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terça-feira, 17 de março de 2015

Etiópia - José do Vale Pinheiro Feitosa

A Etiópia tem mais de 90 milhões de habitantes, é formada por várias etnias (reais, com territórios próprios, línguas independentes, crenças e costumes numa fermentação transformadora entre a tradição e a enorme pressão da globalização) e o país é dividido em dois: um de terras altas e outro de terras baixas.

Nas terras altas, acima de 1.100 metros e chegando a mais de 4.000 metros, se encontra a alma da Etiópia com suas civilizações antigas e cristã ortodoxa. Nas terras baixa, é o deserto (de Ogaden) e as encostas férteis das terras altas, composta essencialmente por Harar e Dire Dawa. Aí nesta região semidesértica predomina o Islã e toda a civilização decorrente de sua expansão.

Então a Etiópia resulta da expansão semita em fusão com os africanos em sua antiguidade e nos arranjos coloniais envolvendo franceses, italianos e ingleses e principalmente de uma forte liderança, pertencente ao povo Amhara mais organizado em termos civilizatórios, que foi Menelik II. Este imperador pertencia a lendária dinastia salomônica que se originaria de Menelik I, filho da Rainha de Sabá e do Rei Salomão de Israel. Portanto é uma dinastia patrilinear, mas profundamente mítica.   

O Século XX, inaugurado com o restabelecimento da tentativa de unidade da Etiópia, foi dramático para sua história. Como dizia seu último Imperador, Haile Salassié, a Etiópia tinha a aventurança e a desgraça de estar cercada pela Europa (especialmente o colonialismo) e por isso sofreu todas as consequências das duas Guerras Mundiais. E depois desta a Guerra Fria que na prática foram as dores do parto da universalização do capitalismo e da globalização financeira.

Por isso todo o Governo Salassié foi instável. No núcleo central dele a grande crise social surgida do efeito comparação entre desenvolvimento capitalista e atraso tradicional. Ao mesmo tempo a grande dificuldade de unir as várias etnias num governo central ou seja sob égide de um Estado Nacional. E no contexto internacional a disputa Estados Unidos da América e União das Repúblicas Soviética e a luta pela libertação dos povos colonizados na África.

No início dos anos sessenta, durante o Governo Juscelino aqui no Brasil, o Imperador Salassié nos visitava e no curso de sua estadia entre nós ele sofreu um Golpe de Estado preparado pela sua própria nobreza com aliança de alguns generais. Juscelino ajudou o monarca a retomar o poder emprestando-lhe dinheiro e avião. Daí em diante vieram secas que expuseram a grande fragilidade do sistema social etíope centrado na concentração dos recursos nas mãos de uma nobreza perdulária e ávida de privilégios. Resultou numa arrasadora fome.

E a fome em queda do regime por um golpe militar comandado essencialmente pelos jovens oficiais. A maioria dos quais formados na França e Inglaterra. Além disso um forte movimento guerrilheiro dividido em vários grupos como tendências esquerdistas vinculados à União Soviética e à China, e outros financiado pelos EUA.
O regime imperial teve fim em 1975 e 1977 um conflito entre os militares redundou na morte de um general e na assunção ao poder pelos jovens oficiais que “decretaram” uma revolução socialista e a implantação do socialismo na Etiópia. Isso num país disputado por vários movimentos armados e com a Somália querendo tomar o Ogaden, incluindo Harar e Dire Dawa.
Quando um avião pousa no Aeroporto Internacional de Bole e seus passageiros tomam as avenidas de Adis Abeba, vão encontrar um bairro em rápida transformação, num ritmo acelerado típico da expansão das classes médias globalizadas, funcionárias de multinacionais, do Estado, no comércio, serviços e indústria. O povão nas cidades vive do comércio da indústria chinesa (como aliás em quase todo o mundo) e no campo numa agricultura familiar tradicional fazendo escambo nos mercados.

Um país capitalista preparado por uma revolução com o carimbo de socialismo. O papel do socialismo foi efetivamente abrir a fechada elite que se resumia à nobreza de sangue. E desse modo criar um Estado mais “moderno” à feição da Europa e EUA. A feição em termos. Fica cada vez um país dividido entre muito pobres e uns abastados falando inglês e consumindo em pequenos lanches de final de tarde o que um pobre não consome (em termos de moeda) num mês.  

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