J. FLÁVIO VIEIRA
Brasi de Baxo subindo,
Vai havê transformação
E a liberdade de imprensa
Vai sê legá e comum,
Em vez deste grande apuro,
Todos vão te no futuro
Um Brasi de cada um.
Patativa
O certo é que o ninho tucano já tinha
preparado o alpiste e o xerém para comemoração. A Grande Mídia, devota aliada,
já havia colocado o smoking para a festa e havia filhotes por todo o terreiro
esperando o aviso para começar o rapapé. O diabo é que o tiro saiu pela culatra
e todos ficaram encandeados com o brilho de uma estrela que resplandeceu nos
céus do Brasil. Baile desfeito, fantasias rasgadas, o desapontamento da Mídia
levou-a, imediatamente, a buscar culpados pelo cancelamento das festividades. E
o culpado mais óbvio, quem seria? Ora, o mordomo !
De
imediato os colunistas dos grandes jornais, mostrando mapas e infográficos,
tentavam demostrar que o país estava dividido: Norte e Nordeste, todo vermelho
; Sul, Sudeste e Centro-oeste azuis. A pobreza, o atraso, a dependência
econômica haviam eleito a candidata pior. As Redes Sociais, de repente, se
viram atulhadas de insultos , impropérios, ameaças, ditos preconceituosos
contra nortistas e nordestinos, coisas dignas do III Reich. E o bombardeio não
pára ! A Casa Grande não se conforma com qualquer movimento abolicionista, parece
que vivemos ainda em pleno Século XIX.
Se o eleito tivesse sido o candidato tucano, com a mesma margem de
votos, a linha editorial seria
completamente diferente. Não haveria divisão, estava tudo perfeito, a virada
era mais que esperada, finalmente brotava a esperança no país. Basta ver todo o
material pronto pela UOL, ligada à Folha de São Paulo, já pronto para
comemoração, que terminou vazando depois da derrocada. Só encômios e elogios ao
bravo povo brasileiro.
A
divisão alardeada é a mais perfeita falácia. Não os chamo de levianos porque dá um azar miserável.
Segundo os publicitários , o povo, em todo o mundo, vota de maneira pragmática.
Todo eleitor pensa especificamente em que candidato, se eleito, poderá melhorar
sua vida pessoal e profissionalmente. O nosso bem-estar próprio é o que conta,
a felicidade da nação é apenas uma questão distante e filosófica. Os médicos apoiaram abertamente os tucanos ao
se sentirem feridos pela quebra da reserva de mercado trazida pelo “Mais
Médicos”. Assim, na França, Bordeaux é
historicamente socialista, única e exclusivamente porque seus habitantes
entendem que são os socialistas que têm uma sensibilidade maior para seu meio de
vida : as vinícolas. A Flórida é secularmente Democrata e a Califórnia
Republicana. Se se reparar direitinho, não dá para pintar as regiões do Brasil
de Vermelho ou Azul. Aécio ganhou no Sul
e no Sudeste, mas lá Dilma teve mais de 26 milhões de votos, inclusive mais que
em todo Norte-Nordeste. Cotejem ,
minunciosamente, Fortaleza, onde Dilma
teve franca maioria, possivelmente perdeu nas urnas da Aldeota e do Meireles.
No Leblon, no Rio, Aécio saiu vitorioso. Em
Caetés, Pernambuco, terra de Lula, Dilma teve 90% dos votos, mas 10% escolherem
o tucano. Em São João Del Rey, terra do peessedebista, Aécio teve 65% dos
votos, mas 35 % sufragaram o nome da
Dilma. Em Minas , estado natal do peessedebista, ele levou uma peia histórica. Se
houvesse a divisão alardeada pela mídia e pintada no mapa do Brasil, Aécio
teria sido o grande vitorioso, com uma margem gigantesca de votos. Simplesmente
a população vota naqueles em que mais confia para resolver seus problemas mais
prementes. Pois foram os brasileiros
espalhados no Sul, Sudeste, Norte, Centro-oeste e Nordeste que deram a
maioria absoluta à candidata petista. Há
de haver razões mais justas para
explicar o fenômeno.
A
elite brasileira tem que entender : o voto de cada um dos brasileiros tem o
mesmo valor, independente de raça, cor, grau de instrução, poderio econômico. Os
ricos e remediados sentiram-se feridos
em seus interesses por conta da regulamentação do emprego da doméstica (
ninguém pode mais ter empregada!); pela melhoria das condições de vida da
pobreza que agora tem moto e carro e ninguém mais anda no trânsito; por ter
aparecido nos aeroportos, coisa antigamente só de grã-fino; por não mais querer
trabalhar no campo , só que com diárias de R$ 10,00. Antes de apregoar que foram os votos comprados
pelo Bolsa Família o responsável pela derrota do tucano, têm que afinar
primeiro o discurso. Em off chamam o Bolsa Família de “Bolsa Fome”, “Bolsa Esmola” , o “ vício do cidadão”.
No microfone e no palanque pousam de pais do Programa . Deduz-se, então, seguindo-se as premissas da
elite, que se D. Ruth e FHC são os pais,
então, foram eles os reais responsáveis pela derrota do PSDB nestas eleições.
A
divisão alardeada é perigosa e
potencialmente mortal, quando incita preconceitos vis e seculares. A Globo, a Bandeirantes, a Record, o SBT, a
Folha de São Paulo, o Estadão estiveram em oposição franca e determinada à
Presidente Dilma. A “Veja”, numa atitude criminosa, antecipou uma edição, nas
vésperas do pleito, com denúncias caluniosas e sem prova, tentando mudar o
curso inevitável da história. Sabemos que a liberdade de imprensa significa a
plena liberdade do grande capital em veicular as informações de seu interesse,
pois é ele que financia a Mídia. Pois é essa mesma trupe que agora tenta
seccionar o país no meio, enfiando na cabeça do povo que foram os esfomeados e
esfarrapados que elegeram o PT, em troca de um prato de feijão.
Se
deseja , um dia, retomar o poder, a elite brasileira precisa compreender o Brasil em toda sua dimensão e
complexidade. O mundo vai bem além da Avenida Paulista. Justiça Social tem que preceder à Caridade. O
Brasil, historicamente, não é vermelho ou azul, mas de todas as cores e essa é
nossa mais importante grandeza.
Crato, 29/10/14
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