"ONDE ANDA VOCÊ, MARIA DE FÁTIMA ???” - José
Nilton Mariano Saraiva
Em Fortaleza, num
desses ambientes onde se reúnem mulheres a serem cortejadas, ela era
unanimidade e compreensivelmente para ela convergiam os olhares, as fantasias e
os corações daqueles alegres e falantes marmanjos, todos já “encharcados” de
álcool até o gogó.
Assim, presumindo
que com o nosso estilo discreto e reflexivo dificilmente conseguiríamos algo
ante tantas feras de porte atlético privilegiado e verborragia (teoricamente)
envolvente, preferimos ficar na nossa, observando o ambiente, curtindo o som e
“deglutindo” uma geladinha.
De repente, às
nossas costas, aquele toque suave e discreto no ombro; e, ao virarmos pra
conferir, deparamo-nos com o mais belo (embora tímido) sorriso que alguém possa
imaginar, seguido da sussurrada e inolvidável indagação: “E você, não quer
ficar comigo ???”.
Foi assim que
conhecemos a meiga Maria de Fátima. Altura mediana, clara, cabelos castanhos,
olhos discretamente ao estilo japonês, nariz perfeito, dentes impecavelmente
alvos, lábios carnudos e... “cheinha”. Já no quarto, ao desnudar-se, uma
arrebatadora e deslumbrante visão, digna de ser retratada por um desses
pintores clássicos, e posta num pedestal pra ser admirada por gregos e
troianos: seios medianos e rijos, cintura fina, coxas firmes e pra lá de
torneadas. Enfim, tudo no lugar. Uma deusa da perfeição.
Super-carinhosa,
fala mansa, conversa aprumada, de pronto bateu aquela sinergia entre nós. A
ponto de, ainda na cama, lhe indagarmos (com sinceridade d’alma) a “razão” ou o
“por que” de uma mulher tão bela e educada frequentar um local daqueles; de
onde ela era; de qual família e por aí vai. Surpresa, ela afirmou que era
a primeira vez que alguém fazia tais tipos de perguntas pra ela, que nunca
alguém procurara saber da sua intimidade, que, enfim, encontrara alguém
“diferente”.
Pra encurtar a
conversa: de livre e espontânea vontade ela não aceitou qualquer “pagamento” e,
na segunda vez que a procuramos ela simplesmente largou tudo, sob protestos da
cafetina, e fomos curtir a vida em pleno dia, terminando por encontrar abrigo
em nosso apartamento de solteiro (onde ela aprendeu, a partir de então e
durante meses, a dormir “empacotada” em nossas camisas de seda – de mangas
longas - que achava... ”gostosas”).
Em represália,
fomos proibidos de adentrar o tal ambiente, já que os “seguranças” tinham ordem
expressa de “baixar a cacete”, se fosse necessário; então, conjuntamente, arquitetamos
que bastariam dois toques na buzina pra que ela “se mandasse” dali. E assim foi
feito, a partir dali.
Foram meses de felicidade plena, durante os quais frequentávamos, de mãos dadas e sorriso no rosto, qualquer lugar que “desse na telha”, sem nenhum constrangimento de encontrar algum desses barões que com ela houvesse se relacionado.
Mas...
De repente, a meiga Maria de Fátima sumiu, evaporou-se, tomou Doril, escafedeu-se, deixando-nos literalmente na orfandade (deve ter havido algo de sério e grave, que jamais saberemos).
Hoje, apesar de
casado (em processo de separação) e com dois belos filhos já adultos, tal qual
os William Bonner da vida não cansamos de (mentalmente) perguntar:
Onde anda você,
Maria de Fátima ???
Quantas saudades...
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