O Globo Universidade desta semana vai ao Cariri, no sul do Ceará, para mostrar duas riquezas regionais, sendo uma delas natural, outra cultural. A repórter Bianca Rothier vai ao Geopark Araripe acompanhar um dia de trabalho de campo de alunos de Geologia que viajaram mais de dois mil quilômetros para pesquisar numa das áreas de maior concentração de registros fósseis do mundo. Enquanto isso, o repórter André Curvello vai a Juazeiro do Norte, terra de Padre Cícero e um dos maiores centros de romaria do Brasil, ver como o trabalho de uma professora está ajudando a transformar em patrimônio nacional o que já é consagrado pela fé popular.
Uma aula ao ar livre normalmente já é bem mais interessante que uma aula entre quatro paredes. Imagine, então, uma aula para estudantes de Geologia num geopark com evidências geológicas da pré-história e que é considerado um dos maiores depósitos de fósseis do período Cretáceo (120 a 80 milhões de anos atrás) do mundo. Pois é exatamente essa experiência que o professor Ismar de Souza Carvalho, do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), proporciona a seus alunos de graduação e que a repórter Bianca acompanha de perto. O Geopark Araripe, no Crato, ocupa uma área de mais de 5 mil quilômetros quadrados e tem registro fóssil muito preservado, além de uma enorme densidade e diversidade. Ter acesso a esse tipo de prática de campo ainda na graduação é fundamental na formação dos futuros geólogos. A expedição começa com explicações gerais sobre o contexto paleogeográfico em que eles se encontram: “O Araripe ficava na parte mais interna do Continente Gondwanico. As rochas que se originaram nesta região têm uma relação direta com o momento em que a América do Sul e a África vão se separar”, diz Carvalho. Na sequência, os alunos são separados em grupos menores com o objetivo de multiplicar as chances de encontrar fósseis. Depois de horas coletando amostras, fazendo registros fotográficos e construindo perfis geológicos, alunos e professores se reúnem para apresentar as conclusões do dia de trabalho e, assim, trocar experiências. “O grande desafio dessa nova geração de geólogos que a gente está formando é: como fazer a prospecção dos bens minerais e fazer a conservação das paisagens naturais e do nosso planeta como um todo”, conclui Carvalho.
Renata Marinho Paz, professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Regional do Cariri (Urca), desenvolve, desde 1992, várias linhas de pesquisa na área de cultura popular da região. Recentemente, foi coordenadora do Projeto Cariri, uma parceria entre a universidade e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), cujo objetivo foi fazer um inventário dos bens imateriais da região do Cariri. Entre os mais de 50 bens imateriais levantados estavam a obra do escultor juazeirense Manoel Graciano; a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio; e os lugares sagrados das romarias de Juazeiro do Norte. Um dos locais que André visita nesta edição do Globo Universidade é o Centro de Cultura Popular Mestre Noza, um dos principais centros de produção de artesanato do Nordeste. “A produção do Manoel Graciano é interessante porque ele mescla um pouco do imaginário da cultura popular da região do Cariri, elementos indígenas e consegue expressar isso com uma beleza muito singular em suas obras”, explica Renata. Em outra reportagem, André acompanha a professora à Colina do Horto, um dos pontos de maior devoção das romarias de Juazeiro do Norte e até do Brasil. Ponto de parada obrigatória dos romeiros, é lá que fica a enorme estátua de Padre Cícero. “Se você tem contato com esta religiosidade, vai perceber uma riqueza imensa. Aos olhos das pessoas que não conhecem este espaço especificamente aqui na Colina do Horto, ele é muitas vezes percebido como local de fanatismo, de exploração. Mas aqui é também um espaço de profundas manifestações devocionais populares, de uma riqueza simbólica que se materializa, mas que também é quase imperceptível para aquelas pessoas que não têm a sensibilidade para compreender”, diz a professora. “Às vezes, a gente fica muito fechada ‘nas Torres de Marfim da Academia’, e esse contato com essa expressão (...) faz com que a gente repense um pouco nossos valores.”
O Globo Universidade, exibido aos sábados, às 7h15, na Rede Globo, leva ao ar reportagens sobre ensino, pesquisa e projetos científicos realizados no meio acadêmico. O programa é reprisado no mesmo dia na Globo News, às 13h05, e às quartas-feiras no Canal Futura, às 16h30. As edições também estão disponíveis na íntegra aqui, no site do Globo Universidade.
Fonte: WWW.globouniversidade.com.br
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