TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 27 de outubro de 2007

Imagens, fatos e idéias nos céus do Rio de Janeiro





As lentes frias da filmadora, atrás delas as mãos nervosas do cinegrafista. Dois jovens desesperados descendo, na velocidade que suas pernas permitem, um morro através de um capinzal, quedas aqui e ali, até serem abatidos pelos projéteis assassinos do helicóptero excitado sobre eles. No helicóptero as mãos nervosas de policiais desempenhando o papel insano da violência. Ou seja, da banalidade do mal.
No dia seguinte: mídia e o governo do Rio de Janeiro traduzem o desdobra o mal, como visualizou Norberto Bobbio ao refletir o século 20 do Holocausto Nazista, em dois: o mal ativo exercido pela prepotência sem limites do poder e o mal passivo daqueles que cumprem uma pena sem culpa. O poder e seus agentes que praticam ordem sem reflexão.
A conclusão: o Governo se associou aos cânones do totalitarismo cuja meta é a erradicação da ação humana, tornando os seres humanos supérfluos e descartáveis.



As imagens torrenciais das chuvas dissolvendo as encostas do Túnel Rebouças aprisionam os transeuntes da Cidade Maravilhosa. Ao final daquele dia, as ruas em lados extremos. No centro da cidade um nó cego infartou o movimento daqueles que pretendiam voltar para o domicílio residencial. Na zona sul o trânsito como aos domingos, livre e solto, os avisados de última hora não saíram de casa.
Nos dias seguintes o trânsito da zona sul voltou ao que era há 40 anos, com milhares de carros a mais. Um pântano de abandono, assaltos, saques, insulamento pelas águas, bares cheios dos que tanto esperaram. Uma autoridade da defesa civil avisa: quem estiver em área de risco deve sair o mais rápido possível. O prefeito elenca culpas: de uma adutora da CEDAE (companhia de águas e esgoto) até o "só quem sentiu foram os donos de carros" (apontando para o individualismo deste transporte). Os "classe média" do asfalto adiantaram o laudo técnico, acusaram a bosta e o mijo dos "classe média" moradores da Favela do Cerro Corá. Ps. favelado não tem mentalidade e sonhos de operários ou de lúmpens como tantos cristalizaram, mas os valores de uma pequena classe média.
Nestes dias, o fato que obstruiu o livre transitar se explicou com todo o léxico e o conteúdo discursivo de uma sociedade injusta e de um poder promotor de injustiças.



As manchetes dos jornais do Rio de Janeiro desvendaram a real face do poder instituído. E que face as manchetes revelaram?
A instigação da violência pela hipocrisia, dissimulada em bandeiras da modernidade. O governador do Rio cometeu um ato falho. De classe social com enfeites de uma Daslu da vida. Como sabemos: os que ocupam os estratos mais avançados da sociedade brasileira têm a mentalidade escravocrata, o corpo mulato e se vestem de grifes. A frase destacada nos jornais. Com o enfeite da modernidade, o aborto e o controle da natalidade, o governador, no calor dos assassinatos por efeito colateral de sua política de ataque às favelas, advogou a morte dos filhos das pessoas que moram na Rocinha, antes mesmo do parto. Não basta caçar os que já nasceram.

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