Assunção Gonçalves mostra foto da imagem barroca, estilo bizantino, de Nossa Senhora das Dores, que veio de Portugal para Juazeiro do Norte (Foto: Elizângela Santos)
Juazeiro do Norte. Uma devota da Mãe das Dores que conviveu com o Padre Cícero Romão Batista. Maria Assunção Gonçalves, aos 93 anos, tem na vaga lembrança momentos da história de uma cidade que iniciava o seu povoamento. Nos quadros da artista plástica, na sala de casa, um resgate dos antepassados de uma cidade que daqui a mais de dois anos completa o seu centenário. As vilas antigas, o local da capelinha que deu origem ao Santuário de Nossa Senhora das Dores, a partir de amanhã elevada a Basílica Menor.
A pequena Vila que nasce sob as orações de Nossa Senhora das Dores se torna um dos maiores centros de religiosidade do País. A imagem que veio de Portugal é guardada na casa paroquial. Mas, dona Assunção guarda a foto da imagem barroca, estilo bizantino, com carinho. Foram 10 anos de convivência com o Padre Cícero. A única remanescente é testemunha de um trabalho do sacerdote, também devoto da santa. Uma contribuição importante para disseminar a crença por todo o Nordeste brasileiro.
Dona Assunção foi desenganada ao nascer. Todos pensavam que não iria escapar. O batismo foi feito pelo Padre Cícero. As lembranças vêm de um homem, para ela, visionário. Previa os lugares de cada coisa. Da pequena viela o sacerdote já falava numa cidade sem tamanho, que iria crescer de uma forma inimaginável. Ela se admira de uma das coisas que o “Padim” falou de que numa das áreas da cidade existiriam vários cemitérios. Isso hoje é uma realidade. Em um dos bairros distantes de Juazeiro, são quatro, além do cemitério do Socorro, vizinho à capela onde estão depositados os restos mortais do sacerdote.
São lembranças perdidas no pensamento. Dona Assunção já não gosta de dar tantas entrevistas por conta disso. É um esforço, mas se alegra sempre ao lembrar dos momentos passados e hoje a confirmação do que o Padre Cícero falava. Houve momento de uma dedicação maior pelos registros em suas telas da história de Juazeiro. Dos homens simples, dos romeiros. Era um esforço poder produzir esses trabalhos. Recorria sempre à memória de sua mãe e da avó. Mas vinha na ponta dos pincéis os mínimos detalhes — desde bancos em frente à casa alpendrada do brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro aos momentos de alegria dos moradores, época vivenciada na localidade.
E foi o brigadeiro o responsável pela aquisição da imagem de Nossa Senhora das Dores, em Lisboa, Portugal. Padre Cícero, ao chegar em Juazeiro do Norte, em 1877, já encontrou a capela com a imagem. A atual igreja teve sua pedra fundamental lançada em 15 de setembro de 1925. Daí nasceu à devoção. A capela foi feita com a finalidade do neto do brigadeiro, padre Pedro Ribeiro, celebrasse missas na vila.O escritor cratense Armando Rafael, amigo de dona Assunção, destaca a importância da Mãe das Dores para os nordestinos. “Se tivesse concurso de um santo para ser padroeiro da nação nordestina, seria eleita Nossa Senhora das Dores”, diz ele, ao completar que foi o Padre Cícero o grande responsável pela devoção à santa no Nordeste brasileiro.
Há a grande identificação com o sofrimento do sertanejo, com as dores dos fiéis.Dona Assunção tem guardado em sua biblioteca particular um livro de Amália Xavier de Oliveira, “O Padre Cícero que eu Conheci: verdadeira história de Juazeiro do Norte”. Nele, a oração do sacerdote, conforme Armando Rafael, responsável pelo fortalecimento e propagação de Nossa Senhora das Dores: “Mãe de Deus, Mãe Soberana, Mãe das Dores. De hoje para sempre eu me entrego a vós como vosso filho e servo. Consagro ao vosso serviço minh´alma...”.
Nos momentos de maior aflição dona Assunção revela que foi buscar na Mãe das Dores o refúgio. Descendente do brigadeiro, tem no sangue a devoção de família. Ela lembra da dedicação do então padre Murilo de Sá Barreto, nesse momento em que há um crescimento da Igreja, com a Basílica. Foram 48 anos dedicados ao trabalho missionário em Juazeiro, à frente da Matriz. Um dos momentos em que dona Assunção estava na igreja, no ano de 1965, ouviu um sonoro “viva o Padre Cícero”, do padre Murilo. Nesse momento ficou aflita achando que ele seria expulso da igreja por aquela atitude se o bispo tomasse conhecimento. Ao conversar, ele afirmou que não faria aquilo sem antes avisar ao bispo.Foram gritos de resistência dentro da própria igreja. Atitudes que se manifestam hoje na expansão da fé romeira.
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