TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A CONJUNTURA

Chegou em casa despejando ira. Paga seus impostos em dia e direitinho. O governo ameaça mais algum para cobrir suas faltas.

A empregada chega logo depois com ar desanimado: não conseguira fazer o curativo da úlcera na perna. No posto de saúde estava faltando muita coisa.

Ele já estava no embale mesmo e tocou diagnóstico na situação: não tem nada mesmo. É uma bagunça de cabo a rabo. Quem já viu faltar esparadrapo e gaze? É o roubo da Petrobrás.

O senhor pode adiantar um vale para eu ir na farmácia?

Pelo amor de Deus. Sou funcionário do governo, não vou ter mais aumento. O que ganho não cobre a despesa. Amanhã não vou mais comprar carne todo dia.

Carne! Não vai ter mais carne? Como pode?

É o governo que não dá aumento. A conta não fecha.

Igual ao posto de saúde. Não tem dinheiro para o mínimo. A empregada lembra.

É este governo incompetente. Põe logo outro no lugar que tudo melhora.

E assim termina o assunto caseiro e vai para o bar tomar umas e outras.

Lá se encontra seu Laércio num papo animado com Aloísio Nuvens e seu Fernando Airoso. A conversa deles: deixa os babacas pagarem a conta do ajuste. Depois a gente denuncia o estelionato.

O bom pagador de impostos se aproxima a tempo de ouvir o encerramento da questão: já pensaram se fôssemos nós a fazer esta lambança? A raiva que o povo ia ter da gente?


E um pouco tonto de tanto ruído mental, encostou-se no balcão e, na sorrateira, roubou o esparadrapo do comerciante. Já era uma economia, só precisava agora comprar a gaze para a empregada. 

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