Mino
Carta, Diretor de Redação da revista Carta Capital, é, sem favor
nenhum, um dos maiores jornalistas do país, face a coerência e a
maneira desassombrada como expõe suas posições políticas.
Atentem, pois, para a sua antológica versão sobre o tal “Grito do
Ipiranga”, inserta na edição nº 968, de 06.09.2017, página 14,
daquela revista semanal.
Ipsis
litteris:
“Há
tempos, meus botões, iconoclastas à beira do sacrilégio, sustentam
que nem tudo nos cardápios da Marquesa de Santos ostentava perfeitas
condições de consumo. Eventuais indagações a respeito parecem
despidas de sentido. Ocorre, entretanto, que um mexilhão estragado,
digamos, poderia ter exercido notável influência sobre o Grito.
Sabe-se
que Dom Pedro vinha de Santos depois de almoçar com a amante e, ao
subir a serra no caminho de São Paulo, deu para
experimentar os dissabores da digestão penosa, com consequências
abaixo do umbigo. Nas alturas do Ipiranga, próximas da cidade, um
renque de bananeiras cuidou de lhe oferecer abrigo para o cumprimento
da operação inevitável, embora nem sempre definitiva, em tais
ocasiões. E das sombras o príncipe finalmente emergiu para
proclamar a Independência.
Em
paz com as entranhas – ou ainda a sofrer do aperto inconcluso ? -
gritou, segundo as páginas amarelecidas, “Independência ou
Morte”. A ser verdade factual a frase que a história coloca na
boca do príncipe, ela ganha o som da irritação. Por que propor uma
alternativa tão drástica ? A palavra morte ali não se justifica,
mesmo se em jogo estava uma imponente briga familiar que o opunha ao
pai Dom João VI. Sobra a hipótese de que a parada forçada debaixo
das bananeiras tivesse sido insatisfatória.
Como
se sabe, a retórica oficial no Brasil se esbalda. Claro está que o
nosso herói não montava o cavalo de Napoleão, como pretende o
pintor francês François-René Moreaux ao retratá-lo na chegada a
São Paulo. Na opinião dos meus botões, tratava-se de um muar. Na
tela, o povo festeja o gesto do seu príncipe, a mostrar consciência
de um triunfo há tempo almejado. No meio da festa, enxergo, ok !
surpresa, um rosto talvez mulato.
No
caso, a verdade factual obviamente é outra. Metade da população
era de escravos, e quem não era só com o passar dos meses foi
obrigado a dar-se conta da mudança, pela qual, teoricamente, o
Brasil deixava de ser colônia. Não demoraria muito para tornar-se
súdito do império britânico em lugar do português. Demoraria a
Abolição, de fato ainda não extinta até hoje no país da
casa-grande e da senzala.”
Post
Scriptum: Será por essa razão que o nosso Brasil ficou conhecido
internacionalmente pela pejorativa alcunha de “república
bananeira” ???
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