TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 9 de abril de 2022

 PREMIAÇÃO QUESTIONÁVEL - José Nílton Mariano Saraiva

Dias atrás, a mídia brasileira teve a coragem de repercutir com certo estardalhaço uma frase proferida pela cantora (???) Anita, que numa troca de farpas com o ex-ministro Ricardo Salles, asseverou... “só não vale falar do meu cu, porque este serve mais à sociedade que você” (ipsis litteris).

Um silêncio sepulcral se verificou, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo e se tratasse mesmo de uma afirmação politicamente correta, em razão de um suposto empoderamento da mulher, nos dias atuais.

Meses após, numa prova inconteste do declínio moral que a humanidade está a atravessar, a TV brasileira foi pródiga em anunciar e exibir, em horário nobre, a “premiação” de uma música/vídeo da própria (de cunho eminentemente sexual), como a mais exibida em todo o mundo.

Eis que hoje, finalmente, uma sua igual (mulher) tem a coragem de vir a público colocar os devidos pingos nos “is”. E de forma contundente e categórica, sem espaço para tergiversações (vide abaixo).
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PARABÉNS ANITA, MAS NÃO, OBRIGADA (Tatiana Poroger)
Parabéns para Anita por chegar ao topo do Spotify. Sabemos que ela é uma mulher extremamente batalhadora, com ótimo faro para o sucesso comercial. Minha admiração começa e termina aí.

Não consigo gostar das suas músicas (???). Também não consigo bater no peito e dizer “nossa que orgulho, ela é brasileira como eu”, pois não vejo valor no conteúdo (???) que ela produz, por mais sucesso que faça. Tampouco consigo comemorar que Anita seja a inspiração das meninas adolescentes de hoje. Pelo contrário, acho que seja um péssimo exemplo a essa geração.

A música e o clip em questão são de uma vulgaridade sem tamanho. O vídeo se resume a 3 minutos da rainha (???) feminista demonstrando como excitar um homem, utilizando-se de suas nádegas, que ficam amplamente expostas a quem quiser conhece-las no detalhe.

Não tenho filha mulher, mas se tivesse tentaria ensinar-lhe a se valorizar, física e intelectualmente, impor respeito e saber ser sensual quando quiser, sem ser vulgar. Mas tenho 3 filhos homens.

Tento lhes ensinar que respeitem e valorizem as mulheres e que o envolvimento quando inclui corpo, alma e mente é muito mais significativo e prazeroso para ambos. Músicas como a de Anita, onde as mulheres se tratam como mero objeto de prazer tornam minha mensagem um tanto quanto conflitante.

Em outras palavras, como dizem os meninos dessa geração, estamos “bugando” a cabeça deles, que deve está girando mais ou menos assim: meus pais me dizem para tratar as mulheres com respeito, e valorizá-las. Enquanto isso, as meninas estão rebolando a bunda na minha cara ao som de “me chama de vagabunda”, “me dá um tapa” e “te faço gozar em 5 minutos”.

Na prática, as que se dizem feministas hoje estão dificultando a vida de quem quer educar a atual geração de forma que as meninas se deem o devido valor e rapazes as tratem com mais respeito do que tratavam em gerações anteriores.

Desculpe Anita, mas não consigo te agradecer por isso.

Também não jogarei a culpa toda em cima de Anita. Ela é esperta, viu uma oportunidade e não tem o menor pudor em se expor de forma vulgar, assim como tantas outras artistas no Brasil e no mundo.

Não tenhamos síndrome de vira-lata, desdenhando de um produto ou pessoa só porque é “made in Brasil”. O assunto da Anita veio à tona por aqui agora pelo motivo óbvio dela ser brasileira, mas a vulgaridade e objetificação da mulher na música não é nem de longe exclusividade de artistas brasileiras.

Por fim, há milhões de mulheres que realmente estão sendo maltratadas mundo afora e precisando desesperadamente de alguém que lute por elas, mulheres de todo tipo. Exemplos não faltam: na Arábia Saudita mulheres não podem abrir uma conta bancária ou obter passaporte sem um responsável homem, na Somália, meninas ainda sofrem mutilação genital, na Índia o tráfego e escravização de mulheres vem crescendo ano a ano e no Brasil uma mulher é estuprada a cada 10 minutos.

Enquanto isso, o movimento feminista parece estar em busca do “direito” das mulheres de se vulgarizarem. Posso ser antiquada, mas isso não me parece uma grande conquista dessa geração.

Então, mais uma vez, parabéns Anita, pelo sucesso, mas não, obrigada.

Tatiana Poroger.

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