A CORAGEM DE LULA E A COVARDIA DE BOLSONARO
Graças ao presidente Lula, que tem agido com frieza e serenidade numa
situação instável, existem condições políticas para levar ao banco dos réus
Bolsonaro e os oficiais golpistas.
24 de março de 2024, 05:20 h
A passagem dos
sessenta anos do infausto golpe militar de 1⁰ de abril de 1964, realizado então
com apoio da imensa maioria dos veículos de comunicação, exige uma reflexão
sobre os dois principais antagonistas políticos da história recente, Lula e
Bolsonaro, e suas posições em relação à coragem, essa virtude cardeal, e seu
vício oposto, a covardia.
Bolsonaro jacta-se
de ser defensor dos atos e do legado do regime de 64, instalado com a violenta
supressão do processo democrático então em curso e marcado pela sucessão de
graves violações de direitos humanos cometidos pelo regime ditatorial.
Ameaças,
cassações, demissões, prisões, sequestros, torturas, mortes, desaparecimentos,
além de todo tipo de arbitrariedades, constituíram um sistema opressivo oriundo
da caserna e do meio civil. Contra as sobrevivências desta máquina, a sociedade
brasileira, desde o primeiro dia daquele regime, a duras penas, vem ao longo
das décadas tentando resistir, lutar, ajustar contas, reparar, fazer justiça,
superar, enfim, à medida que o tempo passa e se sucedem as conjunturas
históricas.
O Brasil deve
prestar honras aos heróis e heroínas dessa luta. Deve sempre lembrar de cada
uma das milhares de vítimas ao longo dessa caminhada. No plano político,
porém, o representante maior dessa esperança democrática, aquele
que se ofereceu e mereceu já há mais de duas décadas, a confiança dos
brasileiros para ser o personagem que encarna a valentia de enfrentar a
ditadura e sua herança, chama-se Luiz Inácio Lula da Silva.
É uma condição
auspiciosa que o país disponha de alguém com o apoio e a coragem de Lula para
se prestar a ser a referência dos objetivos nacionais nesta quadra histórica.
Personagens como ele são raros porque são decisivos. Reúnem em si o apoio
e a sabedoria para decidir sucessivas disputas apertadas, como eleição e golpe.
Em contraposição,
ao passo que avançam as investigações, o país vem assistindo em capítulos o
antípoda de Lula, Jair Bolsonaro. Cada vez mais ele é desnudado como autor,
promotor e comandante material da vil tentativa de golpe de Estado para impedir
primeiro a posse e depois destituir o governo eleito de Lula, o que culminou
nas invasões dos prédios dos três poderes em 8 de janeiro de 2023.
Para escapar das
consequências de sua incerta tentativa, Bolsonaro chegou a ordenar a
falsificação de seu cartão de vacinação contra a Covid-19. Fugiu assim, em 30
de dezembro, nas vésperas da posse de Lula, para os Estados Unidos, em meio a
tentativas de desfechar um levante militar contra as urnas, com apoio de
generais do Alto Comando e de tropas do Exército e do chefe da Marinha.
Ao fugir,
Bolsonaro foi um "covardão", nas palavras de Lula. Este tomou posse
em meio, a uma crise militar bem mais grave do que se sabia à época, embora a
antecipação da diplomação e os atentados de dezembro fossem indícios claros de
que algo fermentava. O processo democrático viveu sérias ameaças. O maior
objetivo da quartelada, o alvo primeiro, era, claro, o próprio Lula. Sabe-se lá
o que a insurreição faria de sua figura, embora seja possível especular a
partir das ameaças a ministros do STF e do que ocorreu aos palácios
desguarnecidos, com forças militares sublevadas, à mercê da turba. Em
meio a tudo isso, Lula encarou a situação e derrotou os golpistas. O papel da
primeira-dama Janja não foi irrelevante.
De lá para cá, a
investigação policial sobre a tentativa golpista adentra, pela primeira vez na
história do país, a participação de comandos militares em um golpe contra a
democracia. Graças a Lula, que tem agido com frieza e serenidade numa situação instável,
existem condições políticas para, com apoio de comandos mais convencidos da
submissão à legalidade, levar ao banco dos réus, junto com Bolsonaro, os
oficiais golpistas que neste episódio conspiraram contra a democracia.
Isso significa
muito: será dado afinal um limite ao delírio amotinado que vicejava na caserna.
Espera-se que o exemplo desça para as polícias militares, tão carentes de
controle e submissão ao poder civil. Consumado esse câmbio que se decide agora,
em coordenação evidente com o Supremo Tribunal Federal e a Polícia Federal,
restará um país menos vulnerável a intervenções militares.
Difícil imaginar uma homenagem mais relevante às
vítimas do regime militar de 64 e aos seus justos anseios por memória, verdade
e justiça do que este proporcionado pelo descortínio e – repita-se – a coragem
do presidente Lula.
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