Acabando de
ler estas letras tudo pode acontecer, mesmo que o tédio da repetição nos
garanta o “controle do tempo e dos acontecimentos”. Na cultura popular a dúvida
é permanente especialmente quando se tenta marcar encontros no futuro, o nosso
povo responde: “se Deus quiser”. Demonstrando que algo pode acontecer e o
encontro não se realizar.
Não apenas
os traços pessoais, mas as circunstâncias históricas são determinantes do
comportamento na ocasião do acontecer. Assim como admirar a rapidez, a coragem,
a sagacidade e lucidez de um ato no tumulto do acontecimento. Sempre é muito
difícil separar o momento cultural da postura pessoal. São tão interpenetrados
que não se separam as atitudes pessoais da coletiva. O valente, o grande líder
é apenas o ponto do movimento geral de grandes momentos. Do comportamento geral
e coletivo.
Napoleão sem
a revolução burguesa, Lenin sem a revolução russa, Padre Cícero sem a crise
popular, Moisés sem o retorno do povo judeu e assim por diante sem a
denominação histórica não seriam o que foram. Observemos que o caminho é do
povo, o indivíduo que se distingue é apenas uma forma simbólica de fabular o
acontecimento.
Em 30 de
setembro de 1891, há 123 anos o General Georges Boulanger, militar francês,
chamado por Cleménceau (Georges Cleménceau líder político francês no final do
século XIX e durante a primeira guerra mundial) de aquele que “morreu como
sempre viveu, como um subtenente”, suicidou-se sobre o túmulo de sua amante
numa cidade perto de Bruxelas. E qual a fábula de Boulanger?
Boulanger
era ministro da guerra no governo Cleménceau num período em que a França
passava por uma baixa na sua moral em razão da derrota na guerra
Franco-Prussiana e em que a burguesia nacional vivia a mais bela ilusão de
classe eterna: a Belle Époque. A acomodação era a tônica da burguesia.
Mas
Boulanger era popular e a crise econômica que se desencadeou a partir da década
de 80 do século XIX, terminou por ampliar ainda mais o feitiço político pelo
general. Ele foi incensado e por isso mesmo demitido pelo Presidente da
República. Mas isso elevou a temperatura social e o povo partiu para colocar
Boulanger na sede da República, mesmo que numa ditadura de cunho bonapartista.
Acontece que
Boulanger ficou numa corda bamba e mesmo com os mandatários tendo abandonado o
poder da República ele não teve coragem ou a fé de ocupar o vácuo. Terminou
sendo ocupado por Pierre Tirard que pelo seu ministro do interior divulgou a
iminente prisão do General que se refugiou em Londres e depois na Bélgica.
Em Bruxelas
reencontrou-se com sua amada que passava pelos últimos momentos sofrendo de uma
tuberculose. Ela morreu nos braços do General em 16 julho de 1891. Dois meses
depois o General Georges Boulanger, a esperança da França, dá o último suspiro
sobre o túmulo do amor impossível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário