A CONJUNTURA
Chegou em casa despejando ira. Paga seus impostos em dia e
direitinho. O governo ameaça mais algum para cobrir suas faltas.
A empregada chega logo depois com ar desanimado: não
conseguira fazer o curativo da úlcera na perna. No posto de saúde estava
faltando muita coisa.
Ele já estava no embale mesmo e tocou diagnóstico na
situação: não tem nada mesmo. É uma bagunça de cabo a rabo. Quem já viu faltar
esparadrapo e gaze? É o roubo da Petrobrás.
O senhor pode adiantar um vale para eu ir na farmácia?
Pelo amor de Deus. Sou funcionário do governo, não vou ter
mais aumento. O que ganho não cobre a despesa. Amanhã não vou mais comprar
carne todo dia.
Carne! Não vai ter mais carne? Como pode?
É o governo que não dá aumento. A conta não fecha.
Igual ao posto de saúde. Não tem dinheiro para o mínimo. A
empregada lembra.
É este governo incompetente. Põe logo outro no lugar que
tudo melhora.
E assim termina o assunto caseiro e vai para o bar tomar
umas e outras.
Lá se encontra seu Laércio num papo animado com Aloísio Nuvens
e seu Fernando Airoso. A conversa deles: deixa os babacas pagarem a conta do
ajuste. Depois a gente denuncia o estelionato.
O bom pagador de impostos se aproxima a tempo de ouvir o
encerramento da questão: já pensaram se fôssemos nós a fazer esta lambança? A
raiva que o povo ia ter da gente?
E um pouco tonto de tanto ruído mental, encostou-se no
balcão e, na sorrateira, roubou o esparadrapo do comerciante. Já era uma
economia, só precisava agora comprar a gaze para a empregada.
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