O capitão está louco para fugir de um
navio afundando (Por Sebastião Nunes)
Depois de verificar que estavam bem
acomodados no avião presidencial os filhotes 01, 02 e 03, os ministros mais
chegados e o maior rato que já existiu na face da Terra, o capitão Jair Messias
ordenou que levantassem voo.– Pra onde? – perguntou solícito o piloto, sem
tirar os olhos do ratão. – Pra onde houver um navio afundando.
O piloto, sem entender a ordem, olhou
para o copiloto que, imediatamente, ligou para o serviço de informações da
marinha. – Quem é responsável pelos navios em afundamento? – Não seja idiota,
cara! – respondeu de lá um mequetrefe descontente. – Navio em afundamento não
tem responsável, só tem irresponsável. – Então me passa o irresponsável de
plantão.
Esperou alguns minutos, olhando de
banda o ratão. – Alô? – disse uma voz irritada. – Você é o irresponsável pelos
navios em afundamento? – Eu mesmo. – Sabe me dizer onde tem algum navio
afundando neste momento? – Estamos em falta. Todos os que estavam afundando já
afundaram. – Obrigado, cara – agradeceu o copiloto e, virando-se para o piloto,
confirmou a informação: – Por ora estão em falta, comandante. O piloto se
voltou para o capitão: – Sinto muito, capitão, mas afundando não tem nenhum.
O piloto verificou os comandos e viu
que estava tudo ok. Olhou para o capitão e percebeu que nem tudo estava ok. –
Desculpe, capitão. Mas por que procura um navio afundando? – Você quer saber do
navio ou prefere saber o que esse ratão tá fazendo aqui? – As duas coisas, acho
– confessou o piloto. – Explica pra ele, meu chapa – disse o capitão ao
escudeiro-Moro –, você que é ministro da injustiça e anda devendo explicações. –
Mas explicar o quê, capitão, se a ideia foi sua? – Minha, não, a ideia foi do
Guedes. Ou do Salles. Alguém sugeriu e eu topei. – A ideia foi minha, capitão –
disse o ministro que tem nome de pedra. – Ah, eu sabia que tinha sido um de
vocês! – vociferou o capitão. – Uma ideia tão idiota só podia ser de um
ministro. Explica aí, ó nome-de-pedra.
Mais que depressa, o ministro
nome-de-pedra começou a explicar: – Estava eu no gabinete jogando porrinha com
minha secretária, quando lembrei de um ditado muito popular: “Quando um navio
afunda, os ratos são os primeiros a cair fora”. Me pareceu perfeito pra
situação atual do Brasil. – Não entendi – confessou o piloto. – Vê se eu
explicando você entende, porra! – explodiu o capitão. – O Brasil tá uma merda
só, não tá? Hein? Tá ou não tá? – Se o senhor tá dizendo… – anuiu o piloto. –
Pois então? – continuou o capitão. – Faça de conta que o Brasil é um navio e o
navio tá afundando. Ficou claro? – Se o senhor tá dizendo… repetiu o piloto.
– Se o navio, quer dizer, se o Brasil
tá afundando como um navio, os primeiros a cair fora são os ratos. Como
pensamos em cair fora antes do navio, quer dizer, do Brasil afundar, montamos
nesse ratão e agora precisamos de um navio afundando. – Até aí tudo bem. Mas eu
nunca tinha visto um ratão desse tamanhão. – Isso foi ideia do Guedes –
explicou o capitão. – Como o bosta não consegue sair do atoleiro econômico,
encomendou esse ratão aí pra gente montar nele e fugir do navio afundando, quer
dizer, do Brasil afundando. – Encomendou de quem? – insistiu o piloto. –
Encomendou da CIA, cara. Ligou pro Trump e na CIA fabricaram esse ratão e
mandaram pra nós. A CIA é capaz de tudo, cara! É ou não é?
– Mas mandaram numa boa? – duvidou o
piloto. – Sem pedir nada em troca? – Claro que pediram, meu chapa – riu-se o
capitão. – O sacana do Trump pediu a Amazônia em troca. Mas, esperto como sou,
ele só vai levar a metade, depois que nossa gente incendiar ela tudinho. Ele
leva metade e o resto fica pra gente criar boi. O nome-de-pedra tá preparando a
minuta da escritura pro congresso aprovar. – Isso aí, papai! – aplaudiram a uma
voz os filhotes 01, 02 e 03, felizes por terem um pai tão esperto e tão bom
negociador.
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