Quando setores da classe média brasileira, especialmente de
São Paulo, protestam como se carregassem todo o coração do povo eu fico a
imaginar. Quem não viu, nos acontecendo do 2015 pouca gente é testemunha, mas no
dia 23 de agosto de 1954 a fuzarca envolvendo a classe média brasileira,
especialmente a “lacerdista” (como categoria política explicativa), a mídia
nacional, os militares e setores do empresariado, a queda de Getúlio era uma
unanimidade nacional.
No dia seguinte, uma multidão jamais vista nas ruas do Rio,
furiosa, depredando jornais, querendo matar generais, era a revelação de que
unanimidades podem ser forjadas. Getúlio havia dado um tiro no coração e o povo
que se acuara diante da avalanche discursivo-mediática, explodiu em ódio aos
algozes do presidente. Este povo aí que foi à Paulista hoje à tarde, não fala
pelos corações dos brasileiros.
Mas é preciso reconhecer que há um processo
discursivo-mediático operando e que continuará o exercício. E isso significa
contra especificamente um partido, genericamente contra a esquerda e
fundamentalmente com ódio de classe. Mesmo que o caldo da crise econômica, que
as ações do imperialismo americano tenham interesses inconfessáveis no
financiamento de tão bem articulada campanha, especialmente nas redes sociais e
no WhatsSpp, a verdade é que há um “plus” operativo com núcleos bem
identificados: empresários, setores financeiros, a rede Globo, as organizações
Abril e, como sempre, as empresas de mídia com sede em São Paulo.
Por isso é preciso que reconheçamos: a partir de hoje a
política no Brasil será uma luta contínua visando um desfecho logicamente político.
Todo mundo fará seus cálculos. O que acontecerá neste desfecho segundo os
objetivos do programa político de cada partido e de setores da sociedade
(incluindo empresários, sociedade civil etc.). Isso levará a todos a pensar no
futuro dentro de uma lógica muito mais acelerada.
Outro fator a se revelar, especialmente em algumas
manifestações de rua e nas redes sociais, é o surgimento de um sectarismo que
rompe diálogos e favorece o porrete tanto no linguajar como de fato pelas mãos.
Mas, mesmo este sectarismo costuma ser autodestrutivo e quando muito servir a
propósitos mais bem organizados que depois os transformam em “milícias” a
serviço de um projeto político de poder. Ensaios foram feitos na Paulista hoje
quando uma faixa carregou o símbolo do nazismo.
De qualquer modo esta é a previsão do imediato. O que
acontecerá daqui ao fim do ano e nos próximos anos é um exercício mais complexo
que descamba para a adivinhação. Como a bandeira é o fora PT e o impeachment da
Dilma, pode ser que surjam outras bandeiras nas ruas mais vantajosas para o
país e que deem vazão ao futuro no qual a unidade da América Latina e um projeto
popular de melhoria do povo brasileiro possa democraticamente seguir adiante.
Neste sentido é bom que tenham clareza nesta questão: todo
avanço coletivo, portanto político, seja entre nações e relativo a uma nação é
sempre um projeto de tensões. Depende apenas que o povo o compreenda.
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