Diárias caríssimas. Os hotéis de Armação dos Búzios, postos
nas encostas da chamada Orla Bardot (em homenagem à atriz francesa Brigitte
Bardot que ficou alguns dias no que, então, era uma vila de pescadores). O sol
lentamente de pondo, a aberta enseada cujo lado oposto será visto como um rosário
de luzes no incrível crescimento de Barra do São João e Rio das Ostras.
Na piscina do hotel um grupo de hóspedes conversa alto como
sói acontece nas intoxicações alcoólicas e diante da relevância dos assuntos
que ali tratam. Um apanhado básico: um senhor empregado de uma grande empresa
que faz negócios com petróleo, um sujeito perto dos quarenta anos médio
empresário, sua mulher, uma amiga e um médico residente e sua garota, também,
médica.
O único carioca era o empresário, os demais eram de Juiz de
Fora, no estado de Minas Gerais. O senhor tinha uma fala contínua, um tanto
monótona e tecia considerações técnicas sobre os negócios de suas empresas,
lucros e perdas. O empresário, era o mais exaltado, falava alto, partilhando
suas opiniões com que estivesse no deck da piscina.
A síntese de opiniões e sentenças daquela gente. O Brasil
está falido, tudo é corrupção, os planos de saúde estão falidos, a medicina
pública não existe, a economia está falida, ninguém investe no país. Como tinha
um doutor na roda, fazia residência (e já podia pagar um hotel daquele) o
assunto eram os médicos cubanos. Medicina básica era uma porcaria. Só existe a
especialidade.
Os cubanos porque não foram cuidar do vírus ebola? (igual a
esta gente que fica de Petralha em Petralha usando nomes de fantasia, que não
sabe ler e nem se informa, pois Cuba foi quem mais enviou médicos para combater
o Ebola). E que o governo brasileiro enviava para Cuba todo mês dez mil reais
por cada médico, que assim eram mercenários e as sobras deste dinheiro servia
para financiar as eleições de Fidel e Dilma no Brasil (o restabelecimento de
relações regulares entre Cuba e os EUA vai deixar muita gente sem discurso).
E tinha pérolas da deformação de caráter e qualificação
profissional. O principal recurso médico é a relação humana. Humana no seu
amplo sentido socioeconômico, cultural, psicológico e individual e isso se
aprende, como é óbvio, pela relação direta. Pois o Doutor criticava um programa
federal que oferece pontos na classificação das residências médicas, públicas,
para os médicos que vão prestar serviço na atenção básica dos serviços
públicos.
O governo bem podia, como muitos países fazem, obrigar os
doutores que se educam com o dinheiro do povo a ir aprender a não explorá-los
num estágio obrigatório de dois anos. Não o fez: é optativo, tem um bônus que é
melhorar sua classificação nas provas de acesso à residência, além de ganharem
mais de sete mil reais por mês. O doutor na piscina em Búzios, se achando no
meio da conversa de ricos, quer sua residência em cirurgia e que ganhe muito dinheiro
para voltar à piscina de Búzios e outras fantasias no exterior.
Chamava a atenção o tom alto das mulheres, fazendo capela
para o canto dos machos. Riam das piadas infames. Enquanto o empregado do bar
fazia uma batida de frutas e álcool atrás a outra, os conceitos vomitavam as
belas encostas de Búzios.
A fina flor da cultura “petralha” (tucanalha isso depende do
lado, não é o conteúdo é no método que reside o problema) de internet marcou o
seu desfile naquela piscina. O empresário declarou-se um eleitor orgulhoso de
Jair Bolsonaro (que não precisa de apresentação para quem é de fora do Rio e
que foi o deputado federal mais votado este ano). E, aos risos das mulheres, o
homem abriu o verbo contra a deputada Maria do Rosário que foi agredida pelo
Jair.
Aliás quem viu o vídeo da origem do embrulho pode
interpretar o que aconteceu. Jair dava entrevista a favor da redução da
maioridade penal. Maria do Rosário também e abriu um debate com Jair. Que sem que
e nem para que pediu que ela contratasse um menor estuprador que fora preso em
São Paulo para levar a filha na escola. Uma argumentação pessoal e
desnecessária a este tipo de debate.
A questão é que Jair Bolsonaro retornou ao assunto
recentemente, em pleno plenário e ele repete esta prática agressiva com outros
deputados. Esta é a explicação por trás da notícia. Mas o que o empresário
disse: que absurdo! Vocês viram o nome dela: Maria do Rosário. É nome de coitada.
É gentinha. Rosário! E toda a plateia caiu na risada.
O mais impressionante: este mesmo dito cujo ainda acusou os “petralhas”
de serem responsáveis pela divisão de classe no Brasil. E não vou nem contar,
para não esticar, imaginem o que disseram sobre os vagabundos do Bolsa Família,
chegando a dizer que tinha gente ganhando dois mil reais por mês para não fazer
nada.
Assim, como seus companheiros ali, onde uma caipirinha custa
mais de um terço da verdadeira bolsa família per capita.
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