TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 6 de maio de 2015

O JUIZ E O RÉU - José do Vale Pinheiro Feitosa

Comecemos pela religiosidade. A maioria dos brasileiros se declara religioso. A principal corrente é judaico-cristã. Portanto há um Deus pai, onisciente, onipresente, onipotente cuja única exigência às suas criaturas é que o compreendam.

Nesta visão o princípio de todas as coisas é Deus e ele se manifesta pela bondade (sem fim acrescentou o poeta do sertão) a tudo que nos faz e decide. E a bondade é necessariamente compreensível. Ou seja, Deus explica a bondade e a compreendemos.

Agora vamos a um canal de Diálogo durante depoimento entre um preso da Lava Jato e o Juiz Sérgio Moro:

Cerveró – “Eu estou preso há cinco meses, sem nenhuma culpa provada. Nenhuma acusação que o senhor fez foi provada. ”

Juiz Moro – “Eu não fiz nenhuma acusação senhor Nestor, foi o Ministério Público. ”

Cerveró – “Mas o senhor aceitou a denúncia, baseado em ilações do Ministério Público”.

Juiz Moro – “Não vou discutir com o senhor aqui as provas, vou avalia-las na sentença”.

Cerveró – “Mas qual é o sentido de eu estar cinco meses preso, por que eu não posso responder em liberdade ou em prisão domiciliar? Isso não pode ser analisado antes?”

Juiz Moro – “Não, o processo está encerrado, praticamente”.

Cerveró – “Mas já me custou cinco meses de cadeia. Qual foi o critério que o senhor usou para me colocar preso preventivamente”?

Juiz Moro – Eu não vou ficar discutindo minhas decisões judiciais com o senhor. O interrogado aqui é o senhor, e não o juízo”.

Para os espíritos exaltados que se encontram na primeira fila do apedrejamento, não custa lembrar que se um Juiz não pode se explicar a quem acusa ou penaliza, ele pode tudo. Inclusive contra os exaltados, seus antepassados ou descendentes.

A base da violência institucional (ditadura, achaques, agressões, tortura etc.), que normalmente esconde outras intenções, é o biombo de quem não se explica escondendo suas decisões e atos. Se Generais tão estúpidos tivessem, no combate aos adversários da Ditadura o cuidado de prestar contas ao menos institucional, agentes não teriam cometido as barbaridades inclusive decorrentes da psicopatologia do torturador.


Então num e noutro caso, as Forças Armadas então e o Juiz de Direito agora, adicionam outro  atributo a Deus: prepotência. 

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