"UM SÓ POVO, UMA SÓ NAÇÃO CARIRI" - José Nilton Mariano Saraiva
Se, enquanto teoria, a criação e implantação da Região Metropolitana do Cariri conseguiu ludibriar muita gente, através da propagação de mentiras e devaneios mil, na prática, a partir do momento em que passou a ser operacionalizada, converteu-se em um colossal embuste, uma farsa sem tamanho, uma nua, crua e indigesta realidade, principalmente para os cratenses.
Fato é que, para camuflar a escolha de uma única cidade (Juazeiro do Norte) como receptora preferencial dos investimentos governamentais ao sul do Ceará (assim como o fizera com Sobral, ao norte), o Governo do Estado contou com uma legião de treinados e amestrados “multiplicadores” (deputados estaduais da sua base de sustentação, secretários de Estado e meia dúzia de cratenses babacas, escorregadios e cooptados) que, hipócrita e irresponsavelmente, saíram às ruas a dourar a pílula, alardeando, difundindo e propagando as futuras benesses advindas da criação da Região Metropolitana do Cariri.
Só que (em razão da falta de representatividade política da nossa cidade), internamente, entre quatro paredes, já havia a determinação política em se evitar a pulverização dos investimentos governamentais entre as diversas cidades da Região do Cariri (todas desprovidas do “componente político”), centrando-os em uma só urbe, na mafiosa perspectiva que os benefícios fluiriam e se espraiariam entre as demais comunidades (e naquela ocasião, alertamos aqui sobre o perigo da passividade com que aquela “conversa mole” passara a ser digerida, o que nos valeu diversos rótulos desabonadores: bairrista, conservador, retrógrado e tal).
Mas foi assim, verbalizando tão “incrível lorota” diuturnamente (em alto e bom som), e valendo-se de um pseudo “regionalismo alavancador do progresso", que foram criados e passaram a operar em Juazeiro do Norte (e só em Juazeiro, pt saudações) o Aeroporto Regional de Cariri, o Hospital Regional do Cariri, a sede Regional da Receita Federal, a Universidade Federal do Cariri, a Delegacia Regional da Polícia Federal, a unidade Regional da Receita Federal e tudo o mais que pudesse ser rotulado de “regional”.
Assim, castrando e obstaculando qualquer tentativa de descentralização, tudo tinha obrigatoriamente que ser em Juazeiro (posteriormente, na esteira do prestígio chancelado pela preferência governamental, a instalação de empreendimentos privados foi apenas consequência).
Quanto às demais cidades da região (inclusive e principalmente o Crato), ficaram a ver navios, a esperar por quem não ficou de vir, e tendem à estagnação absoluta, à involução, a virarem meros satélites errantes a vagar sem rumo e sem norte na órbita juazeirense (com todas as consequências nefastas daí advindas).
O mais estapafúrdio nisso tudo é que, à época da criação da tal Região Metropolitana do Cariri, por deslavada conveniência política, falta de justificativa consistente para esconder o marasmo administrativo, ou mesmo na vã tentativa de justificar o injustificável, alguns (maus) cratenses, inclusive e principalmente suas autoridades constituídas (que deveriam, sim, ser responsabilizadas pelo estágio a que chegamos), convencionaram e passaram a adotar o cretino bordão de que, como éramos “UM SÓ POVO, UMA SÓ NAÇÃO CARIRI”, o progresso e a aura desenvolvimentista viriam de forma equânime, igualitária, simétrica (e ai de quem ousasse pensar diferente).
Deu no que deu. E como o esvaziamento do Crato é notório e acachapante, hoje, hipocritamente, as mesmas autoridades e formadores de opinião que engoliram o bolo sem mastigar, que teceram loas àquela criminosa ação governamental, que se deixaram bovinamente estuprar intelectualmente, que se extasiaram com o canto da sereia, e que covardemente, sim, se omitiram em questões cruciais, posam de indignados, choram ante as câmeras, manifestam surpresa sobre os rumos da Região Metropolitana do Cariri, reclamam do tratamento “desigual” a que foram submetidos Crato e as demais cidades da região. Pura hipocrisia, deplorável jogo de cena, falsidade em estado absoluto e latente.
E Juazeiro do Norte, que nasceu, cresceu e marombou-se à sombra de um monumental e grande embuste, uma farsa pra lá de grotesca (o risível “milagre da hóstia”), continua adotando e valendo-se do mesmo heterodoxo “modus operandi”, da mesma estratégia suspeita de tramar na calada da noite, que o catapultou à condição de centro receptor de tudo que provém do poder central estadual e federal (com a inestimável colaboração do “componente político”). Assim e lamentavelmente, por omissão e semvergonhice das suas ditas “autoridades competentes”, tornamo-nos, sim, uma mera “cidade dormitório”.
Só que o pior está por vir (recortem, guardem e nos cobrem depois o que aqui afirmamos): dentro de bem pouco tempo a área geográfica do Crato será substancialmente subtraída em proveito, principalmente, de… Juazeiro do Norte. Falta só o bater do martelo, Portanto, que quando isso ocorrer não se constitua nenhuma surpresa: afinal, não somos “UM SÓ POVO, UMA SÓ NAÇÃO CARIRI” ???
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Post Scriptum:
O texto acima foi postado anos atrás, mas merece ser reprisado. É que estivemos no Crato nesses dias e ficamos assustados com o estado lamentável em que se encontra a outrora decantada Princesa do Cariri. Na oportunidade, assistimos na TV e lemos nos blogs da vida, reportagem/artigo sobre a lamentável e triste realidade da nossa Rodoviária, hoje cartão postal emblemático do descaso e inoperância administrativa. E não dá pra entender que, em sendo o Governador do Estado um cratense, não se consiga pelo menos construir um outro terminal rodoviário (que, diga-se de passagem, foi objeto de uma nossa postagem lá pelos idos de 2013).
Com relação à anexação de parte de nosso território para a cidade vizinha, o processo já começou, lá pelo sítio São José (segundo nos confidenciou uma fonte fidedigna e insuspeita).
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