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sexta-feira, 27 de março de 2009

A perda da consciência do tempo histórico.

Em sua obra, O desafio e o fardo do tempo histórico: o socialismo no século XXI. São Paulo: Boitempo, 2007, o filósofo István Mészáros aborda o problema da perda da consciência do tempo histórico.

Para Mészáros, um exame dos desenvolvimentos teóricos do último século e meio revela que a concepção histórica ilustrada da tradição filosófica burguesa deu lugar ao ceticismo e ao pessimismo, cada vez mais difundidos. Todas as conquistas genuínas da tradição do Iluminismo no campo da teoria da história foram completamente subvertidas: no Iluminismo procurou-se traçar uma linha significativa entre a natureza que rodeia o ser humano e o mundo da interação societária produzido pelo homem, para tornar inteligíveis as especificidades, regidas por regras, do desenvolvimento sócio-histórico que emergem da busca dos objetivos humanos.

Levarmos em conta que a difusão do pessimismo e do ceticismo é atuante e desagregadora é o primeiro passo para refutarmos a idéia do presente eterno contida muitas vezes nessas duas posturas.

A História tem um caráter radicalmente ilimitado, onde é repelido todo o desfecho ideológico determinista. Todo processo e estágio específico levado a cabo pela determinação histórica é apenas histórico.

Para o professor Mészáros, houve nas últimas décadas um trinufalismo e a celebração das virtudes míticas de uma sociedade de mercado idealizada. Foi feito um uso propagandístico apologético a que serviu o conceito de um mercado totalmente fictício e o “fim da história” sob a hegemonia nunca mais desafiável dos princípios capitalistas liberais.

Mais eis que a História prega uma peça e insiste em se afirmar e mostrar a todos a que tentativas grosseiras de parar o relógio do tempo são infrutíferas. "Tudo o que é sólido desmancha no ar" não é apenas um slogan.

A aposta na máxima kantiana da "política moral" combinada com a ação de um "espírito comercial" não atingiu o que seus apologistas esperavam.

O ponto de vista do capital é outro, porém, as condições de atuação que se colocam nos dias atuais trazem problemas que se agudizam: irreformabilidade, incontrabilidade e destrutividade.

Alcançar a consciência do tempo histórico em que vivemos é um passo que devemos dar na conquista da plena cidadania.

7 comentários:

Antonio Sávio disse...

"Quando o sr. István Mészáros declara que o capitalismo é totalitário porque obriga todo o mundo a produzir ou morrer, sua condição de acadêmico dispensado da produção para entregar-se a tarefas intelectuais é um flagrante desmentido da afirmativa. Não o seria se ele fosse o único nessa condição. Mas nenhum sistema econômico liberou tanta gente da produção material quanto o capitalismo, criando a mais vasta classe ociosa de todos os tempos, boa parte da qual patrocinada para dedicar-se à atividade sumamente luxuosa de escrever contra o patrocinador.

A conclusão óbvia é que o sr. Mészáros, ao escrever mil páginas sobre a condição sócio-econômica dos outros (Para Além do Capital, Boitempo-Unicamp), não tinha a menor consciência da sua própria condição sócio-econômica, tão significativa, no entanto, para o seu argumento. Chamo isso de paralaxe conceitual: o deslocamento entre o eixo visual do indivíduo real e o da perspectiva que enquanto criador de teorias ele projeta naquilo que escreve. Uma teoria assim concebida é puramente ficcional, no sentido estrito do termo. É a expressão formal de uma possibilidade lógica cujo simples enunciado verbal prova que ela não se realizou. Teorias como essa só podem ser contempladas como obras de arte, com aquela suspension of disbelief que Colerigde exigia do leitor de literatura imaginativa. Inúteis como descrições da realidade, transportam-nos a um universo inventado que tem força persuasiva às vezes superior à de uma descrição da realidade.

No exemplo citado, não se trata de mero argumentum ad hominem, nem de acusar o sr. Mészáros de hipocrisia. Trata-se de enfocar suas idéias à luz do nexo que o próprio marxismo, que as fundamenta, diz existir entre as idéias e a condição social dos homens".
Olavo de Carvalho, Jornal O Globo, 14 de dezembro de 2002.

Anônimo disse...

Apoiado!!! Parafraseando o presidente "Nunca na história desse país" (e de outros cantos tb) se viu tanta ""ociosidade "produtiva"". Para ver isto basta-se percorrer corredores de algumas universidades que se verá pseudo-intelectuais filosofando com baseados, refletindo a realidade sob o sustento de "pai"trocinadores" que vivem sob a égide do capitalismo. Ou será ca"pai"talismo????
Sem dúvida, é importante salientar que é necessario para qulquer tipo de desenvolvimento nacional uma produção intelectual, mas atire a primeira cadeira acadêmica quem nunca viu alguém utilizando essa ideia para se manter na vida mansa???

Unknown disse...

Na verdade o capitalismo expropriou muita gente para que ocorresse a acumulação de capital.
Quem mais expropriou na história não foram regimes intitulados "comunistas", mas a ordem social do capital.

Ensinam até no catecismo, "os ricos cada vez mais ricos e os pobres..."

O "Para além do Capital" eu ainda não comprei, mas chego lá.

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Sávio: a ironia do filósofo Olavo de Carvalho com seu colega de ociosidade é tão primária que dói. Então ambos os ociosos (Olavo e Mészáros)são marcas do capitalismo, só que um é bem agradecido e o outro cospe no prato que comeu (pela visão do Olavo). Enquanto um é o modelo ideal do conformista extasiado com a grandeza de quem o alimenta, o outro ousa criticar sem considerar que só o faz pois é dono de uma ociosidade em que "nenhum sistema econômico liberou tanta gente da produção material quanto o capitalismo". Mas aí o Olavo deu um rabo de arraia em todos nós. Ou melhor dizendo, o Olavo já está datado (2002) e o capitalismo hoje já não é o mesmo. Creia você, meu caro poeta, nem de longe este pensamento tem relação com a triste realidade desta crise econômica que cada vez mais tem a face das grandes tragédias da história. O desemprego em todos os lugares atinge a cifra dos dois dígitos (portanto a ociosidade da lata de lixo); o emprego temporário (da flexibilização anterior) é a grande desgraça do momento pois é o que mais rapidamente some do mapa, mais ainda, no final deste ciclo de fogo a própria estrutura de geração de emprego será menor e terá outra forma, portanto a desgraça irremediável de milhões de trabalhadores. Você sabe que uma das glórias do capitalismo foram os fundos mútuos (onde muita gente apostou seu futuro de renda na aposentadoria), pois bem a gracinha do Olavo não contava que hoje o seu valor já é 50% do que valia. Com isso vemos que os cavaleiros do apocalipso já marcham, com a fome, epidemias sem meios econômicos de combaté-las, guerra regionais e na ponta uma queda geral na renda popular e na poupança das classes médias. Tem mais, cada vez as análises firmam a convição que a recessão será no formato em L ao invés do U. Melhor explicando, não haverá uma queda para depois subir. Será uma queda grande seguida longa linha de base insuficiente para as necessidades da humanidade. As previsões para o terceiro e o quarto trimestre nos EUA são de que os valores das empresas nas bolsas de valores caíam entre 40% e 50%.

Finalmente com todo a atenção que tenho por esta nossa breve convivência aqui no blog, me volto para o anônimo que postou outro tipo de ironia a qual já li noutro comentário de uma postagem tua. A caricatura grosseira das pessoas que se dizem de esquerda e uma raivosa postura em relação aos intelectuais, não sem foco, quase sempre orientada para as universidades e até especificamente para a URCA. Nisso não posso concordar, embora não exima qualquer instituição de crítica, mas neste tipo de manifestação sempre se esconde um outro motivo, aliás jogar Lula como Pilatos no credo é bem típico desta raivosa postura.

Se você me aceita como um navegante neste espaço, e por isso me detenho em falar com você, procure realmente ter independência de pensar, procure uma outra visão, mas ao encontrá-la não se agarre de forma acrítica a ela, pois estarás efetivamente indistinto daquilo que questionar, e creio que na razão da necessária apreensão da realidade do mundo.

Antonio Sávio disse...

Meu caro José há uma série de pontos a analisar em tuas considerações. A mais urgente é sobre sua visão sobre minha pessoa ou, como você mesmo diz: “... procure realmente ter independência de pensar, procure uma outra visão, mas ao encontrá-la não se agarre de forma acrítica a ela, pois estarás efetivamente indistinto daquilo que questionar, e creio que na razão da necessária apreensão da realidade do mundo”, e é justamente por procurar ter independência em meus pensamentos que não concordo neste ponto com tua análise e nem comungo com qualquer cartilha que me dêem para ler, muito menos as que me foram dadas na universidade. Antes que fique aqui taxado como um ingrato, que “cuspiu no prato que comeu” na URCA, infelizmente isso não é verdade. Pelo menos na Geografia, se dependesse da maioria dos professores daquele departamento eu morreria a mingua. Mas com calma vamos por partes. Você diz no começo de sua postagem: “Enquanto um é o modelo ideal do conformista extasiado com a grandeza de quem o alimenta...”. Aí você mostra desconhecer na totalidade a vida e a obra do autor citado uma vez que ele, considerado por muitos como um feroz cão defensor do capitalismo, sofre não raras vezes dificuldades econômicas para tentar manter-se como um intelectual independente das verbas do estado. Outro ponto curioso é quando diz: “Tem mais, cada vez as análises firmam a convicção que a recessão será no formato em L ao invés do U. Melhor explicando, não haverá uma queda para depois subir. Será uma queda grande seguida longa linha de base insuficiente para as necessidades da humanidade”. Quem tem um mínimo conhecimento sobre a história e sobre as teorias nas quais o capitalismo se fundamenta sabe muito bem que esta não é a primeira e nem vai ser a última crise do sistema. Não estou aqui a negar que ela exista, mas não creio em momento algum que ela seja em L como você diz. A intervenção estatal seguindo o modelo intervencionista estabelecido pelo o sr. Keynes é o que mais vemos serem feitos pelo estado, uma vez que sabemos claramente que ele não tem como substituir a as empresas em seu papel social que é fornecer emprego e renda. Sem querer estender mais do que o necessário sei que o que penso tem uma mínima fundamentação do que leio e não estou aqui a ficar deslumbrado, ou de carona nas idéias do Olavo (daqui a pouco sou chamado de olavete, como qualquer coitado que venha a concordar com as idéias dele), mas felizmente existem um bom número de economistas, geógrafos, historiadores e sociólogos que divergem desta visão que mostra “ a razão da necessária apreensão da realidade do mundo”. Eu, de forma humilde, porém liberta, sou um deles. Agradeço o: “... de forma acrítica”.

Unknown disse...

Uma pessoa que fala de "baseados" e usa o anonimato, o que podemos esperar?

Sobre o Olavo de Carvalho, ele realmente não vive do salário do estado, acredito que de nenhum estado. Ele vende suas palestras, vídeos, escreve textos que chama de artigos e também pede contribuições bancárias para continuar vivendo nos Estados Unidos. È quase comovente ver ele solicitando a contribuição no site!

Olavo de Carvalho considera até essa social-democracia brasileira como marxista.

Sobre o Mészáros parece até que ele deu um jeitinho para dar aula na USP, o que não é verdade.

jflavio disse...

Darlan,

Outros pseudo-intelectuais não utilizam os baseados mas outras drogas muito mais perigosas que os deixam totalmente fora da realidade e com risco de overdose.Estes também viveram na maciota por muito tempo, mas agora , numa espécie de síndrome de abstinência , pousam de moralistas e atiram pedras e, pior, utilizam o diáfano manto do anonimato.