A “CIDADE MARAVILHOSA” - José Nilton Mariano Saraiva
Cidade litorânea, agraciada com uma “beleza natural” ímpar, por anos a fio o Rio de Janeiro funcionou como a “capital” do Brasil e, portanto, sede do Governo Federal, com toda a sua estrutura ministerial, administrativa e de segurança reforçada e, por conta disso, recepcionadora de delegações do mundo inteiro, advindo daí uma economia pulsante e pujante.
Embora à época o marketing não tivesse ainda uma atuação tão determinante como nos dias atuais, a verdade é que a inexcedível “beleza natural” da cidade se impôs por si só, e os “alienígenas” que lá aportaram exerceram papel decisivo na sua propagação mundo afora, quando da volta às respectivas origens. Assim, o Rio de Janeiro tornou-se uma cidade segura, cosmopolita e logo (re)batizada de “cidade maravilhosa” (tantas eram as opções ofertadas, em qualquer segmento/atividade).
Mas, como todo processo desenvolvimentista tem seus ônus e bônus, no Rio de Janeiro não foi diferente; assim, descobriu-se que à beleza natural da cidade poder-se-ia acrescer um handicap poderosíssimo, que decerto atrairia mais e mais gente: surgiu então um tal “carnaval”, festa profana, de produção cinematográfica, com suas estonteantes mulheres seminuas, capazes de atrair e deixar a “gringarada” endinheirada de queixo caído e no mais alto e perene estado orgástico. Tanto é, que passou a figurar e tornou-se opção obrigatória nos “cardápios” das agências de turismo do mundo inteiro (era algo imperdível, garantiam os experts). E assim, ano após ano, eles nos propiciaram suculentas divisas (bônus).
Em contrapartida, tal enxame de turistas estrangeiros cheios do vil metal (que lhes permitia extravagâncias sem fim), potencializou o complexo de inferioridade de boa parte dos seus habitantes e propiciou um profundo sentimento de revolta dos “excluídos da festa”, oriundos não só da sua paupérrima periferia, mas, também, de outros estados brasileiros; iniciava-se ali a gestação do “ovo da serpente”, que mais tarde se materializaria em todo o seu terrificante e apavorante esplendor: as milícias (ônus).
Mas eis que, cumprindo promessa de campanha de que se vencedor do pleito presidencial “relocalizaria” a capital do Brasil para o centro do seu território continental, Juscelino Kubitschek (eleito) do nada erigiu no planalto central do Brasil uma bela, nova, planejada e moderna cidade, Brasília, que desde então tornou-se a capital de todos os brasileiros e, também, admirada por gregos e troianos.
Em decorrência, toda a estrutura governamental (e seus milhares de funcionários e respectivas famílias) tiveram que se mandar da “cidade maravilhosa”, a fim de assegurar a manutenção do emprego na nova capital. O Rio de Janeiro dançou solenemente (principalmente no tocante ao quesito segurança) e aí, literalmente, os “milicianos” tomaram de conta do pedaço, decretando o começo da decadência da outrora “cidade maravilhosa”.
Frustrados e talvez por vingança (perderam o status de capital do Brasil e a “segurança reforçada” da qual desfrutavam), os moradores da cidade decidiram (equivocadamente) que não mais se preocupariam quando das eleições do executivo e legislativo; e, assim, passaram a eleger figuras menores e medíocres, tais quais Negrão de Lima, Moreira Franco, Eduardo Cunha, Eduardo Paes, Sérgio Cabral, o índio Juruna, Pezão, Agnaldo Timóteo e, mais recentemente, os Bolsonaros.
Expulso do Exército por insubordinação e terrorismo, o paulista Jair Bolsonaro viu na atividade política a oportunidade para “se fazer” na vida, e assim, apoiado por periféricos, elegeu-se Vereador pelo Rio de Janeiro; antes de concluir o mandato virou Deputado Federal, repetindo a dose em sete oportunidades, a partir de então (durante esse tempo, pulou de galho em galho, demonstrando nenhuma fidelidade partidária), já que transitou por 08 agremiações: PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP, PSC e PSL.
Nesse ínterim (e aqui podemos constatar a irresponsabilidade do eleitor carioca) , conseguiu com que três dos filhos fossem eleitos e ingressassem para o legislativo (municipal, estadual e federal) aos quais repassou “nobres ensinamentos” da atividade política (dentre os quais as famosas “rachadinhas”, hoje por eles exercitadas com vigor e entusiasmo).
Conclusão: paradoxalmente, o processo de decadência do Rio de Janeiro (“cidade abençoada por Deus” no dizer dos poetas) parece ter servido de rampa de lançamento para a ascensão do não abençoado clã Bolsonaro.
Lamentável, sob todos os aspectos.
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