Basílica Menor de Nossa Senhora das Dores, em Juazeiro do Norte
A exemplo da maioria das cidades brasileiras de antanho, Juazeiro do Norte também nasceu em torno de um templo católico. A propósito, Renata Marinho Paz escreveu:
Muitos sítios, fazendas e aldeamentos edificados nessa época deram origem a vilarejos e cidades. Era comum o costume de se erigir capelas e igrejinhas em torno das quais iam se juntando algumas casas, formando pequenos povoados que, aos poucos, se transformavam em cidades. Barbalha, Crato e Juazeiro, atualmente os principais municípios da região do Cariri, surgiram desta maneira.
(PAZ, 2004:11-12)
Por sua vez, a escritora Amália Xavier de Oliveira, na “plaquete” Conheça o Cariri, assim descreveu os primórdios desta cidade:
Os terrenos onde foi fundada a grande cidade que é hoje Juazeiro do Norte pertenciam a um cidadão chamado Leandro Bezerra Monteiro, militante do Exército Nacional, no qual tinha o posto de Brigadeiro. Estes terrenos constituíam uma imensa planície coberta de pastagens férteis e abundantes. Árvores de grande porte formavam densas matas.
O proprietário, o Brigadeiro, era possuidor de muitas terras na região; residia no sítio “Moquém” perto do Crato, onde tinha um engenho de fabricar rapadura. Para fazer sua criação de gado, escolheu os terrenos que iam em direção da Serra de São Pedro, hoje Caririaçu.
Havia, naquela planície, uma ligeira elevação do terreno perto da serra Catolé, às margens do rio Salgadinho. Ali, o Brigadeiro construiu a Casa da fazenda, que recebeu o nome de “Tabuleiro Grande”. Ao redor da Casa Grande da fazenda, os escravos foram construindo suas casas; vizinho a casa, construiu um aviamento para a fabricação da farinha de mandioca, de que havia grande cultura nos tabuleiros. Entre as árvores que circundavam o aglomerado de casas dos escravos, havia 3 juazeiros frondosos, de copas quase unidas, formando uma sombra acolhedora. Ali, os transeuntes que viajavam de Missão Velha, Barbalha, São Pedro, indo para a feira do Crato, procuravam abrigar-se. E combinavam: “Vamos botar a baixo (tirar as cargas para repouso) lá nos juazeiros. Daí a corruptela: vamos descansar no Juazeiro. (OLIVEIRA, Sem data, 3-4).
A mesma Amália Xavier de Oliveira, noutro escrito de sua autoria, O Padre Cícero que eu conheci, esclareceu o que motivou a construção da capela na fazenda Tabuleiro Grande:
Ordenara-se Sacerdote o Pe. Pedro Ribeiro de Carvalho, neto do Brigadeiro, porque filho de sua primogênita, Luiza Bezerra de Menezes, e de seu primeiro marido, o Sargento-mor Sebastião de Carvalho de Andrade, natural de Pernambuco. Para que o padre pudesse celebrar diariamente, sem lhe ser necessário ir a Crato, Barbalha ou Missão Velha, a família combinou com o novel sacerdote a ereção de uma capelinha, no ponto principal da Fazenda, perto da casa já existente. (OLIVEIRA, 1981:33-34).
A Capela foi consagrada a Nossa Senhora das Dores, cuja imagem foi trazida de Portugal”. (id.: 35).
Amália complementou as informações acima, citando Irineu Pinheiro, autor do livro Efemérides do Cariri:
“Quem ler “O Sul do Ceará”, hebdomadário cratense, de 16 de abril de 1905, lerá, em artigo assinado por José Joaquim de Maria Lobo, ter sido assentada a Pedra Fundamental da Capela de Nossa Senhora das Dores de Juazeiro do Norte, em 15 de setembro de 1827, havendo Missa cantada na casa de Oração pelo Padre Ribeiro Monteiro (o mesmo que também assinava Carvalho)...” (OLIVEIRA, 1981: 34-35).
O fundador da povoação de “Joaseiro”
Alguns autores insistem, erroneamente, em atribuir ao Padre Cícero Romão Batista a fundação de Juazeiro do Norte. Pelas informações – acima citadas – concluímos que foi o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro o fundador do núcleo primitivo, origem da atual cidade. Deve-se ao Brigadeiro Leandro a iniciativa da primeira urbanização da localidade – ainda conhecida por Tabuleiro Grande – com a edificação da Casa Grande, capela, residências para os escravos e agregados da família.
A realidade histórica nos mostra: quando o Padre Cícero chegou ao “Joaseiro”, para fixar residência, em 11 de abril de 1872, já encontrou um povoado formado em torno da capelinha de Nossa Senhora das Dores. Contava o lugarejo, à época da chegada deste sacerdote, com 35 residências, quase todas de taipa, espalhadas desordenadamente por duas pequenas ruas, conhecidas por Rua do Brejo e Rua Grande. No povoado, à época da chegada do Padre Cícero, residiam cinco famílias, tidas como a elite do vilarejo: Bezerra de Menezes, Sobreira, Landim, Macedo e Gonçalves.
É verdade, porém, que o povoado só veio a ter alguma projeção a partir da ação evangelizadora do Padre Cícero. E o vertiginoso crescimento demográfico da localidade só começou em 1889, motivado pela ocorrência dos fatos protagonizados pela beata Maria de Araújo, que passaram à história como “O Milagre da Hóstia”.
A primitiva imagem da Mãe das Dores
A imagenzinha de Nossa Senhora das Dores – adquirida pelo Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, em Portugal – foi venerada como padroeira da Fazenda Tabuleiro Grande e do povoado de “Joaseiro” por cerca de 60 anos. Zélia Pinheiro, escrevendo – no opúsculo Sesquicentenário de Fé – sobre a inauguração, em 19 de agosto de 1884, da nova capela de “Joaseiro”, esta já construída pelo Padre Cícero, em substituição à primitiva, edificada pelo Brigadeiro, narra:
(...) Continuava como Padroeira Nossa Senhora das Dores e fora colocada no Altar a mesma imagem trazida de Portugal para a Capelinha da Fazenda Tabuleiro Grande. Era uma imagem em estilo bizantino, de madeira, muito bem esculpida, tendo setenta e cinco centímetros de tamanho e permaneceu no Altar-Mor até setembro de 1887, quando foi trocada pela imagem que até hoje está lá. (PINHEIRO, 1977:26).
Bom esclarecer que a atual imagem, adquirida pelo Padre Cícero, substituta da primeira, somente chegou a Juazeiro em 1887, proveniente da França. A pequena imagem primitiva de Nossa Senhora das Dores, chamada antigamente pelo povo de “Carita”, encontra-se em perfeito estado de conservação. Ela, por questão de segurança, é guardada na Casa Paroquial. Geralmente é exposta à veneração dos fiéis nas duas grandes procissões anuais: a de 2 de fevereiro (Nossa Senhora das Candeias) e 15 de setembro (Nossa Senhora das Dores).
Armando Lopes Rafael
Referências Bibliográficas:
OLIVEIRA, Amália Xavier de. Conheça o Cariri. Crato: Tipografia e Papelaria do Cariri, sem data. 16 p.
OLIVEIRA, Amália Xavier de. O Padre Cícero que eu conheci: verdadeira história de Juazeiro do Norte. 3 ed. Recife: Editora Massangana, 1981. 332 p.
PAZ, Renata Marinho. Cariri, campo fértil da religiosidade popular. In: Tendências – Caderno de Ciências Sociais. V.2 – n° 1. Universidade Regional do Cariri. Crato (CE), 2004.
PINHEIRO, Zélia. Sesquicentenário de Fé – Juazeiro do Norte – Ceará – 1827 a 1977. Crato (CE): Empresa Gráfica Ltda, 1977. 50 p.
Muitos sítios, fazendas e aldeamentos edificados nessa época deram origem a vilarejos e cidades. Era comum o costume de se erigir capelas e igrejinhas em torno das quais iam se juntando algumas casas, formando pequenos povoados que, aos poucos, se transformavam em cidades. Barbalha, Crato e Juazeiro, atualmente os principais municípios da região do Cariri, surgiram desta maneira.
(PAZ, 2004:11-12)
Por sua vez, a escritora Amália Xavier de Oliveira, na “plaquete” Conheça o Cariri, assim descreveu os primórdios desta cidade:
Os terrenos onde foi fundada a grande cidade que é hoje Juazeiro do Norte pertenciam a um cidadão chamado Leandro Bezerra Monteiro, militante do Exército Nacional, no qual tinha o posto de Brigadeiro. Estes terrenos constituíam uma imensa planície coberta de pastagens férteis e abundantes. Árvores de grande porte formavam densas matas.
O proprietário, o Brigadeiro, era possuidor de muitas terras na região; residia no sítio “Moquém” perto do Crato, onde tinha um engenho de fabricar rapadura. Para fazer sua criação de gado, escolheu os terrenos que iam em direção da Serra de São Pedro, hoje Caririaçu.
Havia, naquela planície, uma ligeira elevação do terreno perto da serra Catolé, às margens do rio Salgadinho. Ali, o Brigadeiro construiu a Casa da fazenda, que recebeu o nome de “Tabuleiro Grande”. Ao redor da Casa Grande da fazenda, os escravos foram construindo suas casas; vizinho a casa, construiu um aviamento para a fabricação da farinha de mandioca, de que havia grande cultura nos tabuleiros. Entre as árvores que circundavam o aglomerado de casas dos escravos, havia 3 juazeiros frondosos, de copas quase unidas, formando uma sombra acolhedora. Ali, os transeuntes que viajavam de Missão Velha, Barbalha, São Pedro, indo para a feira do Crato, procuravam abrigar-se. E combinavam: “Vamos botar a baixo (tirar as cargas para repouso) lá nos juazeiros. Daí a corruptela: vamos descansar no Juazeiro. (OLIVEIRA, Sem data, 3-4).
A mesma Amália Xavier de Oliveira, noutro escrito de sua autoria, O Padre Cícero que eu conheci, esclareceu o que motivou a construção da capela na fazenda Tabuleiro Grande:
Ordenara-se Sacerdote o Pe. Pedro Ribeiro de Carvalho, neto do Brigadeiro, porque filho de sua primogênita, Luiza Bezerra de Menezes, e de seu primeiro marido, o Sargento-mor Sebastião de Carvalho de Andrade, natural de Pernambuco. Para que o padre pudesse celebrar diariamente, sem lhe ser necessário ir a Crato, Barbalha ou Missão Velha, a família combinou com o novel sacerdote a ereção de uma capelinha, no ponto principal da Fazenda, perto da casa já existente. (OLIVEIRA, 1981:33-34).
A Capela foi consagrada a Nossa Senhora das Dores, cuja imagem foi trazida de Portugal”. (id.: 35).
Amália complementou as informações acima, citando Irineu Pinheiro, autor do livro Efemérides do Cariri:
“Quem ler “O Sul do Ceará”, hebdomadário cratense, de 16 de abril de 1905, lerá, em artigo assinado por José Joaquim de Maria Lobo, ter sido assentada a Pedra Fundamental da Capela de Nossa Senhora das Dores de Juazeiro do Norte, em 15 de setembro de 1827, havendo Missa cantada na casa de Oração pelo Padre Ribeiro Monteiro (o mesmo que também assinava Carvalho)...” (OLIVEIRA, 1981: 34-35).
O fundador da povoação de “Joaseiro”
Alguns autores insistem, erroneamente, em atribuir ao Padre Cícero Romão Batista a fundação de Juazeiro do Norte. Pelas informações – acima citadas – concluímos que foi o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro o fundador do núcleo primitivo, origem da atual cidade. Deve-se ao Brigadeiro Leandro a iniciativa da primeira urbanização da localidade – ainda conhecida por Tabuleiro Grande – com a edificação da Casa Grande, capela, residências para os escravos e agregados da família.
A realidade histórica nos mostra: quando o Padre Cícero chegou ao “Joaseiro”, para fixar residência, em 11 de abril de 1872, já encontrou um povoado formado em torno da capelinha de Nossa Senhora das Dores. Contava o lugarejo, à época da chegada deste sacerdote, com 35 residências, quase todas de taipa, espalhadas desordenadamente por duas pequenas ruas, conhecidas por Rua do Brejo e Rua Grande. No povoado, à época da chegada do Padre Cícero, residiam cinco famílias, tidas como a elite do vilarejo: Bezerra de Menezes, Sobreira, Landim, Macedo e Gonçalves.
É verdade, porém, que o povoado só veio a ter alguma projeção a partir da ação evangelizadora do Padre Cícero. E o vertiginoso crescimento demográfico da localidade só começou em 1889, motivado pela ocorrência dos fatos protagonizados pela beata Maria de Araújo, que passaram à história como “O Milagre da Hóstia”.
A primitiva imagem da Mãe das Dores
A imagenzinha de Nossa Senhora das Dores – adquirida pelo Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, em Portugal – foi venerada como padroeira da Fazenda Tabuleiro Grande e do povoado de “Joaseiro” por cerca de 60 anos. Zélia Pinheiro, escrevendo – no opúsculo Sesquicentenário de Fé – sobre a inauguração, em 19 de agosto de 1884, da nova capela de “Joaseiro”, esta já construída pelo Padre Cícero, em substituição à primitiva, edificada pelo Brigadeiro, narra:
(...) Continuava como Padroeira Nossa Senhora das Dores e fora colocada no Altar a mesma imagem trazida de Portugal para a Capelinha da Fazenda Tabuleiro Grande. Era uma imagem em estilo bizantino, de madeira, muito bem esculpida, tendo setenta e cinco centímetros de tamanho e permaneceu no Altar-Mor até setembro de 1887, quando foi trocada pela imagem que até hoje está lá. (PINHEIRO, 1977:26).
Bom esclarecer que a atual imagem, adquirida pelo Padre Cícero, substituta da primeira, somente chegou a Juazeiro em 1887, proveniente da França. A pequena imagem primitiva de Nossa Senhora das Dores, chamada antigamente pelo povo de “Carita”, encontra-se em perfeito estado de conservação. Ela, por questão de segurança, é guardada na Casa Paroquial. Geralmente é exposta à veneração dos fiéis nas duas grandes procissões anuais: a de 2 de fevereiro (Nossa Senhora das Candeias) e 15 de setembro (Nossa Senhora das Dores).
Armando Lopes Rafael
Referências Bibliográficas:
OLIVEIRA, Amália Xavier de. Conheça o Cariri. Crato: Tipografia e Papelaria do Cariri, sem data. 16 p.
OLIVEIRA, Amália Xavier de. O Padre Cícero que eu conheci: verdadeira história de Juazeiro do Norte. 3 ed. Recife: Editora Massangana, 1981. 332 p.
PAZ, Renata Marinho. Cariri, campo fértil da religiosidade popular. In: Tendências – Caderno de Ciências Sociais. V.2 – n° 1. Universidade Regional do Cariri. Crato (CE), 2004.
PINHEIRO, Zélia. Sesquicentenário de Fé – Juazeiro do Norte – Ceará – 1827 a 1977. Crato (CE): Empresa Gráfica Ltda, 1977. 50 p.
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