TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Bárbara de Alencar em Filme

Documentário sobre presa política, Bárbara de Alencar,
é produzido para ser apresentado nas escolas públicas da região



Juazeiro do Norte. Uma personagem da história, primeira presa política do Brasil. A mulher que teve o seu rosto apagado, mas as marcas do seu ideal de liberdade continuam sendo motivo de inspiração, exemplo de luta. Poderá chegar às escolas pelas lentes do documentário “Dona Bárbara”, do cinegrafista e fotógrafo Catulo Teles e a historiadora Alessandra Bandeira. Bárbara Pereira de Alencar, a heroína, alta, de traços fortes, também poderá servir de referencial para o movimento de mulheres da região do Cariri.

Pelo menos esse é o objetivo da historiadora. Ela iniciou a fase de captação de material, com entrevistas a historiadores e intelectuais, além de levantamento fotográfico de Catulo. É um trabalho minucioso, um material farto que será selecionado para compor o documentário e o livro.

A intenção é fazer do trabalho um importante recurso didático para os estudantes do Ensino Médio e Fundamental. “Essa personagem da história não pode passar em branco pelas salas de aula e parece estar esquecida. Hoje, os jovens não sabem quem foi Bárbara de Alencar”, diz Alessandra.

A dupla está atuando sem muito apoio financeiro. A historiadora e o cinegrafista contam apenas com o suporte da Secretaria de Cultura do Crato. O ideal de resgate da vida dessa pernambucana, de Exu, é a grande inspiração. Nasceu na calçada da velha casa onde morou Bárbara de Alencar, onde hoje está localizada a sede da Secretaria de Fazenda. No dia 3 de maio. Foi nessa data, em 1817, que o seu filho, José Martiniano, no altar da Igreja do município, deu o grito de liberdade.

Por oito dias, a única cidade do Ceará decretou a Independência, deu vida à República. Em Pernambuco, o movimento perdurou por 75 dias. Do Crato, Bárbara saiu acorrentada. Apenas o privilégio de não ter seus pés presos aos grilões. Com ela, os filhos Tristão Gonçalves, José Martiniano e Carlos José.

A prisão aconteceu em 1817. No lombo de cavalo percorreu mais de 500 quilômetros até Fortaleza. A líder revolucionária, segundo Alessandra, traz um ideal de vida inato. Uma mulher à frente de seu tempo, que a historiografia brasileira não reconhece como deveria. Não apenas acompanhou os filhos, que traziam um ideário de conquista da Independência para o Cariri, fortalecido pelo movimento contra o Império de D. Pedro I do Pernambuco, mas foi uma força que se uniu a um grupo de homens.

Era ela, a única nordestina a se destacar num cenário explosivo. A viúva, dona Bárbara, teve os bens da família confiscados e foi presa, aos 57 anos. Na prisão, durante quatro anos, e com a mesma roupa, sobreviveu comendo tripas escaldadas e afins. Esteve presa, além da Capital do Ceará, em Salvador e Recife. Ouvia os gritos de dor dos filhos sendo torturados na cela ao lado. Bárbara, de acordo com a historiadora, era uma católica fervorosa. Os seus ideais de luta, mesmo depois de sair da prisão, continuaram, e mais fortalecidos do que antes pelo movimento da Confederação do Equador. Bárbara de Alencar morre aos 72 anos, no refúgio, em 1833 e é sepultada em Campos Sales. Os traços fisionômicos foram esquecidos, ela pode ter sido acusada de ´mulher do padre´ por cada filho ter um pai diferente.


ELIZÂNGELA SANTOS
Repórter

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