TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O norte da superação da crise econômica - José do Vale Pinheiro Feitosa

Ontem ao constatar uma manobra da mídia e ao escrever e publicar, sempre se carrega a possibilidade de atingir a convicção de outras pessoas e, por consequência, causar irritação. Nesse momento é preciso um pouco de calma e se compreenda que não há nenhum ataque à dignidade de quem pensa e tem informações diferentes.

Basta que se use destes conhecimentos para, inclusive, contribuir com a realidade visível e invisível das coisas. Este texto tem por referência a entrevista do economista Yanis Varoufakis, que é grego e foi convidado pelo governo do Syriza a conduzir as negociações da dívida do país com as instituições econômicas europeias. E uso como força de argumento para uma um dogma fundamental do liberalismo que é: o indivíduo é que é o móvel do seu destino e a sua posição na sociedade depende apenas dele e do seu esforço.

Agora puxe esta ponta e a ligue ao que Thomas Pikkety vem dizendo sobre os efeitos funestos da enorme concentração de renda e do efeito não meritrocrático da herança de uma geração à outra. E com razão ele diz: ora se o mundo afunila a maior parte da riqueza nas mãos de pouco, torna-se compreensível a formação de uma oligarquia que passa a liderar o destino de todos. E desse modo se tenha por métrica o perigo desta concentração com líderes forjados apenas no exercício do lucro acumulativo e que a todo custo tenta passar estes ganhos para o futuro através de sua descendência.

Em outras palavras é um abismo histórico, onde as lideranças não têm noção alguma do conjunto da humanidade e pensa apenas no cassino do dinheiro e num estilo de vida extremamente oneroso para a sociedade. Como sabemos eles vivem entre nós e o metabolismo deles influi sobre o nosso.

O grande problema para a saída da Grécia da enorme destruição econômica e social é que parte dos europeus, especialmente Alemães e Escandinavos acha que os gregos dançaram e cantaram como as cigarras e quando chegou o inverno quiseram se abrigar nos recursos que formigas passaram o ano todo preparando, num trabalho árduo. A famosa fábula de Esopo.

Agora pegue e junte as duas pontas: uma elite que só pensa no dinheiro, que se torna incompetente para solucionar os grandes e principais problemas das gentes e do planeta. Some o diagnóstico de Pikkety com o de Varoufakis (“estou habituado e um tipo de diálogo no qual que realmente aprendo com você e você comigo: teremos desacordos, mas através deles nossos respectivos pontos de vista se enriquecerão”).

Iremos encontrar uma manobra extremamente perigosa das elites europeias para preservar suas posições econômicas, sociais e políticas. Olhem o que diz o economista grego usando a fábula de Esopo como referência (os alemães dizem que os gregos são preguiçosos e merecem o que estão passando):

“ (...) desgraçadamente, na Europa predomina a estranhíssima ideia de que todas as cigarras vivem no Sul e todas as formigas, no Norte. Quando, na realidade, o que existem são formigas e cigarras em todo lugar. O que aconteceu antes da crise – é minha revisão da fábula de Esopo – é que as cigarras do Norte e as cigarras do Sul, banqueiros do Norte e banqueiros do Sul, digamos que por acaso se aliaram para criar uma bolha, uma bolha financeira que os enriqueceu enormemente, permitindo-lhes cantar e vaganbundear ao sol, enquanto que as formigas do Norte e do Sul trabalham em condições cada vez mais difíceis, inclusive nos bons tempos: conseguir que as contas batessem em 2003, em 2004, não tornou as coisas nada fáceis paras formigas do Norte e do Sul; e logo quando a bolha que as cigarras do Norte e as cigarras do Sul haviam criado estourou, as cigarras do Norte e do Sul se puseram de acordo e decidiram que a culpa era das formigas do Norte e das Formigas do Sul. A melhor forma de fazer isso era confrontar as formigas do Norte com as formigas do Sul, contando-lhes que no sul só viviam cigarras. Assim, a União Europeia começou a se fragmentar, e o alemão médio odeia o grego médio, o grego médio odeia o alemão médio. Não tardará para que o alemão médio odeie o alemão médio, o grego médio odeie o grego médio. Isso já começou não?”


Enfim: o mérito está na sociedade solidária, democrática, onde ninguém passa fome, frio e morre cedo por causas evitáveis. 

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