TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Tudofel: Colégio Diocesano do Crato

Tudofel: Colégio Diocesano do Crato: O Colégio Diocesano era uma referência em educação básica do interior nordestino. Meio secular, tinha recentemente comemorado o marc...

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mordendo pelas beiradas



Passadas as eleições municipais aqui em Crato, desencadeamos, imediatamente as especulações quanto aos cargos de primeiro e segundo escalão na administração  da prefeitura cratense. De um lado, há o depressivo “arruma a mala aí”, do outro a euforia do “prepare a mala lá”. À medida que se foram divulgando os nomes do futuro secretariado , encetou-se, nas redes sociais ,um grande movimento com o fito de apontar nomes para cargos ainda vacantes como Meio Ambiente, Cultura e Saúde ( alguns desses nomes, diga-se de passagem, de competência indiscutível).  Alguns grupos, inclusive, se reuniram no sentido de promover seminários com alguns especialistas, escolhidos por eles, pensando na perspectiva de contribuir com idéias e programas para a nova gestão municipal. Como sempre, nessa massa heterogênea, há muitos bem intencionados e alguns aproveitadores que ficaram em cima do muro no processo eleitoral, esperando para que lado penderia o fiel da balança e que agora, de repente, aparecem como salvadores da pátria, querendo mostrar serviço e ( quem sabe?) morder a beiradinha de um ou outro cargo que por ventura apareça.
                                   Ora, amigos, qualquer uma das iniciativas me parece totalmente despropositada. É de se imaginar que os eleitores , acompanhando atentamente os programas dos candidatos e suas propostas no processo eleitoral, escolheram seu prefeito ,cuidadosamente , antenados com o Programa de Governo que apresentaram para o Crato. Nego-me a acreditar que possam ter votado nesse ou naquele por conta da sua simpatia, do parentesco ou porque lhe prometeu um emprego ou lhe  deu um dinheirinho. Se foi por uma dessas  razões, então não tem o que cobrar, é botar a violinha no saco e esperar calado o kit que será ofertado. Se, por acaso, votou no Programa, também não há o que espernear. O momento exato de discutir e modificar esse programa de governo era antes da eleição. Engajar-se, mostrar a cara e discutir com todos o melhor para o Crato e levar as propostas ao partido e ao candidato preferido. Passada a eleição, amigos, já não há nada a fazer, assinamos um cheque em branco e , agora, temos que confiar que será preenchido de maneira adequada e com a quantia esperada.
                                   Precisamos compreender o processo democrático. O candidato vencedor tem um programa de governo a cumprir e, mais, um sem número de compromissos eleitorais de que precisará  se desvencilhar. Não existirão, certamente, nomes perfeitos e adequados para sua assessoria , divorciados das suas afinidades políticas e dos rumos  e metas que traçou. Imaginem se o forçamos escolher um secretário capacitadíssimo mas com quem politicamente não se afina! Será o secretário fritado , não terá espaço na gestão e sairá queimado e desacreditado.  Seminários agora são perfeitamente inócuos, não têm qualquer serventia. Deixemos o futuro prefeito à vontade para escolher os seus assessores e executar o plano de governo previsto. Se necessitar da opinião de qualquer um de nós, terá , com certeza, a desenvoltura de nos solicitar.
                                   O Crato escolheu, em outubro último, com votação recorde, seu prefeito. A cidade entendeu, pois, (expresso esse entendimento na maioria dos seus votantes), que Ronaldo Gomes de Matos é o mais capacitado para administrar nosso município nos próximos quatro anos. Pois bem, ele tem todo direito legal e moral para fazê-lo. Cabe a ele e tão-somente a ele a responsabilidade de escolher os melhores e mais qualificados assessores para acompanhá-lo nesta árdua empreitada. Não votei nele, mas torço de coração para que consiga alavancar a cidade de Frei Carlos e tirá-la do marasmo histórico em que se encontra.

J. Flávio Vieira

AS GRANDES DECISÕES NO TEATRO DOS GRANDES FARSANTES - José do Vale Pinheiro Feitosa


O modo otimista de ver o julgamento do mensalão é de que todos são iguais perante a lei e que mesmo o partido no governo pega prisão, ou seja, punição. A mídia de modo geral comemorou assim e todo o conteúdo apresentado por ela afirma isso: mesmo tendo indicado os ministros do STF, mesmo tendo a Presidência da República, a Presidência da Câmara dos Deputados e aliado na Presidência do Senado: o PT vai sendo punido exemplarmente.

Todos pensam assim? Somos iguais e protegidos pela lei? Menos de quinze dias após a mídia pulou alto, a maior parte dos deputados pularam mais ainda, o relatório da CPI do Cachoeira iria indiciar jornalistas e o Procurador Geral da República. Mas o relatório não condena, apenas indica um reforço na investigação e na abertura de processo legal contra os indiciados. Afinal o relatório da CPI é fruto da própria investigação policial.

O relator, agora a finalidade de negociar a aprovação do relatório diz que a citação dos personagens é secundária, o principal deve ser preservado no relatório. Agora a dúplilingua ou o duplipensar do 1984 do Orwell faz anotações: secundária, quer dizer intocável. Ninguém pode tocar no Procurador Geral e nem em repórteres. A negociação do PT parece acovardamento, as justificativas de alguns deputados do partido como Dr. Rosinha falando em falta de condições políticas são piores ainda. Desse modo para quem pretende firmar uma política de longo prazo, efetivamente tem um grave problema no espaço a ser conquistado:  sem coluna vertebral não se move.

Essa farsa histórica é a mesma que ocorre no Oriente Médio tendo à frente os EUA e Israel em relação ao povo Palestino que acaba de conquistar na ONU o status de observador. Igual ao Vaticano. A mais recente decisão de Israel é que os palestinos que trabalham em Israel e moram em seus territórios, não possam mais pegar os mesmos ônibus frequentados pelos israelenses dos assentamos tomados ao território palestino. Se é preciso recriar o Apartheid para garantir a segurança de Israel, é claro que algo de podre há nesta política tal qual havia na África do Sul.

Outra grande farsa é a postura dos países altamente industrializados em relação às emissões de gases de efeito estufa. O Protocolo de Kioto está para findar-se e não existe nada no horizonte que faça evoluir a questão do clima ou  seja, o aquecimento global. As evidências de que efeitos climáticos tipo o Sandy em Nova York atingem cada vez mais o hemisfério norte. O degelo do Ártico no ano de 2012 foi um dos maiores em desde 2007 e correspondeu a 12 milhões de quilômetros quadrados de derretimento de gelo. Neste ano se teve as temperaturas mais altas desde 1850.

Esse problema avança para um nível de saturação de gases atmosféricos de natureza catastrófica. Catastrófica porque de repente todo o processo se acelera uma vez que se estima que a camada de gelo que cobre o ártico aprisione 1,7 gigatoneladas de carbono que uma vez liberados pelo degelo ampliarão ainda mais o efeito estufa.

Estamos numa época de grandes decisões num teatro de grandes farsantes.   

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Tudofel: Soy loco por ti, Bananeiras!

Tudofel: Soy loco por ti, Bananeiras!: A minha cidade do coração é Craterdam. Só que Cratedam não é uma cidade real. Ela é ideal. Das cidades reais, o Crato, minha cidade...

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O PAPEL POLÍTICO DOS CAPACHOS IMPERIAIS - José do Vale Pinheiro Feitosa


Por incrível que pareça não tem muito mais de ano e meio que pelo menos dois blogs do Crato publicaram o documento de um militar brasileiro, em momento de reforma do serviço ativo, dizendo que O Golpe de 64 foi um ato heroico dos golpistas para livrar o país da anarquia e do comunismo. Os dois blogs bebiam na fonte da atual administração da cidade e publicavam o panfleto por afinidade ideológica com a extrema direita brasileira e muito provavelmente para provocar seus desafetos no campo político.
Ainda hoje anciões do Clube Militar guardam um ódio visceral contra políticas progressistas e sustentam esta energia a partir do borralho ideológico ainda dos anos de ditadura e dos embates das Reformas de Base intensamente mobilizadas pelo povo brasileiro no Governo João Goulart. As Reformas de Base reuniam um conjunto de medidas que abrangiam a reforma bancária, fiscal, urbana, administrativa, agrária e universitária. Incluía-se entre as medidas o direito de voto aos analfabetos e às patentes subalternas das forças armadas. O carro chefe era a Reforma Agrária onde se reuniu um dos focos de maior conflito na política interna do país. No entanto foi no campo externo, especialmente em relação aos Estados Unidos da América e outras nações capitalistas dominantes onde a luta foi maior: eram medidas nacionalistas com maior intervenção do Estado na vida econômica, controle do investimento estrangeiro especialmente sobre a remessa de lucros para o exterior, além da nacionalização de empresas estratégicas como dos setores de energia e comunicações.
O que liga personagens relativamente nascidos após o golpe de 64 que pontuavam na política do Crato até agora a essa herança conservadora e extremista? Penso que vestem uma capa envelhecida para esconderem o verdadeiro sentido dos seus corpos ideológicos. Uma capa costurada com retalhos da luta anticomunista, de segmentos reacionários da igreja católica, de uma noção de família e patrimônio há muito ultrapassada pelo próprio desenvolvimento capitalista. Mas o sentido de ser na vida é um esdrúxulo senso de superioridade de classe subalterna ao modelo superior de outros povos, no caso os EUA. Esses personagens do outro lado da margem dos comunistas, repetem a mesma inação ou ação sob comando de outros povos, igual aos comunistas com a União Soviética.

Tomei por exemplo este chorume da história para nos lembrar que o Golpe Militar de 64 era uma fachada ideológica a serviço dos interesses dos Estados Unidos da América. Claro que refletiam o conflito interno, a forte reação de latifundiários e os próprios erros do Governo Goulart, mas jamais teriam a desenvoltura finalista que tiveram se não fosse o financiamento americano do IPES (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais) e do IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) que financiavam armas, textos, campanhas eleitorais e deputados no parlamento. Sem os mecanismos de sabotagem do abastecimento, além de programas de invasão da CIA e outros setores de inteligência americana dentro do Programa Aliança para o Progresso e com o que chamava Voluntários da Paz. Nos idos dos anos 63 a 67 só no bairro da Batateira moravam dois americanos sem papel religioso, vivendo numa casa precária e colhendo informações.   

Porém o mais importante foi o deslocamento de uma frota de navios para dividir o país em cinco partes e assim promover o fatiamento da unidade nacional. Com armas, armadas, infiltração social, financiamento de setores militares, políticos, da mídia,  religiosos e intelectuais, os EUA foram o móvel essencial do golpe. Até mesmo a violência com a tortura e humilhação sofrida por militantes adversários fez parte da política americana que além de ampliar a capacidade de torturar apoiava todas as práticas já em curso nos porões da polícia brasileira, sem contar os horrores já praticados durante a ditadura do Estado Novo.

Os EUA não apenas foram o móvel do Golpe, como auferiram logo em seguida todas as vantagens econômicas advindas dele: remessas de lucros, fim da estabilidade do emprego, arrocho econômico, perseguição dos trabalhadores e a criação de multinacionais que dirigem até hoje a economia nacional. Foi efetivamente um Projeto Imperial que levou o povo brasileiro a um atraso imenso em seu progresso e desenvolvimento, atingindo todos os campos: a posse da terra, a urbanização justa, a educação, a saúde pública, a infraestrutura produtiva e, principalmente, a autonomia para um projeto de desenvolvimento nacional.

Isso tudo não pode ser mais objeto das dúvidas daquele militar de pijama do início do texto: isso é um farto material pesquisado e para ser ainda mais aprofundado do papel dos EUA no Golpe Militar de 64. Não é questão de crença ideológica, é a luz dos documentos e registros da época.  

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Bateia


Acabo de me reunir , aqui no Recife, com os colegas de Medicina, comemorando os trinta e cinco anos de formatura. Como sempre acontece, há companheiros mais próximos e aqueles que tínhamos visto pela última vez na colação de grau. Há sempre alguns com quem sempre tivemos uma maior empatia e outros que privaram menos da nossa afeição. A vida louca e breve nos dispersou pelo mundo, cada um em busca do seu sonho e das suas realizações pessoais. Passados os anos, pomo-nos a perceber que a história é mais importante que a geografia e vemo-nos imantados pela imperiosa necessidade de buscar testemunhas de uma época áurea da nossa existência, onde o sol brilhava mais intensamente, onde a felicidade colhia-se nos galhos mais baixos das árvores, onde a longa estrada à frente impelia-nos a colher os muitos frutos pendentes e à aventura chapeuzinhovermelhiana de buscar o caminho da floresta ao invés das pacíficas veredas do rio. Muitas e muitas luas depois, embora enveredando por trilhas diversas, terminamos por perceber que , à frente , as aparentes paralelas   novamente se cruzam e que, sem que tivéssemos nos dado conta, percorríamos todos, um mesmo trajeto. Ei-nos , pois, sobreviventes de muitas guerras, contabilizando os poucos espólios de tantas batalhas, descobrindo ,atônitos, que o Shangri-lá não existe como fim, apenas como meio.  E mais :  que o pote de ouro  a que todos almejávamos não estava abaixo do arco-íris,  mas nas retinas de cada um dos  caçadores de esmeraldas e que era tão-sòmente a indefectível beleza multicolorida do próprio  arco-íris.
                                               O tempo, este ourives incansável, lapidou as brutas rochas que tinha às mãos. A bateia dos anos peneirou o cascalho dos ressentimentos, a ganga bruta das frustrações, os seixos imprestáveis  das paixões menores. Até os sulcos inevitáveis das nossas feridas de guerra parecem ter ganho uma luminescência especial, como um fogo fátuo dos nossos muitos sepultamentos interiores.  O inventário final do garimpo : uma pepita brilhante e imaecível : A vida vivida e a ser vivida !
                                               Folheando o antigo livro de chamadas, bate-nos o amargo gosto da impermanência:  contatamos que já muitos não respondem com o seu : Presente ! Os que continuam na caminhada descobrem uma nova responsabilidade: necessitam viver para si mesmos e por aqueles que acabaram, prematuramente, caindo à margem do caminho. Fechado o balanço de tantos sonhos percebemos que a memória de todo este milagre indefinível depende das testemunhares oculares deste sonho : nossos colegas de travessia.  Sem os muitos viandantes, a estrada não existiria: a única prova material da magia da minha existência  está na lembrança dos meus companheiros. Sem eles minha vida não existiria; sem a minha memória,  a existência de todos eles teria sido um mero efeito especial de um filme b.
                                               Celebrar a intersecção  das muitas retas que um dia pareciam paralelas remete-nos aos insondáveis mistérios da nossa geometria existencial. Parodiando Carl Sagan não parece ter sido mera coincidência que diante da incomensurável dimensão do universo, da vastidão impalpável do tempo, todos nós tenhamos divido juntos a mesma época, o mesmo chão e os mesmos sonhos.  

J. Flávio Vieira

Tudofel: A passagem do médico-revolucionário Hass Sobrinho ...

Tudofel: A passagem do médico-revolucionário Hass Sobrinho ...: Em novembro de 2008, juntamente com meu irmão Armando e meu cunhado Zé Bento, fiz uma viagem ao sudoeste do Maranhão e  à Araguaína, no T...

A BATATEIRA E A FAIXA DE GAZA - José do Vale Pinheiro Feitosa


Para se tomar uma referência em relação à Faixa da Gaza, com 1,5 milhões de habitantes e recentemente bombardeada pelo Exército Israelense (não Judeu que é um povo e uma religião, embora cada vez mais ortodoxos prefiram confundir a temporalidade de um Estado com a atemporalidade religiosa): a região metropolitana de Fortaleza possui 3,7 milhões e a região Cariri 574 mil habitantes. E por que falar em Faixa de Gaza?

Para observar o significativo da injustiça social, do genocídio e da perseguição aos pobres em todo o sistema de produção, circulação e distribuição das riquezas no mundo atual. Ali naquela faixa estão todas as formas de ódio, de ressentimento, de humilhação, de apreensão constante do que um dos importantes Judeus do ocidente, Noam Chomsky, considera como “a maior prisão a céu aberto do mundo”.  Diz Chomsky, evidenciando os propósitos das políticas de dominação de nações detentoras dos avanços tecnológicas e controladoras de grandes riquezas: “cujo propósito não é senão humilhar e rebaixar a população palestina e ulteriormente garantir tanto o esmagamento das esperanças de um futuro decente quanto a nulidade do vasto apoio internacional para um acordo diplomático que sancione os direitos a essas esperanças.”

Não por culpa dos Judeus, mas por um mistura do Estado de Israel com o projeto Imperial dos Estados Unidos, especialmente na região mais promissora em Petróleo ao fim da Segunda Guerra Mundial, praticamente tornando Israel em mais uma Unidade dos EUA. Assim como foi o Havaí tão distante. A situação hoje de Israel e seu Exército tornando prisioneiros aos palestinos, matando-os e destruindo seus prédios, tem um dor cruel: o mesmo valor insensível e odioso dos genocidas dos judeus na Alemanha Nazista.

Mas copiando Caetano o Gil volto-me para as nossas faixas de gaza, pois estas estão aqui mesmo em nossa cidade. Se formos passear nas mentes assustadas e cheias de ódio que praticamente surtam diante de eventuais “crimes” contra o patrimônio feito por algum morador de nossos bairros populares como a Batateira, por exemplo. Ao invés de se observar o crime, suas razões agravantes e atenuantes, o amplo direito de defesa e o poder de punir da justiça, toma-se de uma cultura punitiva contra todo um bairro. A Batateira se torna, especialmente na mídia “escandalosa”, nas rodas “familiares” que advogam um individualismo exacerbado e consumista e, por isso mesmo, na voz de políticos oportunistas, numa “faixa de gaza” a ser atacada.

O bairro da Batateira como um equivalente à Faixa de Gaza funciona no imaginário punitivo de setores da nossa cidade com o mesmo valor extremado de ampla maioria no Estado de Israel. A cegueira de injustiça, justaposta à luz da Justiça é o que mais temos para refletir sobre qual a cultura urbana e social que o nosso país deseja. É certo que há uma ampla força trabalhando para reproduzir “ad nauseam” as faixas de gaza, mas certamente temos que nos organizar para construir a contradição a isso para em seguida extrair a síntese de uma sociedade democrática.    

domingo, 25 de novembro de 2012

O ódio (singular absoluto) a Lula

Lula é um político brasileiro com defeitos e virtudes. Se você não conseguir ver uma coisa ou outra é porque, certamente, a cegueira da paixão ou do ódio está tomando o seu corpo como um câncer.

O que se percebe no caso de Lula é que o ódio intenso tenta, sobremaneira, vencer o amor intenso. É uma luta. A luta entre o amor e o ódio a esse personagem da história brasileira.

Outros já experimentaram do mesmo fel. Mas não sei se há concorrentes para Lula. Talvez nem Getúlio.

Quantitativamente, Lula está em vantagem. Mas os odiadores acreditam que seu ódio seria de melhor qualidade, uma espécie de crème de la crème do ódio - um ódio insuperável por qualquer amor de multidões.

É um ódio cultivado com gotas de ira diárias nas páginas dos jornais. E de revistas. Cultivado com olhos de sangue, faca entre os dentes, espinhos nas pontas dos dedos.

Só nos últimos meses, Lula já "esteve" por trás do relatório do CPI da Cachoeira, teve caso com a mulher presa na última operação da PF, já tentou adiar o julgamento, já produziu provas para se vingar de Perillo (porque ele teria sido o primeiro a avisá-lo do mensalão), já tentou subornar Deus para que terminasse a obra no domingo.

A paixão amorosa conhecemos bem. Vem daqueles que se identificaram com ele e com ele conseguiram ser lembrados pela primeira vez na história da política brasileira: seja pelos programas sociais, seja pela ascensão econômica, ou até simplesmente pelas características pessoais, culturais e linguísticas. Vem também do louvor à camisa, ao vermelho da camisa do PT.

Mas encontrar representantes do ódio não é tão difícil também. E, como qualquer sentimento que desafie a racionalidade, eles encontrarão justificativas em qualquer coisa.

Mesmo que o ódio se disfarce de termos falsamente conceituais (lulo-petismo, lulo-comunismo, lulo-qualquercoisismo), o ódio a Lula não é um ódio-conceito. Não é abstrato. É material. Corpóreo. Figadal. Biliar. Visceral.

Também não é ódio consequência. Não é um "ódio, porque..." É um "ódio ódio", um ódio em si mesmo, um ódio singular absoluto, que se disfarça de motivos: linguísticos, culturais, morais, econômicos, etc, mas sempre ódio.

Lula já foi acusado de trair a mulher, de violentar o companheiro de cela, de roubar o Brasil, de pentecostalizar a África, de fortalecer "ditaduras" latino-americanas, africanas, asiáticas, de se curar do câncer em hospital particular (sim, uma acusação), de assassinar passageiros de avião, de dar o título à Vila Isabel, de provocar a fuga do vilão no final da novela das oito; já foi acusado de dançar festa junina, de beber vinho caro, de torcer para o Corinthians, de comer buchada de bode, de ter amputado o próprio dedo para receber pensão, de ter a voz rouca, de ser gente, de estar vivo, de ter nascido...

Só um conselho para os odiadores: o inverso do amor não é o ódio, mas a indiferença. No caso em questão, o ódio só acentua e inflama a paixão daqueles que, em maioria dos votos, acabarão levando vantagem.

Sejam indiferentes a Lula, e a história se encarregará de fazer o resto.

(Transcrito o site do Luis Nassif) 

Por todas as vezes de Vieira, Cabral e Parente - José do Vale Pinheiro Feitosa


Por todas as vezes que a facilidade de tê-lo como uma extensão do conteúdo natural, por isso mesmo equalizado e deste modo reduzido os altos do que era, simultaneamente, o mais agudo ou grave de sua personalidade. Quando somos parte da vida de um personagem assim só algum tempo depois, mas nem sempre, percebemos as verdadeiras dimensões daquele ser em plenitude. Falo do Padre Antonio Vieira, irmão de Manoel Baptista Vieira e tio do José Flávio.

Se soubesse o que sei agora, seria mais substancial tê-lo tão próximo e daí tecendo a vida ao invés de deixar simplesmente o tempo correr.

Por todas as vezes que brincava com a sua locução apressada, suprimindo sílabas, e desse modo fazendo o que toda cidade do interior costumava fazer ao criar personagens nas quais se reflete. E, no entanto, apesar de ser uma locução que fugia a todos os parâmetros daqueles tempos de impostação, não fora somente ali que sua substancial contribuição se dera. Foi no conteúdo informativo, na base constitutiva da uma história. Foi no tratamento incansável desse conteúdo, sem jamais aposentar-se do que considera o processo de viver. Falo de Huberto Cabral, irmão de Bernadete e Sara, pai de Germana a discreta e substantiva jornalista entre aqueles que pontuam no jornalismo cearense.

Se soubesse naquele tempo o mundo que Huberto Cabral transporta no curso do tempo em nome do Crato, não teria perdido tantos dias e noites a compreender o tempo que ele, pelo tanto que passou, outro que acontece já formulando o futuro consegue limpar no cascalho do esquecimento.

Por todas as vezes que não o considerava maior do que o anonimato, apesar do seu talento musical, simultaneamente surgindo e sendo posto como detalhe de um nome solar da Música Popular Brasileira. Por verdade que a posição de um emprego estável e de boa referência social o tenha relativamente acomodado enquanto Luiz Gonzaga vivia o remanso de seu caudal de sucesso num semiexílio em sua Nova Exu. De qualquer modo Hildelito Parente, no seu mundo particular, sem ter sido um músico profissional, é a força da música nordestina no que ela tem de muito verdadeira.

Se soubesse como já naquele tempo Hildelito Parente tinha a força que tinha, por certo que não o veria como um personagem da vida social na AABB ou na praça em conversa amena. Hildelito representa a ousadia que ultrapassa todas as maneiras de classificar as pessoas: é apenas aparente aquela timidez quase humilde, ele tem uma Chapada inteira a expressar sobre o tempo e o espaço.

Mas sabemos que os personagens não maiores pelo que são em igualdade sincera ao que tentamos ser e somos verdadeiramente.  

sábado, 24 de novembro de 2012

Rebento querido - José Nilton Mariano Saraiva

Filho de ex-ministro é levado para delegacia após acidente de trânsito
Ciro Saboya Ferreira Gomes, 27, foi preso na manhã deste sábado, por volta das sete da manhã, após se envolver em um acidente de carro no cruzamento das ruas Ildefonso Albano com Costa Barros, no bairro Aldeota. Chamados ao local, policiais militares deram voz de prisão a Ciro, acusando-o inicialmente de desacato e de ter se recusado a fazer o teste do bafômetro.

Ao ser detido, Ciro foi levado para o 2º Distrito Policial, no bairro Meireles. Logo que soube da ocorrência, o pai de Ciro, o ex-ministro Ciro Ferreira Gomes, também foi acompanhá-lo na delegacia. O delegado geral da Polícia Civil, Luís Carlos Dantas, esteve no 2º DP. Por volta das 11h30min, após prestar depoimento, o jovem foi liberado.

Ciro dirigia um Honda Fit preto quando colidiu com um Fox prata. Havia duas pessoas no outro veículo e pelo menos uma delas saiu ferida. Policiais informaram à imprensa que o jovem apresentava sinais de embriaguez. O carro de Ciro foi apreendido porque estava com licenciamento atrasado.
OBS:
Na nota acima, publicada no site do jornal O POVO, faltou um “pequeno detalhe”: segundo divulgado pela televisão Verdes Mares, a Polícia teria encontrado certa quantidade de maconha no interior do veículo. Aliás, não é a primeira vez que referida figura se mete em encrenca (e sempre reage com arrogância e desrespeitando a autoridade competente).

Tudofel: Menina real

Tudofel: Menina real: O dia estava mais quente ainda. Teresina, afinal. 1994. Maternidade Evangelina Rosa. Portanto duas rosas a receberam na luz deste...

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Tudofel: As 'pérolas' da Rolling Stone

Tudofel: As 'pérolas' da Rolling Stone: Somente agora tive acesso à revista Rolling Stone de outubro, edição especial de seis anos de aniversário da versão em português. Cap...

Jefferson de Albuquerque Junior – O mundo é seu lugar



Um andarilho do cinema com trabalhos desenvolvidos nos mais diversos estados brasileiros e com uma preocupação política nos seus trabalhos, em especial pela questão ambiental Jefferson de Albuquerque Junior vem desenvolvendo o seu trabalho de cinema e educação cinematográfica no Brasil.  “Mesmo não sendo panfletária a arte é o reflexo de uma época, e direta ou indiretamente reflete o momento político...arte tem que ser participativa, engajada...mas sem perder a beleza, a estética... ressalta o cineasta.


Alexandre Lucas - Quem é Jefferson de Albuquerque Junior?

Jefferson de Albuquerque Junior -
Modado
nos tempos
Passado
re-moendo ando no espaço.
Mudando vida
caminhando canto
pelas ruas
passo e ando
chego lá!

Sou um caririense apaixonado pelo mundo, pela vida...Tenho raízes...mas não sou árvore, o mundo é meu lugar...tanto faz Crato, como o Rio, como Bahia, com Vitória, Itaúnas, Brasilia, Lima, Buenos Aires, Lisboa, Paris...me sinto bem em qualquer lugar e participo sempre ativamente  das atividades artísticas e culturais no local onde me encontro...sou participativo...ativo no processo de criação...na lutas pela preservação ambiental de todo um planeta...sou Latino Americano nascido no Crato...sou um “Caririoca”!

 
Alexandre Lucas – Quando se deu os seus primeiros contatos com as artes?

Jefferson de Albuquerque Junior - No Instituto São Vicente Ferrer, no Crato, das irmãs Anilda e Alda Arraes, quando faziamos nosso teatrinho...assistindo os filmes do Cine Cassino, Moderno, Educadora...Depois na Bahia, vivendo na efervescência do Teatro Vila Velha, vendo a turma da Bahia nascer para a música...estudando Cinema com Guido Araújo e Walter da Silveira, na UFBA...a seguir em Brasilia, na UnB, no curso de arquitetura...



Alexandre Lucas -  O que foi fazer cinema no Cariri no tempo que você inicio sua carreira?

Jefferson de Albuquerque Junior - Comecei a fazer cinema em Brasília, depois vim para o Cariri, fizemos uns dois super 8, um ficção com Pedro Ernesto Alencar e Rosemberg Cariry, entre outros (Múcio,Célia teles, Zulene e Socorro Sidrim, Jackson Bantim...)o outro sobre os Penitentes das Cabeceiras, em Barbalha, com Cristina Prata e Pii (Maria do Carmo Buarque de Holanda)...não era tão fácil como hoje...não tínhamos equipamento...o Pedro Ernesto, como era o rico da turma ganhou uma Câmera de Super 8.... a Cristina trouxe de São Paulo...éramos pioneiros...

Alexandre Lucas - Fale da sua trajetória

Jefferson de Albuquerque Junior - Depois disto veio a produção do longa "Padre Cicero",  do Helder Martins, onde fui cenógrafo e ator...fui embora com a equipe para o Rio me profissionalizar. A equipe deste filme era das melhores, Zé Medeiros como fotografo, Walter Carvalho e Antonio Luiz como assistente  de câmera, Cacá Diniz como produtor...Jofre Soares, Dirce Migliaço, Cristina Aché, Heliana Menezes, Ana Maria Miranda no elenco...Depois Marcos Matraga e Hermano Penna vieram fazer um Globo Repórter "Juazeiro do Padim Cicero', fiz cenografia e assistente de produção...No Rio logo consegui trabalhar em "Lúcio Flávio- O Passageiro da Agonia de Hector Babenco, com Reginaldo Farias, Grande Otelo, Ana Maria Magalhães, Pereio, Lady Francisco...daí um filme puxava outro, eu como cenógrafo (na época não chamavam direção de arte...trabalhei a seguir em A Rainha do Rádio, de Luiz Fernando Goulart, com Nelson Xavier, Paulo Guarniere, Ana Miranda..."Amantes da Chuva" de Roberto Santos, "Eles Não usam Black-Tie" de Leon Hirzman, com Guarniere, Fenanda Montenegro, Bete Mendes ....Também ressalto  "Asa branca- Um Sonho Brasileiro" de Djalma Batista, que lançou Edson Celulari....Depois destes ainda participei de vários outros longas com diretores paulistas, brasilienses, mineiros e cariocas, até ajudar como produtor executivo, cenografo e diretor de produção de filmes cearenses como "Tigipió" e "O Calor da Pele" de Pedro Jorge de Castro, "O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto", "O Guerreir Alumioso" e "Corisco e dadá" de Rosemberg Cariry, e Diretor assistente de "Luzia Homem" de Fábio Barreto, com Claudia Ohana, Zé de Abreu, Thales Pan Chacon entre outros do elenco cearense, como Antonieta Noronha e Ari Sherlock ...Dos curtas metragens cearenses na mesma função fiz "Cotidiano Perdido no Tempo" e O Ultimo Dia de Sol, de Nirton Venâncio; O Pau Brasil, de Francis Valle. Como roteirista e diretor fiz  "Dona Ciça do Barro Cru' em 1980, um premio da FUNARTE, 'Músicos Camponeses", "Patativa do Assaré- Um Poeta do Povo" em parceria com Rosemberg, todos estes também premiados no CONCINE e prêmios em festivais da Bahia, Brasília e Gramado. "Ana Mulata" foi uma ficção baseada em conto do meu avô materno Jose Alves de Figueiredo ...além de "Arrais taí" e "Um Artista Chamado Zé"....Mais recentemente, com o meu retorno ao Cariri, fiz os três médias metragens sobre a Chapada do Araripe 'Chapada do Araripe- A Questão dos Fósseis", "Chapada do Araripe-Uma questão Ambiental" e "Chapada do Araripe-Uma visão do Futuro". Por fim com prêmio da SECULT-CE adaptei um conto do José Flávio Vieira, "O Cinematógrafo Herege", uma comédia com elenco caririense e agora com outro edital da SECULT, estamos lançando "UMA HISTÓRIA DA TERRA", documentário sobre a ocupação do Caldeirão pelo MST em 1991 e hoje, 21 anos depois. Entre estas atividades no Cariri, orientei 40 curta metragens ambientais no estado do Espírito Santo,no MOVA CAPARAÓ ITINERANTE, na região do Caparaó e do Rio Itaúnas, além de dirigir um curta e um média..."Mosaico Capixaba", ficção e "Parque Estadual de Itaúnas e a Mata Atlântica"....Com estes trabalhos recebi o título  de Cidadão Espírito Santense. Na TV Globo fiz os cenários da mine série 'O Pagador de Promessas' de Dias Gomes, com direção da minha amiga Tizuca Yamazaki e cenário de uma edição especial de "A Grande Família"...

Alexandre Lucas – Quais as influências do seu trabalho?  

Jefferson de Albuquerque Junior - Uma grande influência foi uma mistura de Cinema Novo e Chanchadas brasileiras, além da estrangeira na Novelle Vouge, realismo italiano, também os filmes de Igmar Bergman...estes filmes passavam no Crato, no Cine Cassino e Cine Moderno e depois nos cinemas de Salvador. Um dos diretores que mais me influenciaram no Brasil foi Walter Lima Jr., além de Leon Hiczman e Roberto Santos, e o nosso Hermano Penna, com quem fiz "Fronteiras das Almas" e agora recentemente "Os Ventos que Virão"... 

Alexandre Lucas – Como você analisa a produção cinematográfica brasileira? 

Jefferson de Albuquerque Junior - Venho de uma geração logo pós cinema novo, geração da EMBRAFILME e vejo com bastante alegria um período fértil de produções descentralizadas do eixo Rio x São Paulo, com destaque para o polo de Pernambuco e também muitas produções cearenses. Nesta fase do cinema digital, mais democrático, agora produzir um filme digital esta sendo possível para todas as classes sociais... antes apenas uma elite produzia, hoje não...mesmo tendo uma grande dificuldade na distribuição, apenas as produções globais conseguem uma fatia grande do mercado..mas temos a internet para divulgar, os cine clubes... A distribuição ainda é o grande gargalo do nosso cinema....se produz muito, mas se distribui pouco, poucos assistem o que esta sendo produzido...A esperança agora é a nova lei de mercado para as TVs por assinatura...

Alexandre Lucas – Como você analisa a relação entre arte e política?

Jefferson de Albuquerque Junior - Uma é consequência da outra..Não consigo divorciar arte de política...Mesmo não sendo panfletária a arte é o reflexo de uma época, e direta ou indiretamente reflete o momento político...
arte tem que ser participativa, engajada...mas sem perder a beleza, a estética...

Alexandre Lucas – Você acredita que o cinema é um instrumento político e  educativo?

Jefferson de Albuquerque Junior - O modo de viver capitalista e o socialista tem  no cinema o grande divulgador...cinema é também comunicação, as grandes idéias, as ideologias políticas estão transparentes no cinema, na TV...Na educação o cinema é uma grande arma, instrumento, muito embora poucas escolas na pratica o adotem, é tão fundamental assim como os livros...

Alexandre Lucas - Quais os trabalhos que você atualmente está desenvolvendo?  

Jefferson de Albuquerque Junior - Atualmente estou, com muitas dificuldades, desenvolvendo o Projeto Audiovisual de Educação Ambiental da Chapada do Araripe, com o  projeto piloto no municipio de Barbalha e nas ONgs Juriti e Zaila Lavor de Juazeiro do Norte e da comunidade do Carrapato, no Crato. Trabalhamos com a noção de pertencimento da região da Chapada do Araripe, com exibição dos filmes bases d projeto, discussões e oficinas de realizaçaõ audiovisual...no final os alunos produzem filmes ambientais sobre as suas relações com a Chapada do Araripe, em ficção ou documentário. Também independente do projeto, participando dos editais da SECULT...e produzindo filmes com nossa temática, com a história fo nosso povo... 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012


Daqui a pouco, no Cariri Encantado- Sonoridades! (porque é quarta-feira) a gente vai conversar com o Ernesto "Ecobike" Saraiva, um dos mais ativos ambientalistas que conheço. Você pode sintonizar o programa pelas ondas sonoras da Rádio Educadora do Cariri, 1020 Khz ou pela internet no link:
www.radioeducadora1020.com.br. Começa por volta das 14 horas!

PÃES DA VIDA - José do Vale Pinheiro Feitosa


Do Posto 4 em Copacabana, saindo da Constante Ramos, seguindo por Ipanema até a Afrânio de Mello Franco logo após o Jardim de Alá. Daí até a Lagoa Rodrigo de Freitas e passando pela sede de Remo do Flamengo, até um pouco além da sede de Remo do Vasco e entrando na Rua Maria Angélica no Jardim Botânico.

No varejo, no solado do pé, encontra-se a poupança da fama da cidade. Ainda em Copacabana o Márcio Braga, ex-presidente do Flamengo, Deputado Federal e dono de Cartório, teima em andar na ciclovia quando tem o calçadão inteiro para dividir com outros. Mais à frente o Nilo Batista, criminalista, ex-Governador do Estado com sua companheira Vera Malagutti. Adiante é o próprio Cangaceiro, alto, rosto fechado e passo certeiro, passou o Zé Ramalho. O Ruy Castro arredondou-se e formatou-se como um farto barril de Chopp. Bom a poupança da fama é vasta, mas não é nos calçadões de Copacabana, Ipanema e Leblon que minha narrativa ficará.

Logo na chegada à Lagoa, em frente ao Flamengo, avisto adiante todo o círculo da minha atenção. Uma mulher de estatura mediana, mais para magra, muito branca e com cabelos louros, quase prata. Veste uma bermuda creme claro, blusa branca com listras azuis marinho em sentido horizontal, como estampas de prisioneiros. Os tênis roubam as minhas pupilas: um róseo intenso, diria que solferino. A cabeça coberta com um chapéu branco, de tecido de modo que as abas deitam e balançam ao caminhar.

Ela segue num ritmo apressado de modo que é quase impossível acompanhá-la. Mas tento não perder o contato e sigo com curiosidade. Ela dobra na ciclovia e passa junto à montagem da Árvore de Natal da Lagoa já muito próxima de ser iluminada num sábado festivo. Minha atenção continua com a mulher e por isso percebo que ela se afasta da pista e vai até a beira da água e joga algo nela. É como se tivesse brincando de jogar pedras.

E vou ao encalço de sua movimentação. O caminhar dela excede à mediocridade: é um andar vivo, agitado, balançando de um lado para outro e os ombros com movimentos laterais e verticais. A cabeça pendula independente do tronco e seu rosto se desvia constantemente aos limites da paisagem, mas centra-se na margem da Lagoa. E preciso esforçar-me para acompanha-la.

Logo após o Clube Piraquê ela desaparece, mas logo a avisto na beira da Lagoa jogando algo novamente. Então percebo do que se trata: ela joga pedaços de pão para as aves que vivem na e da vegetação peri-lagunar: como o socozinho, o savacu, várias garças e inclusive o biguá. Mesmo com estas breves saídas eu não consigo chegar perto a ponto e examinar seu rosto. Ela segue na mesma marcha apressada.

E passo a notar outras características do seu caminhar: o braço direito normalmente é fixo com a mão segurando o canto anteroinferior de uma grande bolsa de pano branco onde ela carrega os pães para alimentar as aves. O braço esquerdo agita-se para frente e para trás e por vezes ao lado se afastando do seu corpo. Ela é um todo agitado e sai mais uma vez para, igual a Maria do João e Maria da história de fadas, deitar as migalhas de pão ao chão.

Foi aí que percebi a história. Aquilo tudo tinha um significado narrativo. Os socozinhos logo que a viram correram em direção a ela para então receber o alimento. Aí toda aquela observação passou a ter um sentido. As aves as reconhecem independente de antes ter sido lançado o pedaço de pão. Elas correm tão logo percebem a aproximação daquela mulher entre milhares de pessoas que circulam diariamente pela beira da Lagoa. E a curiosidade atormentou-me ainda mais.

Apressei o passo a ponto de que numa dessas saídas dela pude ver-lhe o rosto. Uma mulher nas vizinhanças entre a segunda metade dos cinquenta ou a primeira metade dos sessenta anos. Óculos escuros, rosto de nariz muito afilado, boca de lábios finos e queixo levemente pontudo, embora a face fosse mais arredondada do que cumprida, embora magra. Aí fiquei entre a conveniência ou não de perguntar-lhe se de fato as aves a reconheciam. Mas a estranheza das ruas é tamanha que é preciso ousadia para não encontrar um dissabor.

Estava naquela curiosidade endividada quando novamente ela vem apressada e passa ao meu lado e pergunto: eu percebi que as aves correram assim que ti viram. Elas te reconhecem?

Sim. Logo que me aproximo.

Você faz isso há muitos anos?

Muitos. Mas é preciso usar sempre esse chapéu. Se for outro elas não reconhecem.

E seguiu no passo apressado dela jogando pão para as aves da Lagoa. Eu fui maneirando o ritmo, estava chegando a hora de entrar na Rua Maria Angélica.

Como a Lagoa é circular, igual a um socozinho, espero encontrar o retorno daqueles pães da vida no próximo dia.     

Tudofel: Janinha ou Joplin?

Tudofel: Janinha ou Joplin?: Geraldo Urano, poeta maior, escreveu um verso, em um poema em prosa intitulado Craterdã (foi a primeira vez que ele citou esse ne...

Tudofel: A Turma do Parque

Tudofel: A Turma do Parque: 1983, como diz um chavão, foi um ano de graça. Foi quando lançamos o jornal Folha de Piqui e retomamos o Salão de Outubro. Foi quan...

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A Guerra Vem Aí? - José do Vale Pinheiro Feitosa


As interpretações geopolíticas do violento ataque de Israel à Faixa de Gaza dão conta de uma ação conjunta Americano-Israelense que interessam às eleições de Netanyahu, à futura campanha de Hillary Clinton para substituir Obama, a testes de mísseis Israelenses e a treinamento para um futuro ataque ao Irã. O ataque israelense começou com um chefe militar do Hamas, matando-o com uma ação pontual de um míssil enquanto este era um negociador da paz.

No meio da fumaça e do sangue palestino, inclusive de crianças, quem sumiu do noticiário foi a Síria. A Líbia já não existe mais do ponto de vista da mídia ocidental. Surge o Egito como protagonista num jogo de balanço que não tem um toque militar, mas serve de protagonismo para Israel cessar os ataques por algumas horas. Quando parecia haver uma coincidência entre Israel e a Turquia em relação a mísseis lançados em direção à fronteira da Síria, eis que Erdogan critica Netanyahu.

O que se tem disso tudo? É que uma zona rica em recursos estratégicos para as economias em crise está aparecendo continuamente em matéria de conflito e morte. Isso parece um ensaio para as portas de um “body-trip” como evocavam os viajantes psicodélicos. Estará o mundo a eviscerar o verdadeiro sentido da atual crise do capitalismo? Aquelas mesmas crises que redundaram numa grande guerra distribuída em dois estágios: primeiro e segundo.

Faltaria o elemento geográfico da guerra? Afinal os atuais atores para um grande conflitos são intercontinentais, não se configuram apenas no território de um continente como foi inicialmente a Europa e só depois o Japão com o Eixo. Mas aí é que vem a questão do Oriente Médio. É o ponto onde o enredo intercontinental tenebroso se desencadeará envolvendo todo o sudeste Asiático, novamente o Japão e aí os rugidos maiores: a China e os EUA.

Nós aqui na América Latina somos parte desse conflito que como deve ser ressaltado não é meramente militar. O aspecto militar e o terror das mortes é uma superestrutura daquilo que a crise da estrutura econômica do capitalismo passa. Num grande conflito, todas as operações financeiras e comerciais se desarranjam e isso significa desabastecimento, redução da produção, enorme impacto ambiental e uma depressão simultânea a grandes conflitos sociais até nos bairros onde vivemos. 

Haverá um dia seguinte ao conflito? É da natureza da esperança humana, mas isso é desconhecido: pela primeira vez o desespero pode andar junto com bombas atômicas e outras estratégias de destruição em massa, além de grandes desarranjos físicos nas estruturas de reservas de água, de fontes de energia e assim por diante. Basta recordarmos a primeira guerra do golfo com as imagens dos pássaros afogados em petróleo para termos um símbolo do impacto ambiental.

Um cenário desse é um desespero dado que recente relatório da ONU aponta com clareza o efeito do aquecimento global e já associa claramente as recentes tempestades na América Central e Norte a esse processo. Os relatórios já apontam as áreas costeiras sujeitas a impactos mais próximos no tempo do que se imaginou. Com uma guerra de grandes proporções isso tudo pode tornar o “lar humano” numa esquife à memória, mas sem testemunhas a relembrar. Restarão apenas as teias de aranha entre uma tumba e outra.

Nossos blogs andam tão desanimados em comentários que peço se você conseguiu ler até aqui, pelo menos manifeste que o leu.  

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

José Mendes de Sá Roriz um Cratense Tortura do Morto - José do Vale Pinheiro Feitosa


Uma coisa interessante na história do Ceará é a participação de sua gente nos grandes eventos históricos do país. Não vou citar amplamente quadros da literatura, pintura, heróis, historiadores, fundadores de religião e assim por diante. Vou lembrar a contribuição de cearenses para as fileiras do Partido Comunista Brasileiro e por este engajamento viveram grandes perigos em sua vida.

O Médico Isnard Teixeira foi uma referência importantíssima, tendo vivido na Bahia e aqui no Rio orientou muita gente, entre elas Carlos Marighella. Quadros importantes do PCB eram cearenses, mas vou destacar uma pessoa muito especial: José Mendes de Sá Roriz.

Nasceu no Crato em 1927, filho de Belarmino de Sá Roriz e Leonina Mendes de Sá Roriz. Lutou na segunda guerra mundial, recebeu inúmeras condecorações e ali perdeu um olho. Durante um ataque na Itália Sá Roriz com risco de morte salvou a vida do General Cordeiro de Farias.

Reformado como 2º Sargento foi morar no Rio de Janeiro onde entrou para o PCB. Participou em movimentos sindicais, foi candidato a deputado federal e membro do Grupo do 11 fundado por Brizola.

Com o golpe de 64 foi preso, torturado e em 1965 foi exilado para o México. Lá ficou até 69 quando resolveu retornar ao Brasil pois um dos filhos estava com uma grave doença. Retornou clandestino.

A família de Sá Roriz vivia sendo presa para forçar o encontro dele. Em 28 de março de 1973 quadros da repressão invadiram sua casa, prenderam e torturaram seu filho mais novo de 17 e toda a família ameaçada até que Sá Roriz se apresentasse. Sá Roriz apresentou-se ao Marechal Cordeiro de Farias a quem salvara a vida, o filho foi libertado e Sá Roriz ficou 17 dias no DOI-CODI/RJ onde foi morto.

Esta história é para lembrar-nos que o ser humano se encontra sempre em primeiro lugar. Por isso mesmo práticas políticas violentas podem ser até justificadas na história, mas quando um país é tomado por um grupo político que “terceiriza” a violência para grupos a política é ferida e a corrupção humana mais perversa prevalece.

Espero que os gritos contra a corrupção não se tomem de espírito apenas pelos cofres públicos, mas tomem de horror igual e ao mesmo tempo pelo acúmulo de riquezas e pelos assassinos de alugueis e por aquele s que usurpam o poder popular para lhes perseguir.  




Pio



A s cidades, talvez por serem do sexo feminino, guardam no closet um sem número de vestidos que os vai escolhendo, propiciamente, conforme a ocasião. Há as roupas de gala  para os ensejos festivos, os uniformes mais recatados para os dias de labuta, as fardas para os momentos mais tensos , os hobbies para os instantes mais caseiros. À noite, quando passeiam pela periferia, as cidades, em feitio de baile carnavalesco, gostam de envergar fantasias e máscaras e se esbaldam, na surdina, que afinal ninguém é de ferro! E são em geral os poetas, os boêmios, os sátiros que ajudam as cidades a se travestirem para o corso,  quando os olhos oficiais da vila já ressonam. As fotografias registram as cidades com as vestes mais chiques e burocráticas, os trapos do bloco de sujos, em geral,  passam despercebidos das câmeras, dos flashes e da   história.
                                               O Crato sempre foi muito afeito às fantasias de carnaval e trajou-as, sempre, com quase igual  freqüência com que  portou os vestidos longos e seus penduricalhos. E aqui tivemos estilistas carnavalescos do mais fino jaez : Chico Soares, Melito, Zé de Matos, Zé Gato, Abidoral Jamacaru, Zé Ribeiro, Chico Piancó , Júlio Saraiva, isso para falar apenas de alguns nomes mais icônicos. Pois bem, hoje , vou relembrar uma das mais irreverentes figuras do Cariri . Chamava-se Pio Carvalho e nasceu em terras de Frei Carlos em 1877. Fez a última viagem, já velhinho,  em 1963.  Foi poeta , chegou a escrever um livrinho que ainda vi na biblioteca do meu avô materno, onde mesclava poemas e histórias bem humoradas.
                                                No primeiro quartel do século passado , espírito aventureiro, saiu mundo afora com outro personagem presepeiro da cidade, Teófilo Siqueira,  que era Boticário aqui, na Rua do Fogo. Pio receitava e Teófilo, que já levava os remédios acondicionados na carga  de um burro, aviava as receitas, mato adentro. Rápido no gatilho, Pio tinha um finíssimo senso de humor. Pena que a maior parte das suas tiradas tenham se perdido, possivelmente, por conta do alto teor de pimenta que carregavam. Vou lembrar algumas neste artigo que me chegaram de língua em língua , deixo-as aqui registradas , antes que a fuligem do tempo as soterre.
                                               Na famosa viagem empreendida por Pio e Teófilo, como bandeirantes, levando uma medicina rudimentar para o interior do Nordeste, consta que , um dia, pediram guarida na casa de um matuto. À noite, sabe-se Deus como, Teófilo saiu sorrateiramente e terminou bolinando uma das filhas do hóspede que dormia numa rede , num quarto próximo. Houve uma gritaria danada e Teófilo, descoberto, fingiu que era sonâmbulo. No outro dia, já novamente na estrada, Pio que não engoliu a versão, quis saber a verdade. O boticário desconversou e disse que estava com sede e tinha ido procurar a quartinha, na cozinha e errara o caminho. Pio , incrédulo, retrucou:
                                               --- Conversa fiada, Teófilo ! Gargalo de quartinha não tem cabelo, não !
                                               Rapazinho  Pio Carvalho tinha um retrato oficial para ofertar às namoradas que se sucediam. Escrevia atrás, apaixonadamente : “ Fulana, receba este retratinho como prova do meu amor por ti!” Quando o romance terminava, Pio colava um papel atrás da fotografia e esperava um novo amor. Encetado novo namoro, repetia, agora já no papel novo, a mesma frase, trocando, claro, o nome da antiga amada, pela nova conquista. Passados os meses, papel após papel colado e sobreposto atrás da foto, a fotografia começou a aumentar muito o volume. Tanto que um dia, Pio já escreveu :
                                               --“Querida Eufrázia, receba este tijolinho, como prova do meu amor por ti. Do Teu, Pio” .
                                               Do livro de Carvalho, que ainda folheei, lembro-me de uma história bastante interessante. Chegara um circo novo numa pequena cidade do interior, quem sabe, Matozinho ? Como sempre, os artistas saíram em cortejo fazendo propaganda do espetáculo. Visitaram a casa de autoridades e , depois, foram até à igreja visitar o padre e pedir a bênção, uma vez que iam instalar o circo ali na Praça da Matriz e temiam algum protesto da igreja que não gosta de concorrência. Entraram dois malabaristas, no templo, plantando bananeira e foram, assim, falar com o vigário, artisticamente, levando-lhe alguns ingressos de cortesia para abrandar-lhe o coração.  Nisso , entraram duas beatas na igreja, que não sabiam da novidade e se achegavam para a confissão da tarde. Ao verem os dois homens de ponta cabeça , uma se assustou e avisou à outra :
                                               --- Comadre, vamos voltar já  ! A penitência do padre hoje tá prá lascar e , com um calor danado desses, nós num viemos prevenidas , não !

J. Flávio Vieira