TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 11 de janeiro de 2009

Antigo Irish Pub

O equilíbrio é um disfarce. Que some ao primeiro olhar mais atento no espelho. Ou a primeira conversa franca com alguém que sabe aonde as cobras dormem. Ainda que eu segure a onda, ajeite os cabelos para trás, deixe o cigarro queimar no cinzeiro e tome cerveja quente com alguma polidez.

O riso frouxo não se sustenta e a velha fúria reivindica seu lugar. O silêncio começa a pesar. Como algo absoluto. Única forma justificável de se dizer algo – a banda já detona qualquer probabilidade de espaços vazios no tal bar de nome engraçado, onde o garçom tem cara de gringo e as pessoas dançam como se fosse o fim dos tempos; mas minha velha alma silencia.

Faço um breve apanhado do que possuo: quase nada. Uso a matemática da desvantagem pra justificar onde estou. Justifico também a grana investida nos cigarros e nas latinhas de cerveja, bem como a presença ilustre de amigos que insistem em sonhos de rock and roll.

Mais uma vez o rosto no espelho dá um toque: use o tempo a seu favor, ele diz, não queira os motivos certos para fazer valer a dor ou a sublime busca dos seus absurdos; não busque contar desvantagens, apenas encare seu filho em dias de sol a pino e conte a ele como você vê o mundo; procure em casa o que te agrada - livros, fumo; ou então faça a noite ficar branca; recupere as vontades esquecidas; coloque as mãos nos bolsos em dias de frio e se proteja de quem te quer de outro jeito.

E uma chuva fina se insinua nas janelas do bar. Os poucos rapazes e garotas, com seus mohicanos e coturnos cheios de lama, entram. Eu conto minha grana e sigo em frente.

Numa resignação quase feliz, atravesso o Pelourinho. Como quem aceita um destino inevitável. Porque sei que as verdades nunca são definitivas. E compreendo o que meu rosto e meu olhar me dizem, enquanto corro pra alcançar o último ônibus. Enquanto as coisas parecem ruir, junto com às fachadas sonolentas do centro histórico.

Um comentário:

Lupeu Lacerda disse...

retrato? cena de filme? pulp fiction do caralho? pelô ano 2029, o fantasma de acm passeia em camisetas com dizeres fascistas. irish pub pubiano. boceta do mundo. igual e diferente em todo lugar. eu como com coentro. e o rock pulula em minhas retinas de quarenta e três degraus. que tudo caia. que tudo raio. que tudo maia. você é um repórter gonzo de um tempo fodido e sem freios.