A
“FORÇAÇÃO DE BARRA” QUE VIROU LEI - José Nilton Mariano Saraiva
A
rua Ana Bilhar, aqui em Fortaleza, localiza-se a duas quadras da Av. Beira Mar,
área nobre da capital cearense, onde o preço do metro quadrado de terreno custa
os olhos da cara, quase atingindo a estratosfera. Portanto, só mora naquela
área quem tem “bala na agulha” (grana, muita grana).
Mas,
além da grana, tudo indica que os que ali residem também gozam de certo
prestígio junto às autoridades do município, talvez em função do “status” da
moradia. Assim é que, estribados nessa condição privilegiada, POR CONTA PRÓPRIA
resolveram criar na via pública uma “ciclofaixa” (via de trânsito para uso
exclusivo de bicicletas), a fim de não correram nenhum risco de serem
atropelados quando se exercitam pelas manhãs e à noite. Dito e feito: cotizaram-se
e providenciaram a pintura de uma faixa, numa extensão de dois quilômetros, na
lateral da citada rua.
Acionada
por motoristas que por lá trafegam, e que se sentiram incomodados em razão da
diminuição do espaço de manobra, a AMC (autarquia que cuida do trânsito na
cidade) compareceu ao local e, num primeiro momento, face não ter havido
nenhuma consulta ou autorização oficial, ameaçou obstar tal intento, apagando a
tal faixa no asfalto.
Conversa
vai conversa vem, a AMC resolveu por assumir a “maternidade” (já que uma
instituição) do serviço feito pelos moradores, não só alargando a citada faixa,
mas dando-lhe contornos definitivos e oficiais; além do que, proibiu os carros
de estacionar durante os dois quilômetros sinalizados e, a partir de certa
data, passou a cobrar uma multa salgada do proprietário de carro que se
aventurar a trafegar por ali, além de lhe “premiar” com 07 pontos na carteira
(infração gravíssima).
Poderíamos
entender isso tudo como uma vitória da cidadania, porquanto uma iniciativa dos
moradores, posteriormente chancelada pela autoridade competente (e, pois,
merecedora de aplausos). Mas, eis que, quando os moradores de uma rua do “miserável”
Bom Jardim, bairro periférico da capital, resolveram criar uma ciclofaixa
idêntica (espelhando-se no que fizeram os moradores da “nobre’ rua Ana Bilhar),
a AMC logo logo pintou no pedaço e, de pronto, não só apagou a faixa pintada,
como, também, ameaçou com represálias que ousasse tomar qualquer providência em
contrário.
Quais
as razões pra tamanha discriminação ??? Por que, não, um tratamento isonômico
??? Todos não são iguais perante a lei ??? Ou, aqui, os fracos não têm vez ???
Fato
é que, querendo ou não, o “pioneirismo ilegal” dos moradores da rua Ana Bilhar (daquela
época) findou por literalmente obrigar a AMC a estender aquele “privilégio” por
toda a Fortaleza, de modo que hoje até os bairros periféricos da capital contam
com a sua “ciclofaixa” (devidamente regulamentada).
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