem habitar.
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