TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

IDEIAS TÓXICAS E DISCURSOS BÁRBAROS - José do Vale Pinheiro Feitosa

Gente meritocrata é assim. Até os jundiás do rio Batateira sabem. Preconceito e indigestão conceitual é comum diante da erudição a que certas pessoas se obrigam conhecer em cursos de graduação e pós, mesmo que no exterior. É que o conhecimento acadêmico é uma farsa se não considera a realidade que envolve as pessoas.

E essa farsa é o conteúdo principal da meritocracia. É que, nem mesmo os concursos seletivos, conseguem extrair o proveito prático da exposição aos livros, seminários, provas e testes. Não mesmo. É que as provas não questionam o sujeito frente aos outros e como o conhecimento o liberta de si mesmo ao invés de aprofundar ainda mais erros inatos de sua formação social, ética, moral e política.

E numa sociedade restritiva, onde um grupo temeroso e apegado aos próprios méritos olha para a imensa população excluída com aversão e medo, nem o pós-doutorado resolve questões éticas e nem mesmo vícios científicos e filosóficos graves. Sobre este último aspecto temos exaustão deste tipo escrevendo na grande mídia: Olavo de Carvalho, Condé, Villa e por aí vai. Grande paredão de estupidez e arrogância que reflui a ciência aos estágios da idade média.

Mas políticas públicas inclusivas, que abrem portas antes fechadas, que iluminam cantos antes escuros, que levantam tapetes e revela aqui que acontecia por baixo dos panos sempre expõe certa virulência residual. O maior exemplo disso é o das corporações médicas ao enfrentar a questão do programa de governo Mais Médico. É o mesmo de setores da universidade ao avaliar a entrada de cotistas sociais e raciais.

Até que o processo seja absorvido eles sabotam, exacerbam a ignorância humanitária (humanita traduz-se por conhecimento), expõem todo o anacronismo das posições sociais dos seus pais e avós e, pior de tudo, dizem tantas barbaridades que negam todo o ritual universitário que deveria existir em seus pilares: ensino, pesquisa e extensão.  Olhem o exemplo abaixo dito pelo professor Manoel Luiz Malagutti, de Santa Catarina, professor de economia da Ufes, com doutorado na França. Ele assim se expressou numa discussão sobre cotas nas universidades:

“(...) eu coloquei que se eu tivesse que escolher entre dois médicos, um branco e um negro, com o mesmo currículo, eu escolheria o branco. Por que eu escolheria o branco? Os negros, em média, vêm de sociedades, de comunidades menos privilegiadas, para a gente não usar um termo mais forte, e nesse sentido eles não têm uma socialização primária na família que os tornem receptivos aos trâmites da universidade, à forma de atuação da universidade, aos objetivos da universidade. Eles têm muito mais dificuldades de acompanhar determinadas exposições. Eu não acho que é uma visão preconceituosa, acho que é bastante realista.”

Como o professor já tem mais de dez anos de ensino, tem doutorado feito em outra língua, estamos falando de alguém que evidentemente já pode ter uma boa capacidade crítica de sua própria experiência. E a conclusão que se chega diante de sua fala é que ele estava falando diante de um espelho. Criticava à própria imagem.


A tendência é que se prefiram conselhos sobre economia de um outro professor que não ele.   

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