Meu estado de plenitude
dura enquanto o corpo
não sente.
Se percebe,
pronto:
é o fim da graça.
Ânsia de vômito.
Dores de cabeça.
Mesmo sóbrio
(sobretudo sóbrio)
os sentidos renegam
o milagre.
Fica na língua
aquela vontade
aquela nódoa
uma tosse
que não passa
nem sai dos pulmões.
Por isso nunca
penso além dos sonhos
ou digo que conheço a felicidade.
Os sonhos, couro de sapo.
A felicidade, o sal lançado sobre.
Meu estado de plenitude
existe enquanto o corpo
dorme.
A alma desperta é a única presença.
Mas basta que sua forma se reflita,
pronto: é o fim da graça.
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