Emerson Monteiro
Na memória popular circulam muitas histórias a respeito da vida do santo católico São Benedito. Entre elas uma existe que corre mundo e fala da época quando o frade vivia num convento da Sicília, na Itália. Despenseiro do lugar, o responsável pelos mantimentos da comunidade, era característica marcante de sua pessoa usar da caridade para com os pobres da região com tamanha intensidade que preocupava os superiores.
Tipo que não sabia dizer não perante a dor alheia, padecia ao ver alguém passar necessidade. Com aquilo, talvez abusasse dos víveres que comandava e desfalcava a manutenção da ordem, chegavam a pensar os irmãos.
O bom irmão, no entanto, sofria horrores quando alguém, faminto, vinha pedir alimento, tratando de abrir as portas da despensa, sobretudo aos mais desvalidos. Nunca sabia negar das provisões. Os bocados que alimentariam o grupo deviam suprir a fome dos pedintes, conhecedores dos sentimentos do religioso. Em conseqüência, buscavam-lhe sempre que a carência se manifestava.
Devido a isso, o frade ficou sendo vigiado na prodigalidade que exercitava.
Ainda assim, de modo clandestino, Benedito trabalhava pelos aflitos, forçando o superior chamou o frade à atenção, aconselhando-o a reduzir seu ímpeto, que moderasse os hábitos, porquanto havia reclusos a reclamar pela qualidade do que ofereciam no horário das refeições. Alguns se diziam fracos para cumprir os ofícios da irmandade, em face do procedimento do ecônomo, ora do conhecimento de todos. Esse clima se estabeleceu, portanto, aonde outros missionários lhe olhavam desconfiados.
No andar dos acontecimentos, lá uma vez, na intenção de mitigar precisão de um pedinte que viera ao convento, Benedito disfarçou certos víveres sobre as dobras do manto, a fim de nutrir o indigente.
- O que é que levas aí contigo, irmão Benedito? – quis saber o superior, com quem se deparou de surpresa em um dos sombrios e úmidos corredores da construção.
Flagrado em delito e no impacto da situação, o frade apenas imaginou de responder que:
- São rosas, meu senhor! Rosas! – enfatizando com largo sorriso as palavras, no propósito de cruzar o limite imposto pela autoridade.
- Ah, rosas. Eu gosto de rosas. Quero ver a qualidade dessas que levas junto do corpo com tanto carinho – pediu insistente o companheiro.
Nervoso, por isso, sem qualquer outra saída, Benedito descobrir os alimentos que transportava e no lugar deles apresentou ao superior uma braçada de lindas e perfumadas flores.
11 comentários:
Que bonito!
Contam essa história, também, com Sta Terezinha do Menino Jesus.
Sabe quem conta, e sabe todas as histórias dos Santos? Dona Bernadete Cabral.
E ainda tem gente que não acredita em nada ! Muito bonito, caro Emerson !
Emerson,
Gostei da sua matéria. A propósito, é interessante observar que no Cariri (salvo melhor juízo, ou melhor informação) não se tem notícia de nenhuma capela dedicada a São Benedito.
Isto comprova, além de outras coisas, a pequena contribuição da simpática raça negra à cultura do Cariri. A presença do escravo-negro no Sul do Ceará foi mínima, segundo respeitados hiistoriadores.
Embora existam professores universitários (oriundos de outras regiões, é claro) que vivem a cobrar o "resgate da importantíssima contribuição dos africanos na vida do Cariri"...
Na melhor das hipóteses são mal informados...
Ah, mas a gente tem que se lembrar da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Barbalha. O culto a esta santa é típico em comunidades negras e foram os negros que deram início à construção da igreja, embora não tenham terminado por diversos fatores (ia ficar muito longo se eu contasse aqui). As próprias famílias que posteriormente ajudaram a construir a igreja afirmam que ela foi um projeto da irmandade negra.
SUGESTÃO:
Por que não postas uma matéria sobre a construção da igreja, Amanda!
Sim, Salatiel, é uma boa idéia! A história é meio enrolada, mas é também interessante. Vou tentar postar aqui na próxima semana!
Amanda:
A construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, de Barbalha, é de fácil acesso. Num que livro que eu e Jackson Bantim escrevemos (Templos Católicos do Cariri) que será editado nos próximos meses, o resgate da construção da igreja barbalhense foi feito pelo Mestre Napoleão Tavares Neves. E, para supresa de muita gente, a sua construção foi feita por gente da elite barbalhense, como está sobejamente comprovado.
Peça ao Jackson Bantim (Bola) o texto que ele lhe repassará...
Amanda:
A construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, de Barbalha, é de fácil acesso. Num que livro que eu e Jackson Bantim escrevemos (Templos Católicos do Cariri) que será editado nos próximos meses, o resgate da construção da igreja barbalhense foi feito pelo Mestre Napoleão Tavares Neves. E, para supresa de muita gente, a sua construção foi feita por gente da elite barbalhense, como está sobejamente comprovado.
Peça ao Jackson Bantim (Bola) o texto que ele lhe repassará...
Vejam só o encaminhamento das coisas... O que imaginei uma mera ficção da religiosidade popular ganha rumos de pesquisa histórica a propósito dos templos católicos do Cariri. Um nexo da riqueza cultural do encontro de pessoas bem informadas.
Gente, postei ontem algo sobre a construção da igreja. Só agora vi os outros comentários daqui.
É claro que a família Sampaio teve destaque na construção da Igreja do Rosário, mas a gente precisa lembrar que a idéia inicial partiu de uma irmandade negra.
É isso que eu queria dizer.
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