TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 25 de junho de 2013

Beirando ao "anarquismo" - José Nilton Mariano Saraiva

Como até um índio de uma dessas tribos fincadas na mais recôndita área do “Alto Xingu” deve saber, o poder de influência de uma televisão é, indiscutivelmente, algo sério e determinante, porquanto tanto pode alavancar como destruir reputações, eleger um desconhecido ou acabar com o político tradicional que se julgue inatingível, catapultar do anonimato um desconhecido qualquer elevando-o aos píncaros da glória e por aí vai.
Pois bem, depois de tudo o que assistimos nos últimos dias, não há como não desconfiar que, quando uma emissora de televisão do porte da Rede Globo (uma concessão governamental, lembremo-nos), que cobre todo o território nacional, detém a liderança da audiência e onde 30 segundos de inserção comercial custam os “olhos da cara” optou por renunciar a tal receita (suprimindo a veiculação de qualquer propaganda por cerca de quatro/cinco horas ininterruptamente, contemplando inclusive o seu horário nobre) e, valendo-se de todo o seu exército de correspondentes dedicou-se a um único tema (as manifestações, em todo o país), provavelmente buscava atingir a mais sórdida das intenções: um levante popular de peso objetivando estimular um “golpe” contra um governo democraticamente eleito. Ou não foi isso que acompanhamos durante os últimos dias quando da eclosão do movimento paredista que, iniciado em São Paulo e após a entrada em campo “full time” da Rede Globo espraiou-se como um rastilho de pólvora por todo o Brasil, de norte a sul, leste e oeste ???
E aqui cabe uma ressalva: claro que o objetivo primeiro do movimento paredista (barrar o aumento abusivo no transporte coletivo) foi e é perfeitamente justificável, assim como ficou evidente que faltou jogo de cintura às “autoridades competentes” (de São Paulo) que pisaram feio na bola e, conseqüentemente, devem ser responsabilizadas pelo acirramento dos ânimos, ao procrastinarem uma decisão que, ao fim, acabaram por ter de tomar: o recuo do aumento nos preços das passagens de ônibus, trem e metrô.
Pois, foi justamente no vácuo propiciado pela irresponsável demora em decidir, que o movimento paredista engrossou, houve a entrada de oportunistas e irresponsáveis novos atores em cena, pautas outras foram agendadas às pressas e, enfim, se deflagrou o caos, a balbúrdia e por muito pouco beiramos o anarquismo.
É oportuno ressaltar que, apesar dos notáveis avanços, principalmente na área social, obtidos desde o primeiro governo Lula até os dias atuais (reconhecidos aqui e lá fora), em sã consciência ninguém pode concordar com determinadas coisas e situações que aí estão postas, e que figuras abjetas e desprezíveis da estirpe de um Sarney, Renan, Agripino e outros se achem na posição que ocupam; só que não podemos esquecer terem sido ungidos pela vontade soberana do povo e, portanto, temos de suportá-los até que uma ampla reforma política seja providenciada.
E aqui (mesmo que “por tabela”), chegamos ao mérito maior de tal movimento paredista: forçar a que se desfralde a bandeira de uma mudança radical no nosso sistema político, com a inclusão de dispositivos que permitiam ao próprio povo “destronar” aqueles que, postos no trono por ele (povo), não correspondam à expectativa depositada; assim, através de uma espécie de “recall” político, tal medida seria imediatamente efetivada e os “reprovados” dispensados, de pronto. Só que aí teríamos que contar com a boa vontade dos próprios congressistas (votariam contra seus próprios interesses ???), a fim de emendarem a Constituição Federal e/ou convocarem uma Assembléia Constituinte para tratar a respeito.

Não é de estranhar, pois, que a presidenta Dilma Rousseff, que vivenciou tal quadro em sua juventude e conhecedora de onde poderia desaguar tal movimento, não se tenha deixado levar pela “corda” que lhe foi dada pelos próprios manifestantes (reagir de forma impulsiva e violenta) se antecipou e, pacientemente, além de elogiar e reconhecer a legitimidade das manifestações, de par com medidas pontuais (considerar a corrupção um crime hediondo, por exemplo) tomou a iniciativa de sugerir a adoção de um plebiscito popular visando aprovar tal dispositivo (Constituinte exclusiva). Deixou claro, ainda, Sua Excelência, que os excessos a partir de então terão que ser coibidos, porquanto soa injustificável a depredação do patrimônio público, bem como o impedimento do ir e vir das pessoas. 

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