LUIZ GONZAGA DE OLIVEIRA (ou Gonzaguinha) que foi casado com Dona Dasdores, e dos três filhos nascidos batizou-se uma com o nome de Maria de Lourdes de Oliveira. Gonzaguinha, ainda muito jovem, demonstrou talento formidável para captar o cotidiano da nossa cidade em sua Kodak Full Screnn e tornou-se o primeiro fotógrafo profissional do cariri cearense, com uma atuação proficiente que durou de 1885 até 1930. Muitas das suas fotografias são hoje encontradas em exposição no Museu Histórico do Crato e outras, bem guardadas no relicário da família Oliveira feito preciosas jóias, como são as fotos históricas do Cassino Sul-Americano e Seminário São José, que até hoje impressionam. No álbum de família constam “portraits” que muito mais se assemelham a obras de arte de pintores renascentistas. Fotografou também personalidades e famílias ilustres do Crato daquela época em que viveu.
É dito e sabido que no final do Século XIX, artistas de uma companhia de teatro italiana passaram pela cidade do Crato e que entre piruetas, caretas e dramalhões, um número único era o de grande destaque daquela trupe mambembe: a exibição de imagens projetadas por um rudimentar aparelho que tinha o exótico nome de BIOSCÓPIO. Foi então que ali, naquela mesma platéia, que o Gonzaguinha viu, aplaudiu e não sossegou até que soubesse os segredos daquela maquininha estranha e de nome esquisito que projetava imagens “fantasmagóricas” num toldo branco esticado sob a lona do circo. Interessou-se de maneira tal pelo BIOSCÓPIO que do projetista “comprou” todas as informações sobre como adquirir um de igual modelo, disponível somente no sul do país ou, se muita sorte tivesse, na capital alencarina, Fortaleza.
Gonzaguinha, empolgado, não se fez de rogado: dias depois, lá estava o nosso “herói” montado em seu cavalo alazão empreendendo uma aventurosa viagem até a capital cearense. No trote da montaria foram tantos e tantos dias que ficou todo escambichado, mas chegou e, assim que se viu recuperado da exaustão, começou a bater perna pela metrópole litorânea atrás do que viera buscar. Conversa vai e vem com quem era do ramo e descobriu que poderia fazer encomenda de outro equipamento ainda mais moderno. Foi o que fez e esperou mais quinze dias para receber - do Rio de Janeiro!- o que encomendara: a LANTERNA MÁGICA (1), que era uma caixa com lentes que projetava em tamanho ampliado as minúsculas figuras coloridas pintadas sob placas de vidro.
De volta ao Crato com o objeto do seu desejo e todo pabo pela conquista, Gonzaguinha agora queria montar uma sala para que o público pudesse desfrutar daquele ainda exótico lazer e, historicamente, tornar-se o primeiro exibidor da Sétima Arte no Cariri.
O lugar escolhido por Ganzaguinha para a estréia da Lanterna Mágica foi, conforme relatos da época, a sede de uma entidade artística e cultural chamada Clube Romeiros do Porvir, que ficava na Rua Grande, 25 (hoje rua Dr. Miguel Limaverde) e que foi anunciada com estardalhaço pelo próprio empreendedor::
“–É no próximo Domingo, 6 da tarde é a hora, venham todos assistir, aqui na sede dos Romeiros do Porvir, a Lanterna Mágica que ainda é novidade até no sul do país. É bom chegar mais cedo quem quiser ficar sentado porque quem de pé ainda estiver pode cair e não se levantar do susto que vai levar!”
E assim foi, por muitos anos, aquele pequeno salão consagrado por Luiz Gonzaga de Oliveira, o Gonzaguinha, como a primeira sala de exibição de cinema da região.
Em depoimento recente, dado pela neta de Gonzaguinha, Alda Oliveira Fontinele, que carinhosamente o chamava de Vevé, hoje com 94 anos, ela nos contou que: ”...no início a projeção era de imagens colorizadas que às vezes assombravam a platéia. Com o tempo vieram os filmes mesmo, mudo com atores de gestos exagerados e muito maquiados e por aí vai”. Ela lembra ainda da época em que uma trilha sonora era feita ao vivo por um pianista ou uma bandinha de músicos que acompanhava as tensões das cenas. Os filmes se repetiam por várias semanas seguidas, isto porque eles vinham da capital em lombo de burro trazido por um tropeiro que comercializava na cidade do Crato e arredores. As fitas eram negociadas com um distribuidor nordestino que recebia as películas diretamente do Rio de Janeiro.
Luiz Gonzaga de Oliveira faleceu no final do ano de 1930, deixando muitas saudades e um público cratense com gosto bem apurado para a Sétima Arte.
Luiz Carlos Salatiel
NOTA: No programa Cariri Encantado:Protagonistas! às 2 da tarde de hoje, sexta-feira 03 de junho, pelas ondas sonoras da Rádio Educadora do Cariri, Am ,1020 Khz, faremos uma homenagem aos 100 Anos do Cine Paraíso.
Luiz Carlos Salatiel
NOTA: No programa Cariri Encantado:Protagonistas! às 2 da tarde de hoje, sexta-feira 03 de junho, pelas ondas sonoras da Rádio Educadora do Cariri, Am ,1020 Khz, faremos uma homenagem aos 100 Anos do Cine Paraíso.
2 comentários:
Salatiel: esta pergunta já fiz por e-mail ao Zé Flávio. Qual era a fonte de luz das tais lanternas mágicas?
Seriam, possivelmente, a luz de candeeiro queimando azeite ou vela.
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