TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 14 de agosto de 2010

Brumas

Prometo então que te deixarei
tão vã quanto desconhecida
abstrata
sem nome.

Não te apartarei dos sentidos
da falta e da ausência
nem do pleno vazio.

Prometo então que te deixarei
andar com as próprias asas
e guardarei meus óculos
embaçados de gordura
e de lágrimas.

Dentro do banheiro
ao observar as formiguinhas
desesperadas com a minha voz
correndo entre cantos e fendas

levantarei os pés cauteloso
para que elas se cuidem
sob meus chinelos.

Sei o quanto é doloroso
quebrar costelas e contorcer-se
rodopiando pelo frio do piso.

Prometo então que te deixarei
oculta no meu depressivo silêncio
também nos meus particulares sussurros.

Não te forjarei outra vida
nem ousarei aflorar a sequidão
dos meus lábios.

Serás o de sempre:
névoa e pedreira
sobre ombros
colada nos cílios.

Prometo então que te deixarei
em paz, rica e perfumada
a zombar da minha angústia.

Não é bom nem vistoso
o sangue do meu nariz.

3 comentários:

lupin disse...

domingos,só agora percebo como as formigas são recorrentes na sua poesia. freud explica !?
um abraço e ótimo retorno.

Domingos Barroso disse...

Lupin, talvez seja
porque as formigas
se deixam levar
pela ventania
sem lhes quebrar
tantas costelas.
Ou quem sabe
por longa convivência
entre mim e elas
desde a infância.
Freud não explica
embora também adore
conversar e admirar
as formiguinhas
pelo divã.

Forte abraço,
meu camarada.

lupin disse...

sei que tem também um pintor famoso que usa muito as formigas em seus trabalhos.
acho que era o SALVADOR DALÍ porém, não posso afirmar com a plena certeza.